Mestres da Literatura Fantástica – C.S. Lewis
Mestres da Literatura Fantástica – C.S. Lewis
O criador do mundo fantástico de Nárnia…
Ao falar sobre literatura fantástica, fica difícil não tocar no nome de um dos mais importantes e influentes autores do século passado. C. S. Lewis é amplamente conhecido por ter criado As Crônicas de Nárnia, uma coleção de romances infantis que se tornaram verdadeiros clássico da literatura.
Mas para além dos livros de ficção e fantasia – que por si só, também vão além de Nárnia – Clive Staples Lewis também foi um prolífico escritor de obras acadêmicas, sendo autor de ensaios e artigos variados, e quase todos voltados para a literatura inglesa e as eras medievais e renascentistas. Poeta nato, Lewis também lançou quatro coletâneas de poesias ao longo da sua carreira.
Uma das grandes marcas da literatura de Lewis – seja na ficção ou não-ficção – é a apologia cristã, algo no qual ele se debruçou durante grande parte da sua vida e obra. Mas o que muita gente não sabe é que Lewis passou grande parte de sua vida como ateu – 30 anos, para ser mais preciso. E isso é algo que também aparece refletido em sua obra.
De acordo com o livro de memórias de Lewis, Surpreendido pela Alegria, ele foi batizado na Igreja da Irlanda, mas abandonou sua fé durante a adolescência. Muitos anos depois, devido à influência de amigos como J. R. R. Tolkien – ambos serviram a Universidade de Oxford -, Lewis foi se voltando à religião e se tornando um dos maiores pensadores cristãos a escrever sobre o assunto.
Quando criança, Lewis era um leitor voraz e ficou especialmente encantado com os animais antropomórficos criados por Beatrix Potter (A História do Pedro Coelho). Foi esse fascínio, misturado com sua imaginação fértil, que o fez criar um mundo chamado de Terra Animal, local onde se passavam várias de suas histórias protagonizadas por animais falantes. Posteriormente, ele, com a ajuda do seu irmão mais velho Warren, inventou o reino de Boxen, uma terra mágica que sem dúvida seria uma influência para mais tarde ele criar o lendário universo de Nárnia. Com Boxen, Lewis criou ricos detalhes de seus habitantes, política, geografia e história.
Os fãs de Nárnia também podem ficar surpresos ao descobrirem que algumas das obras mais relevantes do autor se trata de uma trilogia de ficção científica. Na verdade, dá para dizer que é muito mais uma fantasia com toques de ficção científica do que outra coisa. Nela, ele aborda conceitos não muito usuais do cristianismo. Conhecida como a Trilogia Cósmica, publicada entre 1938 e 1945, Lewis traz a temática das viagens interplanetárias a partir da premissa de outros mundos habitados por seres inteligentes.
Através das viagens que o protagonista, Ransom, faz para outros planetas, o personagem descobre a existência de uma raça diferente e se dá conta que cada mundo é governado por um ser, e que a força cósmica que governa a Terra não mais existe, por ter se corrompido, gerando o mundo tal qual conhecemos e vivemos.
Entre o lançamento da trilogia, Lewis se dedicou a escrever um romance de ficção satírico em forma de cartas. O título: Cartas do Inferno, Carta de Um Diabo a Seu Aprendiz. Lançado em 1942, conta a história de um demônio que escreve a seu sobrinho, aconselhando sobre os métodos de garantir a condenação de um homem britânico. Screwtape, o demônio, fala sobre as melhores maneiras do seu aprendiz tirar proveito das fraquezas humanas e levar o homem, chamado apenas de Paciente, em direção ao inferno.
Outro livro de ficção do autor – esse nunca traduzido por português – chama Till We Have Faces (Até que tenhamos rostos, em tradução livre) e trata-se de uma reimaginação do mito grego de Cupido e Psiquê, que assombrava Lewis desde a infância. Contado do ponto de vista da irmã mais velha de Psiquê, o romance explora temas como o mito de beleza, a ganância, a traição e outros assuntos delicados. A obra é considerada por muitos fãs adultos, e também pelo próprio Lewis, o seu melhor livro.
Apesar de ter ótimos outros livros, como você pode notar apenas pela descrição de alguns deles, são mesmo os romances que compõe As Crônicas de Nárnia os mais vendidos e populares de C.S. Lewis. Esses foram adaptados para o palco, para o TV e para o cinema, sendo até hoje encontrado e amado por adultos e crianças do mundo todo.
O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, Príncipe Caspian, A Viagem do Peregrino da Alvorada, A Cadeira de Prata, O Cavalo e seu Menino, O Sobrinho do Mago e A Última Batalha são os sete volume dessa série. Lewis publicou inicialmente O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa em 1950, sem ter a intenção de produzir uma série de livros. Mas à medida em que ia escrevendo, ele aproveitava para retomar partes anteriores da história a fim de preencher lacunas deixadas em cada livro. Por isso a ordem de publicação não bate com a ordem cronológica dos eventos que ocorrem na trama.
A série abarca toda a história da fantástica terra de Nárnia – desde a sua criação, até o seu domínio por uma rainha maléfica, passando pela sua Era de Ouro até a chegada do apocalipse. Todas essas fases são protagonizadas por crianças do nosso mundo, cujas experiências na Terra e em Nárnia influenciam os acontecimentos.
Ao longo dos anos, diversas gerações se sentiram abraçadas por esses personagens e suas aventuras, pelos animais que pensam e falam e por toda a mágica residente nesses livros divertidos e cheio de imaginação.
Lewis nunca gostou da ideia de transformar suas criações em filmes, especialmente As Crônicas de Nárnia. Ele não gostava da possibilidade de ver os animais falantes que criou transformados em coisas risíveis e cômicas nas telas. Claro, pensando no contexto da época, o medo de Lewis faz sentido, considerando que os efeitos especiais não eram desenvolvidos o suficiente. Talvez hoje, ele olhasse com mais carinho para as adaptações de seus livros.
Três dos sete livros de As Crônicas de Nárnia foram levados ao cinema entre 2005 e 2010. Hoje, a Netflix é detentora dos direitos de adaptação do arsenal de Lewis, e está desenvolvendo uma série de produtos, que incluem séries e filmes baseados no universo de Nárnia.
Nos dias de hoje, apesar de não ser visto com bons olhos por alguns críticos e leitores que consideram suas obras conservadoras demais, está claro que a popularidade de Lewis se recusa a diminuir. Aproximadamente dois milhões de cópias dos seus livros são vendidos a cada ano nos Estados Unidos e Reino Unido, e com as futuras adaptações da Netflix, a tendência é esses números crescerem ainda mais.
Se você nunca leu As Crônicas de Nárnia, e quiser investigar ainda mais esse universo fantástico, há sempre tempo. Nele, as crianças são importantes e nunca subestimadas. Porém, caso você procure leituras mais adultas, há vários outros títulos do autor para você escolher.
Leia também:
Mestres da Literatura – J. R. R. Tolkien
Mestres da Literatura Fantástica – Neil Gaiman
Fique com: