O que fazer quando o trem do hype descarrila?
O que fazer quando o trem do hype descarrila?
Post de utilidade pública!
O mês de abril está aí e seguramente será o melhor mês de todo esse ano para os geeks do mundo inteiro. Alguns dos filmes mais aguardados de 2019, como Vingadores: Ultimato, Hellboy e Shazam!, estreiam em abril. Nos games, tem Mortal Kombat 11 e Days Gone. Na TV e em plataformas de streaming, será a hora de Cobra Kai, Legends of Tomorrow e do final de Gotham. Com certeza, será um mês de emoções fortes e grandes aventuras.
Estamos vivendo em uma época em que é muito bom ser geek/nerd, e abril de 2019 mostra isso com todas as evidências. Mas acima de tudo, é muito bom se sentir parte de alguma coisa. Saber que não é a única pessoa que está aguardando ansiosamente pelo novo Vingadores, por exemplo, é algo sensacional. Ir ao cinema acompanhar o fim de uma era no universo cinematográfico da Marvel, sentindo toda aquela energia no ar, como se fossemos testemunhar um evento que entrará para a história, todos juntos, num só coração… é uma experiência ímpar. Quase um Woodstock nerd.
Essa energia, esse sentimento de antecipação e ansiedade, tem uma causa: o hype. E estamos todos nessa, devidamente embarcados neste trem, rumo a grandes emoções… ou grandes decepções. Nem sempre o hype se paga e mostra a que veio. O que fazer neste momento pelo qual ninguém quer passar?
Hype é uma palavra de origem inglesa que deriva de hipérbole, que por sua vez significa “exagero”. É o assunto que está dando o que falar no momento ou a promoção extremada de alguma coisa ou de alguém. Mas se engana quem pensa que isso está presente só na mídia, nossa vida cotidiana também é cheia de hype.
Um encontro há muito esperado com aquela pessoa que você gosta e vê como uma namorada ou namorado em potencial, aquela festa que você está esperando há um tempão pra ir, aquela encomenda pelo correio que está prestes a chegar ou o dia do seu aniversário, tudo isso é carregado de hype, e às vezes nós não conseguimos sequer controlar isso. Mas como todos nós sabemos, nem sempre as coisas saem do jeito que a gente quer. Aquela pessoa especial pode te dar um bolo, a festa pode ser desanimada ou seu aniversário pode passar batido pelos seus amigos. Com o hype da cultura pop, é a mesma coisa.
A história recente é cheia de exemplos do tiros que saíram pela culatra no que diz respeito há isso, mas talvez o maior deles seja, justamente, uma das franquias do cinema com a maior concentração de hype por metro quadrado: Star Wars. Estamos falando de A Ameaça Fantasma, lançado em 1999 e tido como uma das maiores decepções de todos os tempos.
Naquele ano, este filme era o assunto mais discutido por todos, algo que trazia uma sensação de excitação e ansiedade só de ser mencionado. Seria o retorno triunfal de uma das sagas mais amadas e memoráveis do cinema, que estava há 16 anos sem ganhar um filme novo. As cortinas de uma nova trama iriam se abrir, contando a história de origem do icônico Darth Vader, uma das figuras mais facilmente reconhecíveis do mundo. George Lucas, o criador da série, voltaria ao posto de diretor, comandando o primeiro Star Wars desde Uma Nova Esperança, o filme original.
A medida que o filme se aproximava, os mais variados produtos baseados nele chegavam às lojas como uma enxurrada, dando mais força para aquela bola de neve que descia da montanha passando por cima de tudo o que via pela frente. Telejornais cobriam toda a antecipação dos fãs. Milhares de pessoas iam aos cinemas e pagavam ingresso só para assistirem ao trailer e depois saírem, extasiados. Nada poderia dar errado, certo?
Bom… deu.
Nem todo mundo percebeu de pronto que havia alguma coisa fora do lugar, talvez justamente por causa de todo o hype construído em torno da produção, mas em pouco tempo, críticas cada vez mais negativas, e por vezes até destrutivas, começaram a aparecer. As justificativas variavam, com alguns culpando a longa e arrastada trama política, a criação dos Midi-Chlorians, que tiraram muito do lado místico da Força, e a presença do abobalhado Jar Jar Binks. Não importava. Star Wars, que até então era tido como algo sagrado, fora maculado. E muita gente que teve seu hype destruído e reduzido à cinzas partiu para o ataque, da pior maneira possível.
Toda essa revolta mexeu até mesmo com a equipe do filme. George Lucas fora crucificado na internet, que também perseguiu o ator mirim Jake Lloyd, que tinha apenas 9 anos na época, acabando com sua carreira, e Ahmed Best, intérprete de Jar Jar Binks, que em determinado momento de sua vida cogitou até mesmo o suicídio.
Apesar de nem de longe ter sido um fracasso de bilheteria, o descontentamento com A Ameaça Fantasma perseguiu a série durante toda a época da trilogia prequel, com os fãs cada vez mais descrentes que o filme seguinte poderia ser bom e sempre prontos para atirarem tomates podres em George Lucas e sua maior criação.
O hype é criado pela mídia, que conhece seu público alvo e sabe como ninguém vender seu produto. Mas é reforçado pela imprensa especializada, que também pode tirar este poder dos estúdios de cinema através de críticas negativas e notícias não muito animadoras. Han Solo: Uma História Star Wars é um bom exemplo disso. Tendo sido o primeiro fracasso comercial da saga, o filme sempre foi noticiado de maneira negativa, ressaltando os problemas na produção, a substituição de Harrison Ford por Alden Ehrenreich e a troca de diretores na última hora. O resultado final não é o lixo que muita gente prega por aí, mas ainda assim, ninguém quis ver. Hype reverso? Talvez.
Temos outros exemplos de quando o hype frustrou. Vingadores: Era de Ultron, continuação do mega sucesso de 2012, não é bem lembrado pelos fãs. Esquadrão Suicida parecia realmente promissor pelos trailers, mas apesar do sucesso de bilheteria, é tido pelos fãs da DC como um filme ruim.
O game No Man´s Sky, que prometia um universo infinito cheio de galáxias e com criaturas diferentes habitando os milhares de planetas que estariam disponíveis, não cumpriu nem de longe com o que prometeu. E esse público frustrado se fez ouvir na internet, fazendo aqueles que são responsáveis pelos produtos que consumimos botarem a mão na consciência e, com alguma sorte, refazerem seus planos futuros.
O hype não é infalível. Ele pode frustrar seriamente aqueles que se entregarem tão completamente, apaixonadamente e até cegamente a alguma coisa. É uma lição que nós não deveríamos aprender exclusivamente com os fracassos do pop, mas sim com a nossa própria vida, que por vezes é cheia de decepções. Dito isso, vamos à pergunta que não quer calar: o que fazer quando o trem do hype descarrila?
Isso, meus amigos, vai de cada um de vocês. Cada um tem sua própria maneira de lidar com a frustração e eu não estou aqui para lhes dizer o que fazer. Mas talvez eu possa lhes dizer o que não fazer: perseguir de forma implacável e tóxica os responsáveis por aquele filme ou jogo na internet, ou aqueles cuja opinião é contrária a da de vocês, maldizer um produto ou uma base de fãs inteiras baseadas em uma opinião sua, tudo isso é um ótimo começo. Superar as frustrações e seguir em frente, rumo à próxima aventura, é um sinal de maturidade, coisa cada vez mais difícil de se ver entre aqueles que se dizem “fãs” de algo nos últimos tempos.
Então, cuidado na hora de entrar no trem do hype. Escolha um bom lugar, aperte os cintos e curta a viagem, mesmo que o saldo final dela não seja exatamente positivo. Afinal, o que deveria importar de verdade não é o destino, e sim a jornada.
Veja também imagens de Vingadores: Ultimato, um dos filmes mais esperados do ano: