Tão ruim que dá a volta: Double Dragon!

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Tão ruim que dá a volta: Double Dragon!

Por Raphael Martins

Durante o início dos anos 90, época em que o Mega Drive o Super Nintendo guerreavam ferrenhamente pelos corações – e as carteiras – do público jovem, a febre do vídeo game se tornou grande demais para ser ignorada, inclusive por Hollywood, que quis logo pegar sua fatia desse bolo enquanto ele ainda estava quente. Foi dessa empolgação que surgiu Super Mario Bros., a primeira adaptação de um vídeo game para as telonas do cinema.

Todos conhecem essa história. O filme foi um desastre catastrófico e vive até hoje na infâmia, um exemplo de como não se adaptar obra nenhuma. Mas é claro que a indústria do cinema não desistiria diante do primeiro fracasso.

Um ano depois do lançamento do malfadado filme do Mario, em 1994, Hollywood preparava, ao mesmo tempo, dois novos filmes baseados em games: Street Fighter e Double Dragon.

Double Dragon veio um mês antes, sendo lançado em 4 de novembro de 1994. Anunciado na mídia como “uma aventura leve e emocionante para toda a família baseada no sucesso dos arcades”, ele trazia em seu elenco Marc Dacascos, figurinha carimbada em filmes de artes marciais como Esporte Sangrento e O Combate: Lágrimas do Guerreiro como Jimmy, e Scott Wolf, a sensação adolescente da época pelo seriado O Quinteto, como Billy, os irmãos protagonistas do game.

Marc Dacascos e Scott Wolf são Billy e Jimmy em Double Dragon

Geralmente, a principal reclamação dos gamers em relação a filmes baseados em vídeo games é a falta de fidelidade com o material original. No caso de Double Dragon, foi até uma necessidade do estúdio mudar a história, que seria simples demais para um longa-metragem. Para quem não lembra, no jogo, Billy e Jimmy devem resgatar sua amada Marian, batendo em todo mundo pelo caminho. Pronto, é isso. Mas ele tem suas similaridades com o game.

O filme se passa no longínquo ano de 2007, onde um terremoto arrasou os Estados Unidos e suas principais cidades se tornaram lugares desoladores e controlados por gangues de rua. Os irmãos Billy e Jimmy são dois artistas marciais tentando sobreviver, e após serem atacados por uma dessas gangues, sua mãe adotiva Satori (Julia Nickson) lhes revela o motivo do ataque: eles estão em busca de um tesouro sagrado chamado Double Dragon, um antigo medalhão capaz de dar grandes poderes a quem o possuir.

Satori possui uma parte do medalhão, enquanto Koga Shuko (Robert Patrick), um perigoso senhor do crime, tem a outra. Depois de mais um ataque, que custa a Satori sua vida, ela confia aos irmãos sua metade do Double Dragon, e lhes pede, em seu leito de morte, para derrotarem Shuko reunirem o medalhão. No caminho deles está toda a organização criminosa do vilão, que vai persegui-los até o inferno por sua metade do tesouro.

Os heróis não estão sozinhos em sua missão. A bela Marian (Alyssa Milano), que no jogo era apenas a donzela em perigo, aqui é a líder de um grupo de lutadores da liberdade, que combate as gangues de rua quando a polícia é incapaz de fazê-lo.

Alyssa Milano como Marian: de donzela em perigo a lutadora da liberdade

O filme é cheio de cenas de ação frenéticas, como uma explosiva perseguição de lanchas pelas águas poluídas da agora San Angeles, e também não faz feio nas coreografias de luta. Assim como no game, Billy e Jimmy caem na porrada com um sem número de capangas, o que é basicamente tudo o que o game tem a oferecer.

Mas agradar os fãs é difícil, ainda mais os de games. Eles não viam Double Dragon como uma aventura cheia de humor e momentos leves, e sim como uma história pesada e séria de violência, embora tudo o que se visse na tela fossem gráficos pixelados e rudimentares. Logo, não aprovaram o longa nem de longe.

A crítica também foi bem dura. O principal alvo das reclamações dos críticos foi a direção de James Nickson, que chamaram de “bagunçada e amadora”, com diálogos clichês e cheia de momentos bobos e piadinhas fora de hora. Talvez seja verdade, mas o filme tem sim seu valor.

 

A ação quase ininterrupta, a linguagem rápida dos vídeo games e as várias lutas presentes no game estão lá, e para um jogo com praticamente nenhuma história, esta é uma vantagem.

Ele inclusive pegou um pouco do misticismo introduzido no terceiro jogo da série, The Rosetta Stone, para criar o medalhão Double Dragon. Até mesmo o vilão Abobo, que aqui aparece em uma forma monstruosa (algo que depois foi incluído em games posteriores), foi colocado no filme.

Outra coisa legal que o filme trouxe foi um jogo de luta produzido pela Technōs Japan, que adapta livremente o roteiro do longa e coloca seus personagens em duelos de dois contra dois. O game tem muita qualidade e é um dos melhores títulos da extensa biblioteca de jogos do console Neo Geo, da SNK.

No fim das contas, o filme foi um fracasso de bilheteria, tendo custado $7.8 milhões e arrecadando apenas pouco mais de $2 milhões. Mas assim como aconteceu com outros grandes filmes tidos como “ruins” na época de seu lançamento, ele foi sendo melhor aceito com o tempo, e hoje há quem o defenda na internet como uma produção “injustiçada”.

A dica é que você confira Double Dragon e decida por si mesmo se ele é bom ou ruim. Independente da sua opinião, os jogos sempre estarão lá para você se divertir quando quiser!