Não deixe a nostalgia te impedir de gostar de algo novo!

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Não deixe a nostalgia te impedir de gostar de algo novo!

Por Guilherme Souza

Esse pode ser um assunto batido e comentado à exaustão, mas parece que, quanto mais se fala, menos entendem os motivos pelos quais ele é tão comentado. 

Nos últimos dias, a internet foi novamente tomada por debates acalorados a respeito da escalação de Halle Bailey como a intérprete de Ariel no remake em live-action de A Pequena Sereia, da Disney. Enquanto alguns fãs e até mesmo celebridades comemoravam a escolha de uma atriz negra para o papel, outros, não fizeram cerimônias em expressar seu descontentamento, alegando que a atriz não partilhava das mesmas características físicas que a personagem animada. 

Essa novela já foi vista muitas vezes anteriormente e parece que continuará sendo vista por muito tempo. Na maior parte, os que reclamam são fãs da obra original, que gostariam de ver uma atriz idêntica à animação, ou seja, branca e ruiva. Acontece que, anteriormente, a Disney sempre foi pouco inclusiva em suas animações e entre 1989 (ano em que a animação foi lançada) e agora, muita coisa aconteceu, o mundo mudou, as pessoas mudaram, a indústria de cinema mudou. 

Atualmente, inclusão e representatividade são palavras de ordem em Hollywood e não há nenhum problema nisso. O fato de Ariel ser interpretada por uma atriz negra não significa uma falta de respeito à obra original, afinal, como Jodi Benson, atriz e cantora que deu voz a Ariel na animação, disse: “o mais importante é respeitar a alma da personagem”.

E caso você ainda tenha dúvidas, ao contrário de Mulan ou Pocahontas, Ariel é uma sereia, ou seja, um ser mitológico que sequer existe, o que significa que ela não está amarrada em uma etnia ou localidade, como é o caso das outras duas personagens citadas. 

Bailey é uma atriz revelação, que chamou a atenção de Beyoncé por sua voz angelical e carisma, características que também são encontradas na Ariel da animação e se a Disney a escolheu, é porque sabe que ela será capaz de honrar uma de suas personagens mais icônicas.

Outro bom exemplo desse protecionismo exacerbado por parte dos fãs são os filmes mais recentes do Homem-Aranha. Por anos, os fãs sonharam com a possibilidade de ver o Homem-Aranha se unindo aos Vingadores nas telonas, mas agora que isso aconteceu, muitos desejam que os direitos do personagem retornem integralmente para a Sony

Essa insatisfação é baseada nas mudanças que o personagem e os coadjuvantes que os cercam sofreram, porém se pararmos para analisar, elas são plausíveis e altamente necessárias. Assim como diversos outros personagens famosos de histórias em quadrinhos, o Aranha foi criado na década de 60, um tempo que não contava com muita tecnologia, em que bullying era algo comum e uma época em que um garoto negro ou uma mulher não podiam ocupar um posto de um super-herói de alto escalão. 

Assim como aconteceu com Ariel, as histórias do Aranha precisam ser modernizadas, para se comunicar com a sociedade e com as crianças de hoje em dia. Como o diretor e os roteiristas dos dois filmes solo do herói disseram, “não faz muito sentido termos um Peter fotógrafo de um jornal impresso em uma era onde as redes sociais e blogs são predominantes” – e esse é só um dos exemplos mais básicos. 

Devemos levar em consideração também que essa não é a primeira vez que vemos uma adaptação do Aranha nos cinemas, na verdade, Tom Holland já é o terceiro intérprete do herói, o que significa que ele precisa se destacar em relação aos outros dois intérpretes que vieram antes dele e trazer novidades que chamem a atenção do público. 

Mesmo a trilogia de Sam Raimi, que é aclamada por muitos fãs, não era inteiramente fiel aos quadrinhos e nem precisava ser. O próprio Marvel Studios já nos provou que é possível recontar histórias aclamadas dos quadrinhos enquanto se modifica algumas coisas. 

Sim, não é fácil se desapegar do original, afinal, quando assistimos algo inédito pela primeira vez, acabamos acrescentando muito mais peso emocional do que o necessário para essas produções, principalmente se as assistimos quando éramos crianças. Acabamos criando a chamada “memória afetiva”, em que um filme deixa de ser apenas um filme e, nas nossas cabeças, passa a ser um evento único em que o sonho de ver um super-herói dos quadrinhos ganhando vida se tornou realidade. 

Você pode até não acreditar, mas essa sensação também é sentida pelas crianças de hoje em dia, cujo primeiro contato com esse personagem está sendo através dos filmes estrelados por Holland. 

Independente do que façam com o personagem, também não tem problema nenhum você continuar gostando do que foi feito anteriormente. Os filmes de Tobey Maguire ou de Andrew Garfield não deixaram de existir e você pode assisti-los novamente sempre que quiser, porém tenha em mente que nem todo mundo precisa pensar da mesma maneira que você e que os filmes atuais não precisam seguir as mesmas fórmulas que os anteriores.

As reclamações se estendem por horas a fio, abrangendo até mesmo filmes de proporções menores, como é o caso do novo longa das Panteras. Quando o primeiro trailer da produção foi liberado, era comum ver alguns fãs reclamando que o filme parece ter humor de mais, como uma forma de tentar mostrar que a duologia anterior era melhor, mas se pararmos para pensar, os filmes anteriores também tinham muito humor, porém os fãs querem encontrar um argumento para botar defeitos a todo o custo. 

É claro, não estou dizendo que você deve abrir mão de seus gostos pessoais e convicções, pelo contrário, mas tenha em mente que você deve assistir aos remakes, reboots e novas versões com um coração aberto. Mesmo sendo duramente criticado por parte dos fãs, Homem-Aranha: Longe de Casa conseguiu homenagear a trilogia de Sam Raimi e mostrar que as novidades estão acompanhadas do que deu certo no passado

Não espero que as reclamações a respeito dos filmes citados acima ou de outros que virão se encerrem milagrosamente, porém seria ótimo se as pessoas se permitissem aceitar o que está por vir e não se fechassem em uma bolha de repetições

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