[CRÍTICA] Midsommar: O Mal Não Espera a Noite – Não há nada mais letal que a luz do dia!

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[CRÍTICA] Midsommar: O Mal Não Espera a Noite – Não há nada mais letal que a luz do dia!

Por Gus Fiaux

Após ter feito um estrondo com sua estreia diretorial em Hereditário, o cineasta nova-iorquino Ari Aster retorna aos cinemas por seu mais novo projeto, intitulado no Brasil como Midsommar: O Mal Não Espera a Noite. O longa, estrelado por Florence Pugh Jack Reynor nos leva a um festival pagão em um pequeno vilarejo na Suécia, onde os personagens logo descem em uma espiral de loucura e violência.

Com uma estética impressionante e um estudo de personagens que já se tornou característico do diretor, o longa consegue se provar como um sucessor à altura de Hereditário? O horror aqui representado realmente consegue quebrar barreiras, mesmo com suas inúmeras influências? Nós já conferimos o filme, e aqui você pode ler a nossa crítica de Midsommar. Que as festividades comecem!

Ficha Técnica

Título: Midsommar: O Mal Não Espera a Noite (Midsommar)

Direção: Ari Aster

Roteiro: Ari Aster

Ano: 2019

Data de lançamento: 19 de setembro (Brasil)

Duração: 147 minutos

Sinopse: Um casal viaja para a Suécia para visitar um festival de solstício de verão em uma aldeia minúscula. O que começa como férias idílicas no paraíso logo se transforma em uma competição violenta e bizarra, manipulada por um culto pagão.

2019 está sendo o ano em que os astros se alinharam novamente. Todos os grandes diretores do famigerado “pós-horror”, “horror elevado” – ou apenas… horror indie – trouxeram novos filmes neste ano. Jordan Peele soltou seu aclamado NósRobert Eggers Jennifer Kent se preparam para retornar aos cinemas com O Farol The Nighingale, e agora Ari Aster está de volta com Midsommar: O Mal Não Espera a Noite. 

O filme, anunciado há poucos meses, traz de volta alguns elementos que já estavam presentes na estreia diretorial de Aster, Hereditário. Temos aqui um culto pagão e uma trama que gira fortemente nos dramas pessoais de sua protagonista, até que a realidade começa a se mesclar com o mais puro horror. Ainda assim, pode esperar por um filme bem diferente de Hereditário, em vários outros quesitos.

Midsommar segue um casal que vai para a Suécia para testemunhar um festival de Solstício de Verão durante nove dias. De um lado, temos Dani, uma mulher atormentada por uma tragédia recente em sua família. Do outro, vemos Christian, um rapaz acomodado que já quer terminar seu relacionamento há um bom tempo, mas que continua “empurrando com a barriga” enquanto a crise do casal não passa.

E eles não vão sozinhos até a Suécia. Na verdade, Christian é convidado por um colega de faculdade, chamado Pelle, que morava no vilarejo. Além deles, outros colegas de Pelle são convidados, como Josh e Mark, que veem a oportunidade de conhecer uma nova cultura – e festejar em um local completamente desconhecido.

Já é importante ressaltar, de início, o quanto as atuações são o ponto alto do filme, especialmente Florence Pugh. A atriz inglesa dá tudo de si em sua performance como Dani. De muitas maneiras, ela se entrega tanto à personagem como Toni Collette em Hereditário, ainda que de uma maneira diferente em relação à sua história.

O restante do elenco não deve em nada. Jack Reynor, William Jackson Harper Will Poulter vão muito bem como o trio de amigos Christian, Josh e Mark. Porém, é inegável que todos os holofotes estão sempre circulando o rosto de Pugh, que tem os melhores momentos do longa.

E isso, é claro, vem diretamente de Ari Aster, um diretor que prova novamente como consegue dirigir seus atores em momentos de desespero, de tortura psicológica e até mesmo de loucura. Em Midsommar, ele mostra habilidade em transportar tudo isso para um ambiente diferente do que estamos acostumados em filmes de horror.

Por mais que o folk horror já tenha tido diversos exemplares ao longo dos anos – incluindo o mais clássico de todos, O Homem de Palha, que parece ser a inspiração principal por trás deste novo longa -, Midsommar é um filme de horror diferente de tudo que já vimos. Sua fotografia não foge da luz do sol. As cenas são quase sempre iluminadas e bem claras, provando que os nossos medos não habitam apenas no escuro ou na luz do luar.

Nesse sentido, a parte técnica é um primor inigualável. Correndo o risco de parecer muito parcial, digo sem temer que Midsommar é um dos filmes de terror mais bonitos de todos os tempos, tanto pela sua fotografia quanto pelo design de produção – que é impecável até nos mínimos detalhes -, nos seus figurinos direção de arte.

Além disso, há um efeito bem interessante usado ao longo de todo o filme, que mostra um pouco do estado mental de seus personagens. É uma coisa mínima, mas que serve também para desorientar o público e mostrar como a realidade dentro daquele culto muda constantemente.

No que diz respeito aos efeitos mais gráficos do horror, Midsommar está muito mais preocupado em chocar do que assustar. Por conta disso, não espere jump scares ou efeitos apavorantes, mas fique de olho em cenas realmente repulsivas, que provam como Ari Aster quer ter um domínio mais completo das sensações causadas no público.

Em termos de roteiro, o filme se apresenta de uma maneira bem interessante. Assim como os personagens americanos, caímos dentro da cultura do vilarejo sueco de paraquedas. E boa parte da trama do filme se esforça em nos fazer conhecer mais a respeito das tradições locais, com uma perspectiva distanciada e que em momento algum acusa os pagãos e cultistas como “vilões”.

Isso talvez seja um dos maiores acertos do filme. Todos os momentos de horror e de morte acontecem porque os personagens “forasteiros” se metem ou interferem desrespeitosamente na cultura alheia, o que funciona como uma crítica sagaz à maneira como muitas pessoas privilegiadas se veem como o “centro do mundo” e relativizam todas as tradições como bárbaras, se não condizem com suas realidades.

E é justamente esse choque cultural que impulsiona a trama de Midsommar. Um dos poucos defeitos do filme é dar um foco tão excessivo a isso que alguns desenvolvimentos de personagens são deixados de lado, de forma que alguns entram e saem de cena sem muita cerimônia, de modos muito abruptos. É nesse sentido, inclusive, que o corte estendido do filme, que vai contar com quatro horas de duração, deve vir muito bem a calhar.

Ao mesmo tempo, por mais que Aster foque bastante nos costumes e na realidade do vilarejo, muitas coisas não são totalmente explicadas. Muitos dos rituais e das cerimônias são vistos com um certo distanciamento, e não sabemos muito bem o que está sendo planejado com exatidão. Isso funciona até certo ponto, já que mostra ao público uma perspectiva limitada.

É como se soubéssemos apenas o que os protagonistas sabem, com poucos vislumbres do “plano geral” das coisas. Nisso, o filme lembra bastante outro lançamento aclamado da A24, o horror sobrenatural Ao Cair da Noiteque também não se revela por inteiro para o público, deixando algumas lacunas para serem preenchidas pela imaginação de quem assiste.

Então, se você espera uma resolução completamente sobrenatural como em Hereditário, pode se decepcionar um pouco – até porque o filme nunca toma a questão sobrenatural como garantida. Tudo é muito ambíguo, e embora vejamos as ações de um culto pagão, jamais vemos a ação de uma entidade pagã – ao menos, não explicitamente.

Ainda assim, trata-se de mais um acerto na conta de Aster e da A24. Embora alguns detalhes possam ser melhor elaborados na versão estendida, o corte cinematográfico já consegue se provar uma boa obra de arte, com duas horas e meia de duração que se esvaem em um piscar de olhos. Toda a construção narrativa e simbólica do filme é um deleite para olhos mais atentos.

Com muitos detalhes que precisam ser vistos e revistos diversas vezes, Midsommar: O Mal Não Espera a Noite pode ser lido, em primeiro plano, como um horror rural sobre um culto pagão. Mas, como é tradição da filmografia de Ari Aster, é também um estudo dissecado sobre a dor da perda e a ruptura de um término, tudo encoberto por uma fachada aterrorizante.

Nesse sentido, o diretor se prova mais uma vez como uma das grandes promessas do horror contemporâneo, desviando de alguns tabus e mostrando um filme que não depende do escuro para assustar. Como é dito em uma das músicas da banda britânica Florence + The Machine, “eu nunca imaginei que a luz do dia pudesse ser tão violenta”. Mas nesse caso, ela é. E não apenas violenta – ela é letal.

Na galeria abaixo, fique com imagens do filme:

Midsommar: O Mal Não Espera a Noite está em cartaz nos cinemas.