O Oscar mais imprevisível de todos os tempos?!

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O Oscar mais imprevisível de todos os tempos?!

Por Gus Fiaux

Finalmente entramos em fevereiro, e isso significa que, dentro de algumas semanas, nós teremos uma das cerimônias mais aguardadas pelos fãs de cinema. Claro que estamos falando do Academy Awards – ou Oscar –, uma premiação tradicional que está chegando em sua 91ª edição neste ano.

A cerimônia, que será realizada no dia 24 de fevereiro, está gerando uma grande repercussão nos últimos dias. Para variar, temos várias polêmicas e controvérsias, desde as acusações de abuso sexual do diretor de um dos longas indicados a Melhor Filme à surpreendente decisão de indicar, pela primeira vez na história, um filme de super-heróis ao prêmio da noite.

E é claro que isso tem chamado bastante atenção dos cinéfilos, sobretudo os que gostam de acompanhar o período de premiações. O Oscar basicamente vem para pôr fim a um ciclo já iniciado há meses, quando os grandes nomes do cinema começam a se premiar por seus filmes e obras.

Contudo, é seguro admitir uma única coisa: a premiação nunca esteve tão imprevisível quanto nesta edição. Uma análise básica em relação aos indicados já nos mostra como esse Oscar será diferente de tudo que já vimos nos últimos anos.

Mesmo com um filme chamado A Favorita, o Oscar de 2019 não parece apostar em favoritismos.

A começar, vale lembrar que o Oscar não é uma premiação obscura que conta com poucos jurados. Os votantes são os membros da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. E para ter uma ideia de quantas pessoas são, estima-se que a Academia tenha, atualmente, cerca de 6000 membros.

Seis mil pessoas com credos, crenças e gostos diversos, que se unem para votar em filmes de conhecidos, amigos e, às vezes, até mesmo familiares. Com isso, primeiro precisamos desmistificar a ideia do “filme cotado” ou do “prêmio injusto”.

Claro que há filmes favoritos, uma vez que muitos dos votantes viram uma determinada produção e realmente gostaram dela. E embora injustiças aconteçam – particularmente, até hoje não perdoo à Academia pelo Oscar de 1999, que esnobou nomes como Fernanda Montenegro, Cate Blanchett, Tom Hanks e Ian McKellen, para premiar Gwyneth Paltrow e Roberto Benigni como os melhores atores principais do ano – não dá para dizer que a opinião de seis mil pessoas é alienada para um “candidato cotado”.

Green Book: O Guia, ganhador do PGA – o prêmio do sindicato dos produtores.

Mas vamos ao que interessa: o Oscar 2019.

Basicamente, podemos ter uma ideia geral do que esperar com base nos indicados a Melhor Filme. Temos, agora, Pantera Negra, A Favorita, Green Book: O Guia, Nasce Uma Estrela, Vice, Infiltrado na Klan, Roma e Bohemian Rhapsody. Oito filmes com perfis bem diferentes, e que em suas respectivas circunstâncias, se apresentam como fortes candidatos.

Bohemian Rhapsody e Pantera Negra representam o lado comercial da coisa. Há anos, o Oscar vem tentando inserir filmes mais populares na premiação, para que possa dialogar com um público mais vasto e recuperar seu prestígio dos dias que se foram.

Os dois são escolhas curiosas. Bohemian Rhapsody é uma biografia que não foi muito bem recebida, mas que se alavancou graças à atuação aclamada de Rami Malek no papel do icônico Freddy Mercury. Por outro, se você quer saber mais sobre o papel de Pantera Negra nessa premiação, recomenda que leia esse texto.

Apesar da atuação marcante de seu protagonista, Bohemian Rhapsody pode ser afetado pelas polêmicas envolvendo o diretor Bryan Singer.

Dos dois, é interessante notar que eles até possuem um potencial interessante, justamente por conta do viés midiático e comercial. No entanto, a biografia do Queen está em risco, especialmente com as várias acusações de estupro sendo reveladas contra o diretor Bryan Singer.

Pantera Negra sai nessa corrida como um “azarão”. As chances de ganhar são pequenas, considerando que por mais que tenha sido indicado ao prêmio principal, ainda é um passo grande demais para a Academia reconhecer um filme de super-herói como sendo, de fato, o melhor do ano.

E isso nos faz partir para outros dois filmes: Infiltrado na Klan e Green Book: O Guia. O primeiro é uma das obras mais aclamadas da carreira de seu diretor, Spike Lee. Já o segundo é um feel good movie que toca na questão do racismo, mas que está gerando polêmicas por uma série de tweets controversos de seu roteirista.

Infiltrado na Klan: melhor filme de Spike Lee?

Infiltrado na Klan, até o momento, não mostrou muita força para ganhar o prêmio principal, mas certamente seria uma escolha formidável. Por outro lado, Green Book, apesar da polêmica, conta com um ponto ao seu favor: o prêmio de melhor filme no PGA, a premiação dedicada exclusivamente aos produtores da indústria cinematográfica, e que serve como um grande termômetro do Oscar.

Em outro lado do espectro, temos Vice, Nasce uma Estrela e A Favorita. Os três filmes são muito diferentes entre si, tanto em gênero quanto em quesito de produção. Ainda assim, há um consenso entre eles: os três são “azarões”, que se destacaram mais pela atuação de seu elenco.

Vice, longa biográfico sobre Dick Cheney, não está com muita força na premiação.

Ou seja, a chance para os três é limitada. E embora A Favorita tenha conseguido fazer um boca-a-boca amigável, é um filme considerado “estranho demais” para os padrões da premiação.

E isso nos leva a ele: o aclamadíssimo Roma. Trata-se de outra indicação surpreendente da Academia, considerando que ele é a) um filme lançado originalmente em streaming e b) um longa não-falado em inglês.

Roma por enquanto parece ser o favorito da corrida… mas será que o Oscar está disposto a premiar um filme em espanhol da Netflix?

Dentre todos, é seguro admitir que Roma tem um potencial grande. É um filme com “cara de Oscar”. No entanto, só de pensarmos nos dois itens mencionados no parágrafo acima, já é curioso sequer pensar em como esse filme pode ter ido parar aí. E são fatores que podem contribuir para que o longa não leve o troféu.

Por conta disso, os analistas estão ficando insanos. É um dos anos mais incertos e imprevisíveis para quem gosta de acompanhar a cerimônia. E com os oito filmes sendo bem divisivos, isso acaba interferindo até mesmo nas categorias restantes.

Considerado um dos “azarões” na categoria de Melhor Filme, Nasce Uma Estrela ainda chama atenção para a atuação de Lady Gaga.

Por exemplo, assumindo que Nasce Uma Estrela não ganhe Melhor Filme, muitos ainda acreditam que Lady Gaga pode chegar roubando o troféu da favorita Glenn Close, e saindo como a Melhor Atriz do ano. Mas se esse for o caso, já vemos que teremos uma série de “prêmios de consolação”.

Falando por pura especulação pessoal, vinda de alguém que acompanha a cerimônia há alguns anos e gosta de pensar a respeito do que o Oscar representa para o mercado cinematográfico, acho bem seguro admitir uma coisa: 2019 não terá um grande vencedor.

Pantera Negra tem poucas chances com o prêmio principal, mas pode surpreender nas categorias técnicas.

Em vez disso, veremos vários filmes ganhando prêmios diferentes. No fim do dia, só dois tem força garantida para arrecadar boa parte dos prêmios técnicos: Pantera Negra – que pode surpreender nas categorias de Figurino e Design de Produção – e Roma, que por sua vez, já deve levar garantido o de Fotografia.

Fora isso, a cerimônia deve ser mais “espalhada”, fornecendo oportunidades diversas para vários concorrentes. De um jeito ou de outro, o Oscar está vindo aí para nos dar exatamente o que esperamos dele: sangue nos olhos, emoção e muita torcida.

 

Na lista a seguir, relembre também os 10 filmes que foram esnobados pela premiação:

A 91ª edição do Academy Awards vai acontecer no dia 24 de fevereiro.