Sua Nostalgia Vale Muito Dinheiro!

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Sua Nostalgia Vale Muito Dinheiro!

Por Lucas Rafael

Dentre toda a gama de emoções humanas, a nostalgia talvez seja a mais poderosa. Ela faz a gente se sentir bem. Desenhos antigos, brinquedos populares de quando você era criança ou até comerciais de televisão de outrora disparam o gatilho da sua memória, fazendo com que seja resgatada uma parte do seu passado durante o presente. É algo reconfortante que te faz sentir geralmente extasiado, ou melancólico por não poder regressar efetivamente ao passado. Uma intensa jornada emocional gerada apenas através destes pequenos fragmentos que constituíram o tempo que já se foi. Os estúdios de Hollywood, principalmente a Disney, entendem como ninguém a força da nostalgia. Eles criaram um império em cima dela.

Star Wars, por exemplo, é algo que se aproveita de um ciclo geracional. Legiões de fãs foram conquistadas nos anos 80, regressando à franquia nos anos 2000 com seus filhos que voltariam posteriormente a revisitá-la. É algo que marcou a identidade cultural de gerações, estas que buscam reviver o encantamento de outrora nas salas de cinema. Ou vocês acham que o Despertar da Força copia os acordes narrativos de Uma Nova Esperança por nada? Existe um saudosismo nostálgico enorme banhando Star Wars, do design de androides até os acordes da trilha-sonora de John Williams.  

Os Incríveis 2 marcou o retorno da família Pêra mais de 10 anos após a estreia do original, pescando a mesma audiência de anteriormente, agora crescida, para revisitar o universo da franquia, surfando também no fervo do cinema super-heroico.

Todas as animações que você aprendeu a amar em sua infância estão retornando com a mesma essência, mas de cara nova. Branca de Neve e o Caçador, a Bela e a Fera, O Livro da Selva, Aladdin, você já conhece tudo isso. Sabe a abordagem que a Disney emprega em suas adaptações e, ainda assim, todos vamos comprar o ingresso para ver o mesmo filme que vimos décadas atrás num aparelho VHS empoeirado, desta vez com atores reais e valores de produção elevados nas telonas 3D. Seremos massageados pela nostalgia numa poltrona de cinema enquanto uma nova geração aprende a amar o Rei Leão, Cinderella e toda sorte de produções repaginadas. O verdadeiro ciclo sem fim.

O famoso VHS verde de O Rei Leão.

É fácil analisar a nostalgia como uma ferramenta mercadológica, fria, usada contra você para lucrar em bilheterias, mas existe um contraponto a esse argumento pessimista: há um motivo pelo qual a nostalgia é tão lucrativa. Como mencionado no primeiro parágrafo, ela nos faz sentir bem.

Se você pesquisar por nostalgia no dicionário, verá que existem algumas conotações negativas a seu significado. Nos tempos de guerra, ela era considerada uma doença, justamente por desnortear o psicológico dos soldados, fazendo-os sentirem saudades de seus lares. Recentemente, como destaca este artigo do The Guardian, foram descobertas propriedades curativas ligadas à nostalgia.

Graças ao êxtase de habitar um período melhor ou mais acomodado da sua vida por frações de segundo, você combate os algozes da depressão. É algo que, conforme cita o artigo, foi cientificamente comprovado. O que explica a razão de, nas piores fases da minha vida, eu ficar vendo desenhos antigos como Flapjack ou Coragem o Cão Covarde na Netflix acompanhado de um pote de sorvete. Existe uma terapia subjacente na nostalgia. O Dr. Tim Wildschut (entrevistado no artigo linkado acima) explica o seguinte sobre essa propriedade curativa:

“A nostalgia compensa estados de desconforto, por exemplo, pessoas com sentimento de falta de propósito ou descontinuidade entre passado e presente. O que encontramos nestes casos é que a nostalgia espontaneamente acelera e contra-ataca estas coisas. Ela eleva a significância, conectividade e continuidade no passado. É como uma vitamina, um antídoto a estes estados. Serve para promover equilíbrio emocional, homeostase.”

Graças a tamanho fator curativo, caso um remake de algo valioso para você em seu passado seja respeitoso e feito da maneira certa, existe a possibilidade de que você encontre um revigorante remédio audiovisual para o seu estado de espírito. Não é bonito?

 

Comparações entre Rei Leão (1994) e Rei Leão (2019)

Quando Jon Favreau, diretor do vindouro remake de Rei Leão, assinou a versão live-action de Mogli: O Menino Lobo (2016), me deparei com uma versão amena da mesma história que prestigiei na minha infância, um filme prestativo que não supera seu material-fonte. Talvez ele nem queira. Assistir ele fez com que eu me sentisse bem de qualquer maneira.   

Ao ver a reação da internet ao novo trailer de Rei Leão, pensei no quão inútil é uma nova abordagem desta história atualmente. Parece uma versão mais plástica da  animação que nos encantou nos anos 90. Mas vai fazer bastante dinheiro, pois apesar de minha descrença, quero conferir o negócio e dar uma boa mordida em mais um pedaço de nostalgia no cinema mais próximo.

Fique com nossa galeria de Aladdin, outro filme da Disney que vai bancar na sua nostalgia: