The Umbrella Academy – A solidão em ser extraordinário!
The Umbrella Academy – A solidão em ser extraordinário!
Tudo o que deveria ser e um pouco mais…
The Umbrella Academy foi lançado em 2007, escrito por Gerard Way e com artes de Gabriel Bá, a graphic novel se tornou rapidamente um clássico cult. Com personagens completamente loucos, interessantes e divertidos envolvidos em uma grande trama surreal, seria fácil achar a história divertida, mas sequer se lembrar dela depois de lê-la. O que tornou Umbrella Academy um grande sucesso foi como cada um dos “heróis” era relacionável em sua própria maneira e como, mesmo extremamente bagunçado à primeira vista, a história é extremamente sólida e intrigante.
Na trama, o Sir Reginald Hargreeves adota sete crianças com habilidades especiais para treiná-las e fazer com que elas salvem o mundo como super-heróis. Depois de anos separados, eles se juntam após seu pai falecer e então precisam impedir o fim do mundo.
Li as HQs um bom tempo atrás, acredito que faz mais de cinco anos. Antes de assistir aos quatro episódios disponibilizados pela Netflix ponderei se seria uma boa escolha ler o primeiro volume, Apocalypse Suite, antes de maratonar a série em uma única noite. Mesmo me lembrando pouco do que acontece nas HQs, decidi não reler a trama. Mídias diferentes, momentos diferentes. De alguma não me pareceu correto.
Uma coisa que muitos fãs parecem não compreender atualmente é que adaptações de filmes e séries de histórias em quadrinhos são exatamente isso: adaptações. Não são – e não deveriam ser – cópias fiéis e exatas do material fonte. Afinal, qual é a graça de ver um livro ou quadrinho sendo recriados nos mínimos detalhes se você já sabe, exatamente, como tudo vai acontecer?
Algumas séries e filmes até tentam fazer isso, normalmente nunca é algo que me atrai (ou o grande público em geral). Ainda assim, ver algo completamente deturpado – que sequer lembra a história original – também é nada bom.
The Umbrella Academy consegue adaptar muito bem a história maluca e confusa dos quadrinhos para as telonas, ainda assim se mantendo fiel aos personagens e trama das HQs. Nem tudo está como era lá, porém as mudanças ajudam a contar a história de uma maneira bem divertida mais de 10 anos depois de sua publicação original.
Tendo visto apenas os primeiros episódios, é difícil falar sobre a trama como um todo, porém, mesmo tendo lido os quadrinhos e sabendo tudo o que deve acontecer até o final da temporada, muitas vezes acabei me esquecendo disso e ficando tão imerso no mundo apresentado que parece ser a primeira vez que escutava essa história.
Boa parte disso se deve a Jemery Slater (roteirista) e Steve Blackman (showrunner) que deram ainda mais profundidade e carisma para os personagens – certamente ter Gerard Way como produtor também ajudou. Além disso, o elenco é muito bom e faz com que você se importe e se divirta com os personagens.
Vanya, interpretada por Ellen Page, pode ser a protagonista, porém é impossível decidir quem mais rouba a cena. Allison (Emmy Raver-Lampman), a número 3, é a personagem mais relacionável e interessante do grupo; Klaus (Robert Sheehan), o número 4, simplesmente rouba a cena cada vez que está em tela, assim como o Número Cinco (Aidan Gallagher).
A dinâmica entre os irmãos é o principal tema da série. Além de parar o apocalipse e lutar contra uma dupla de assassinos violentos, é claro. A rivalidade entre o número 1, Luther (Tom Hopper) e o número 2, Diego (David Castañeda), é algo que está presente em todos os episódios, contudo é interessante notar que cada um deles assumiu uma posição bem clara agora que são adultos e fazem suas próprias escolhas.
Por terem uma figura paterna extremamente distante, todos os jovens integrantes da Academia Umbrella foram por um caminho diferente: reclusão, vício em drogas, narcisismo extremo ou o sentimento de que precisam salvar o mundo. No fim, tudo isso se deve ao fato de que mesmo sendo uma família e tendo crescido juntos, todos eles se sentem extremamente solitários e isso fica claro em cada uma de suas decisões.
Isso também é algo bem definido nas HQs, a criação dos jovens e a maneira como eles tiveram um pai distante moldou cada um deles de uma forma bem distinta. A solidão dos personagens não é algo que é trabalhado explicitamente na série (ou nas HQs), mas é algo que está sempre lá, que você pode sentir em cada uma de suas atitudes.
A utilização de flashbacks para mostrar a criação dos personagens, assim como toda a relação entre os irmãos antes e depois, lembra muito The Haunting of House Hill – uma das melhores minisséries do ano passado. Isso permite realmente entrar na mente deles e analisar a relação entre eles tanto na infância como agora e o que fez com que tudo mudasse.
Contudo, é impossível falar de The Umbrella Academy sem falar de Hazel e Cha-Cha. Nos quadrinhos, os dois assassinos maníacos e psicóticos não tem grande desenvolvimento, mesmo tendo um visual excelente. A série conserta isso ao fazer deles os dois personagens mais carismáticos da série. Sim, isso não é uma brincadeira. Os dois mercenários com máscaras cartunescas são os destaques da série
Mary J. Blige, a Cha-Cha, é sensacional em cada cena que aparece, e junto de Cameron Britton, o Hazel, somente fica ainda mais divertida. A dupla também possui os momentos mais cômicos e hilários, ao tratar de maneira mundana o cotidiano de dois grandes assassinos. Estou esperando ansiosamente pelo spin-off.
A série melhora ainda mais quando os pequenos detalhes são analisados, seja na criação do mundo, que também tem um estilo surreal fantástico, como em decisões feitas em relação à comunicação dos personagens e o fato da série possuir um tom anacrônico ao fundo que não interfere em nada com o andar da história.
Por fim, Umbrella Academy tem tudo para se tornar uma das melhores séries baseadas em HQs dos últimos anos. Com cenas de ação excelentes, efeitos mais do que bons – Pogo está incrível – e uma trama extremamente divertida, é fácil acreditar que a série vai rapidamente se tornar um hit, principalmente devido o carisma que a série possui.
Confira também algumas imagens da série: