[CRÍTICA] Star Wars: A Ascensão Skywalker – A ruína da Força
[CRÍTICA] Star Wars: A Ascensão Skywalker – A ruína da Força
O filme mais decepcionante do ano!
Star Wars é, sem a menor sombra de dúvidas, uma das maiores franquias do entretenimento mundial. Ao todo, já tivemos mais de uma dezena de filmes, além de jogos, séries de TV, quadrinhos e muitos outros lançamentos no chamado “Universo Expandido”. Agora, chega aos cinemas A Ascensão Skywalker, o filme que promete encerrar de vez a saga principal desse universo.
Com o retorno de J.J. Abrams e um elenco de peso, o filme reúne personagens novos e antigos em uma aventura que promete dar aos fãs tudo o que eles querem. Mas será que esse novo capítulo na franquia é capaz de unir o útil ao agradável, criando de vez a ponte entre os fãs saudosistas e a nova geração? Aqui, você pode conferir a nossa crítica do filme!
Créditos: Disney
Ficha Técnica
Título: Star Wars: A Ascensão Skywalker (Star Wars: The Rise of Skywalker)
Direção: J.J. Abrams
Roteiro: Chris Terrio e J.J. Abrams
Ano: 2019
Data de lançamento: 19 de dezembro (Brasil)
Duração: 141 minutos
Sinopse: Os membros sobreviventes da Resistência encontram a Primeira Ordem mais uma vez, no capítulo final da saga da família Skywalker!
Star Wars: A Ascensão Skywalker – A ruína da Força!
2019 não está sendo um ano bom para o encerramento de franquias. Tudo bem que Vingadores: Ultimato conseguiu conquistar a maior parte de seu público, mas Game of Thrones, X-Men: Fênix Negra e, agora, Star Wars: A Ascensão Skywalker são as provas vivas que o ano não está sendo gentil com o público nerd. Ou talvez, no caso do último filme da nova trilogia de Star Wars, talvez o ano esteja sendo gentil demais.
É um eufemismo dizer que essa nova trilogia está dividindo os fãs da saga. Se, por um lado, a geração mais saudosista está repudiando o foco dado aos novos personagens, como Rey, Finn, Poe Dameron e Kylo Ren, a nova geração parece estar abraçando a ideia de que algumas coisas precisam mudar. Porém, após a grande controvérsia de Os Últimos Jedi, parece que a Disney quis puxar o freio nessa cisão dos fãs.
Por conta disso, A Ascensão Skywalker tenta conciliar o novo e o antigo em um filme que é, na mais eufemista das colocações, seguro. Desde seus primeiros segundos, somos apresentados ao universo familiar com a volta de um personagem muito importante para a franquia – e se você viu ao menos algum dos trailers do filme, já sabe de quem eu estou falando.
Porém, o que poderia ser a chance perfeita para apaziguar os dois lados de uma guerra do entretenimento acaba sendo uma das experiências mais genéricas, decepcionantes e mal-formuladas da franquia, fazendo até que A Ameaça Fantasma e O Ataque dos Clones soem como duas obras-primas à frente de seu tempo. O longa é corrido, desajustado e não sabe conciliar nem sua trama, quanto mais o encontro entre as duas gerações de heróis.
A trama desconsidera, em boa parte, o que foi estabelecido no Episódio VIII. Na verdade, tirando toda a trama envolvendo Luke Skywalker e o treinamento de Rey, mal vemos referências aos eventos do filme anterior – e eu entendo que isso possa soar como um alívio para aqueles que ficaram descontentes com o que foi apresentado em Os Últimos Jedi. Fosse feito do jeito certo, até eu ficaria.
No entanto, o longa tenta “passar um pano” nas mudanças feitas na franquia, de uma forma extremamente genérica e comercial – o que deixa claro que, mais do que um filme de J.J. Abrams, esse foi um filme feito por executivos da Disney, que estavam receosos em “cutucar a ferida” e subverter as expectativas dos fãs. A partir daí, tudo ocorre do modo mais previsível possível, em direção a um final que pode ser pressentido mesmo sem a Força.
De muitas formas, é até interessante notar o paralelo entre os dois filmes. Enquanto Os Últimos Jedi realmente continua a história de seu antecessor, mas levando a franquia a territórios novos e inexplorados, A Ascensão Skywalker é o tipo de filme que ignora tudo que foi estabelecido anteriormente para dar lugar a uma conclusão nitidamente apressada e segura, tudo para não irritar os fãs.
Então, se o filme de Rian Johnson se propôs a ser um dos experimentos mais corajosos da década, a nova aventura comandada por J.J. Abrams nunca sai de sua zona de conforto. Cada decisão “corajosa” é imediatamente retificada, tudo no desespero para não irritar a fanbase e criar um filme rentável o suficiente para encher os bolsos da Disney e garantir novos lançamentos nos próximos anos.
E não entendam mal – está tudo bem em jogar na zona de conforto. O problema é quando isso é feito da maneira mais relapsa e genérica possível, criando um filme que definitivamente não vai “ofender” ninguém, mas que também jamais será coroado como um dos capítulos essenciais da saga. A impressão que fica ao público mais leigo é que Johnson e Abrams sequer sentaram para conversar sobre seus planos para a franquia.
Claro que dizer que esse filme é uma catástrofe completa é um exagero dos grandes. Há momentos divertidos e que realmente passam o “espírito de Star Wars” – mas eles não estão lá como parte orgânica da trama ou dos personagens, e mais parecem elementos precisamente orquestrados em nome da nostalgia e do fanservice – duas coisas que estão assassinando o cinema blockbuster por suas doses exageradas.
Até mesmo a aparição de personagens clássicos, como o Imperador Palpatine e Lando Calrissian, não parecem elementos favoráveis à história e à narrativa da nova trilogia. Essas “aparições de luxo” certamente vão colocar um sorriso no rosto dos fãs mais nostálgicos – mas quando paramos para pensar no quadro geral, são momentos em que a Disney vira para o público e fala: “Queria fanservice? Então toma fanservice!”
Aliás, a tragédia é anunciada na própria configuração do filme. A edição é rápida e cheia de cortes secos, enquanto a ação é mostrada de uma forma irrefreável e insustentável. É quase como se o filme não quisesse que nós respirássemos e percebêssemos que muitos detalhes de sua trama não fazem sentido, e são explicadas apenas na base da pura coincidência narrativa. Mais de uma vez a coesão da história é engolfada por furos gritantes de roteiro e ligações fortuitas – porém incoerentes – para movimentar a trama.
A parte técnica é uma prova considerável de como o filme parece não ter um norte. Após O Despertar da Força e Os Últimos Jedi – dois filmes que, apesar de dividirem o público, conquistam pelo seu visual único e surpreendente -, A Ascensão Skywalker soa como uma empreitada feita sem o menor zelo. Não há um cuidado na hora de criar ambientes, planetas e criaturas, e o resultado parece mais uma paródia do Saturday Night Live que um filme oficial de Star Wars.
Pegue, por exemplo, a cena da devastação provocada pela Base Starkiller em O Despertar da Força ou até mesmo a luta de sabres de luz no aposento vermelho do Supremo Líder Snoke em Os Últimos Jedi. São momentos icônicos que mostram a primazia técnica da direção, da equipe de arte e até mesmo do departamento sonoro. Não há uma cena sequer que se compare a isso aqui.
E se a trilogia prequel pecou pelo excesso expositivo e pelas megalomanias de George Lucas, o Episódio IX é um convite ao vazio. É um filme que fala muito, mas que nada tem a dizer sobre a saga ou mesmo sobre seus personagens. Um exemplo assustador disso é o que é feito com a General Leia ao longo da trama. Em vez de soar como uma homenagem à Carrie Fisher, parece um desrespeito à atriz e à sua personagem.
Na verdade, o único personagem (seja clássico ou novo) que é bem aproveitado no filme é C-3PO, que tem um grande destaque até o segundo ato do longa, até desaparecer de vez no meio da balbúrdia causada por duelos de sabres de luz e naves espaciais.
Entretanto, é necessário dar o devido crédito ao elenco, que realmente se esforça para tentar fazer o melhor que pode com um roteiro tão pobre. Daisy Ridley, John Boyega, Oscar Isaac, Adam Driver e até mesmo os icônicos Billy Dee Williams e Carrie Fisher (em uma performance póstuma, feita a partir de fragmentos de cenas gravadas para os longas anteriores) trazem emoção e complexidade para personagens escritos de forma fria e rasa.
E por falar no roteiro… precisamos saber o que aconteceu com Chris Terrio. O roteirista já foi uma das “promessas” dessa geração, tendo inclusive ganhado o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado por Argo. Nos últimos anos, ele parece só ter se metido em projetos furados, seja nesse novo filme de Star Wars ou em Batman vs Superman e Liga da Justiça.
A trama não faz sentido e depende de uma série de elementos clichês, como macguffins e exposições desnecessárias. Além disso, tudo é explicado convenientemente pela Força – até mesmo quando alguns personagens tomam decisões burras e altamente questionáveis. Algo sumiu aqui? Foi a Força! Rey descobriu um novo poder? É o efeito da Força! Esse elemento narrativo extremamente importante apareceu casualmente do lado dos personagens que precisavam achá-lo? A Força é poderosa aqui!
Isso tudo acaba criando uma atmosfera de descrença que, até então, podia ser suspendida com facilidade. Mas a partir do momento em que Rey ou Kylo Ren começam a usar a força para teleportar a si mesmos ou objetos apenas quando é necessário para a trama, temos um problema grave de suspensão da descrença.
No fim das contas, o seu entendimento – e até mesmo apreço – por A Ascensão Skywalker vai depender totalmente do tipo de fã que você é. Se você quer uma obra “segura”, que não se arrisca em nenhum momento e nem oferece grandes desafios para o público, o filme foi feito exatamente para você. Agora, se você gosta de ser surpreendido, talvez seja melhor esperar pela estreia de Cats na semana que vem.
O saldo final é um filme decepcionante, que até tenta dar uma conclusão digna para a história da Família Skywalker – ainda que de um jeito genérico e amador. Nem parece uma obra de J.J. Abrams, que dez anos atrás estava chocando os fãs de Star Trek com seu reboot revisionista da franquia. É um filme sem alma e sem identidade, que faz os piores filmes da franquia parecerem obras incompreendidas.
Aliás, aqui também é importante levantar um questionamento: talvez o molde de trilogias esteja completamente ultrapassado para os padrões de Star Wars. Em A Ascensão Skywalker, vemos três filmes sendo condensados em um só, apenas para criar uma conclusão que “respeite” todos os lados do fandom e não ofenda ninguém.
Porém, isso é extremamente crítico para uma franquia que sempre se provou corajosa e inovadora, seja na sua abordagem de fantasia e ficção científica dos filmes originais ou na abordagem política dos prequels. O resultado é uma obra que comprova nossos piores temores: a Força está em ruínas, e não sabemos quando ela despertará novamente.
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Na galeria abaixo, fique com cartazes do longa:
Star Wars: A Ascensão Skywalker está em cartaz nos cinemas.