Vingando o Legado: Viúva Negra
Vingando o Legado: Viúva Negra
“Não é tão complicado. Há muito vermelho na minha conta, e eu quero limpar.”
Mais do que qualquer personagem do Universo Cinematográfico da Marvel, Natasha Romanov sempre foi um livro entreaberto. Sabíamos bastante coisa sobre a personagem, mas não tudo – e isso é justamente um dos motivos que a torna uma das maiores espiãs da ficção.
A vida da Viúva Negra se resume a uma palavra: enigma.
Partindo do pressuposto de que isso significa que sua complexidade está escondida em camadas, temos aqui uma das evoluções mais significativas e certeiras dentro desse mundo povoado por super-heróis e seres cheios de poderes e habilidades especiais.
Muito como o Hulk – motivo pelo qual existe uma conexão romântica entre os dois –, a Viúva Negra é uma personagem ambígua e multidimensional. Contudo, se o maior inimigo de Bruce Banner é o Gigante Esmeralda, o maior inimigo de Natasha Romanov não é outro senão seu próprio passado.
Quando a conhecemos pela primeira vez, tivemos uma das adaptações mais fieis de um personagem da Marvel. Introduzida em Homem de Ferro 2, ela surge como uma secretária para Tony Stark, cheia de habilidades especiais – o tipo de cortejo que obviamente agradaria o bilionário excêntrico. Não foi difícil para o Homem de Ferro (e para o público) não tirar os olhos dela.
Entretanto, ao fim do filme, descobrimos que há um segredo maior por trás de sua presença. Mesmo que os cartazes, trailers e materiais promocionais do filme já tivessem revelado, descobrimos que ela era uma agente secreta enviada pela S.H.I.E.L.D. para tomar conta do playboy e, essencialmente, impedir que ele se matasse de uma maneira irresponsável.
Cenas de ação à parte, aqui tivemos um pequeno gostinho de quem de fato era a Viúva Negra – uma espiã letal, capaz de tudo para cumprir suas missões. Capaz de se disfarçar do modo mais óbvio possível, ainda assim enganando todos ao seu redor por aproveitar a forma com a qual é menosprezada e subestimada.
É uma introdução simples que já serve de fio condutor para o que a personagem nos mostraria no futuro. Entretanto, a primeira participação que realmente nos mostra quem é Natasha Romanov se dá em Os Vingadores, alguns anos depois do segundo filme do Vingador Dourado.
Aqui, sabemos que a heroína continua agindo em missões da S.H.I.E.L.D., lutando contra ditadores estrangeiros. Entretanto, ela logo é convocada à ação quando o Gavião Arqueiro é comprometido durante a invasão de Loki à Terra. Aqui, finalmente, vimos ela levando as coisas para o lado pessoal.
A história de Natasha Romanov com Clint Barton é um dos pontos significativos da carreira da heroína. Por mais que ainda não saibamos muitos detalhes sobre o que aconteceu em seu passado – principalmente em Budapeste –, temos aqui o set-up da história de origem: uma vilã que recebe uma segunda chance de um agente de alto escalão da S.H.I.E.L.D., e então deve sua vida a ele.
Em sua jornada, obviamente ela reencontra rostos familiares (como o Homem de Ferro), além de conhecer outros aliados, como o Capitão América e o Hulk. Não é mentira dizer que Os Vingadores mudou o cenário dos filmes de quadrinhos, e um dos pontos principais é a interligação entre os diversos personagens que compõem esse universo fantástico.
Mesmo não possuindo poderes, a Viúva Negra se vê como um dos maiores recursos dos heróis contra a invasão do Deus da Trapaça e seus Chitauri. A chave para isso está na cena em que ela conversa com Loki, na hora confinado em uma câmara especial designada para conter a força do Hulk.
Na cena, ela não apenas mostra como está disposta a ir até o limite para defender a honra de Barton, como também se mostra uma atacante mais do que capaz, enganando até mesmo aquele que se identifica como o Deus da Mentira.
E na batalha final, ela mais do que entrega isso, conseguindo recuperar o Gavião Arqueiro e partindo para o ataque ao lado de cinco outros heróis, enquanto Nova York se torna o epicentro de uma batalha mortal. No fim, sua ajuda é primordial para que o buraco de minhoca seja fechado e a Terra possa ser salva.
Pulamos alguns anos e vamos direto para Capitão América: O Soldado Invernal. Sua presença no filme é um dos pontos altos, e é um dos momentos de brilhantismo em que descobrimos mais sobre sua essência e sobre sua história sem que, em momento algum, vejamos algum flashback ou cena do passado. Na verdade, ela apenas se relembra sobre um momento de seu passado, quando fala sobre o Soldado Invernal.
Entretanto, é justo dizer que o filme nos apresenta o maior desenvolvimento da espiã. Aqui, ela se vê, junto com Steve Rogers, no meio da queda da S.H.I.E.L.D.. É também o filme em que a heroína tem mais a fazer, se tratando de um thriller de espionagem.
No filme, vemos como Natasha é vulnerável no grande esquema das coisas. Mesmo uma das maiores espiãs do mundo pôde ser enganada pela presença insidiosa da HIDRA, que passou anos escondida em campo aberto. É o momento em que ela reavalia sua posição, ajudando o Capitão América a fugir e a reencontrar seu grande amigo.
Porém, o que há de mais importante aqui acontece nos momentos finais do filme, quando ela vaza para o mundo todos os arquivos confidenciais que pertenciam à organização secreta. Ela não apenas estava disposta a acabar com a HIDRA, mas também a se entregar e acabar com sua própria carreira, caso fosse necessário.
Então, veio Vingadores: Era de Ultron e tivemos mais uma presença da Viúva Negra ao lado de outros super-heróis. O filme faz um grande desserviço à história da personagem, ao transformá-la em um recurso romântico para “controlar” o Hulk e ao dizer que ela era um monstro por um motivo pífio.
Entretanto, o filme nos apresenta, pela primeira vez, um vislumbre da origem da personagem. Aqui, sabemos quem ela é após ter visões manipuladas pela Feiticeira Escarlate. Crescida na Sala Vermelha, ela foi criada desde cedo para se tornar a assassina perfeita – até deixar sua nação soviética para trás e se juntar aos heróis da S.H.I.E.L.D.
Como eu disse, não é lá o filme mais brilhante da Viúva, mas serve para nos introduzir um pouco de sua origem – algo que certamente pode vir a ser mais explorado em seu filme solo, programado para sair no ano que vem. E mesmo com pouco tempo de tela, ela ainda consegue roubar a cena no equilíbrio perfeito que sua personagem pode nos oferecer.
E então, pulamos novamente – dessa vez, para Capitão América: Guerra Civil. Mais uma vez na equipe criativa que a trabalhou tão bem em O Soldado Invernal, ela tem espaço novamente. O thriller de espionagem é substituído por um thriller político com toques de um drama quase “familiar”, conforme os Vingadores precisam se dividir em duas equipes para enfrentar uns aos outros.
É nesse momento que Natasha passa pelo maior conflito de sua vida. No fim, ela é uma das únicas (ou talvez, a única) personagens que entende que ambos os lados estão, dentro da medida do possível, certos e errados. Ela funciona quase como uma “mediadora” entre Tony Stark e Steve Rogers.
Contudo, mais uma vez, suas ações não são previsíveis e nem óbvias. Se ela começa como uma aliada ferrenha do Capitão – como já era desde o início –, ela logo passa para o time do Homem de Ferro, apenas para traí-lo no último segundo por realmente confiar em Rogers e seu senso de justiça.
E isso faz com que ela se torne uma fugitiva clandestina, como vimos em Vingadores: Guerra Infinita. Mais uma vez uma mestre dos disfarces, ela muda seu cabelo (deixando pela primeira vez o ruivo que se tornou sua marca registrada) e muda o design de seu traje.
Embora ela não seja muito desenvolvida aqui, vemos como ela nunca deixou seu heroísmo de lado, mesmo em uma época em que era perseguida por salvar inocentes. E no fim, ela realmente faz de tudo a seu alcance para impedir que Thanos saia com as Joias do Infinito intactas.
Ainda assim, ela – e todos os outros heróis – são sobrecarregados pelo Titã Louco e acabam perdendo. Metade do universo morre.
Cinco anos depois, nos eventos de Vingadores: Ultimato, nós podemos ver como ela é uma das únicas heroínas que nunca deu o braço a torcer. Ela não procurou ver o “lado melhor” das coisas. Seu desejo sempre foi restaurar a equipe e os mortos, custe o que custasse.
Assim, é realmente muito importante que ela tenha sido a figura a “reencontrar” toda a equipe. Ela vai até a propriedade de Tony Stark, ela entra em contato com o Professor Hulk e ela também convoca Clint Barton novamente. Tirando o Deus do Trovão (com o qual ela nunca teve muito contato), ela é a peça final para trazer os Heróis Mais Poderosos da Terra de volta.
Ainda assim, seu sacrifício final ainda estaria por vir. Quando ela é designada a visitar Vormir ao lado do Gavião Arqueiro, sabemos que coisa boa não pode sair daí. E no planeta, apesar da discussão dos heróis, é ela quem dá o salto final, se sacrificando para garantir a Joia da Alma. Até o fim, ela manteve seu legado: queria limpar o vermelho de sua conta, a qualquer custo. E não apenas isso, mas vemos aqui como ela também conseguiu finalmente retribuir ao Gavião Arqueiro, seu parceiro inseparável.
Claro que ainda temos mais surpresas pela frente, com o filme solo da heroína a caminho. Mas o grande legado deixado pela Viúva Negra é que, apesar de ser uma personagem enigmática com motivações nem sempre claras, desde sempre ela revelou seu principal propósito: salvar o mundo do caos. No fim, seu sacrifício foi responsável por resgatar metade do universo. O vermelho de sua conta finalmente foi limpo por completo.
Na galeria abaixo, fique com os cartazes de Vingadores: Ultimato:
Vingadores: Ultimato está em cartaz nos cinemas.