Como surgiu o cinema blockbuster?
Como surgiu o cinema blockbuster?
Um passeio pela história do cinema!
Sabe aquele tipo de filme-espetáculo repleto de efeitos visuais impressionantes, que ocupa um mar de salas de cinema, e que possui uma infinidade de sequências? Bom, eu sei que você sabe, pois é geralmente sobre eles que falamos por aqui. Conhecido como “cinema blockbuster”, esse tipo de filme é resultado de uma série de eventos que envolvem êxitos e fracassos da gigantesca indústria cinematográfica, ao longo dos anos.
Em tempos de universos compartilhados, franquias bilionárias, continuações, reboots e remakes, promovemos aqui uma viagem pela história do cinema a fim de compreendermos tudo o que nos fez chegar aonde estamos hoje.
E para começar, é interessante entender o que significa o termo “blockbuster”, que é designado a esses filmes populares, de grande orçamento, massiva divulgação e gigantescas arrecadações. De origem inglesa, a palavra blockbuster pode ser traduzida como “Arrasa-Quarteirão”, e remonta do início dos anos 40, quando o mundo estava em guerra, e bombas eram lançadas de porta-aviões com o intuito de destruir quarteirões inteiros. No âmbito da indústria cinematográfica, a palavra foi usada pela primeira vez para se referir ao filme Tubarão, de 1975, que se tornou um fenômeno cultural e quebrou recordes inimagináveis para a época.
Porém, é claro que a história do filme blockbuster começa muito antes de 1975, antes de Steven Spielberg se mostrar um verdadeiro mestre de contar história nas telas. Se pudéssemos lembrar de um ano específico para cravar a origem do cinema arrasa-quarteirão, ele talvez seja 1939.
Naquele ano, foram lançados o icônico O Mágico de Oz, o faroeste No Tempo das Diligências, e um dos filmes mais famosos da história de Hollywood, …E o Vento Levou. Este drama épico e romântico de quatro horas foi aclamado pela crítica, ganhador de 8 Oscar e um verdadeiro sucesso de bilheteria, se tornando o maior êxito financeiro da história do cinema. Para você ter uma ideia, se as maiores arrecadações mundiais fossem ajustadas pela inflação hoje, ...E O Vento Levou somaria quase 4 bilhões de dólares, deixando para trás com muita folga filmes como Avatar, Titanic e Vingadores: Ultimato.
A partir disso, o cinema viu o que viria a ser conhecido como a Era de Ouro de Hollywood, com vários filmes clássicos recheados de estrelas sendo lançados todos os anos até meados da década de 60, quando a indústria cinematográfica se viu diante de uma crise que mudaria tudo.
Os dito blockbusters da época acabaram por se tornar verdadeiras bolhas de gastos, que no fim não aguentou e acabou estourando nas bases dos estúdios. O prejuízo foi imenso.
Naquela época, os filmes estavam ficando cada vez mais caros e ironicamente menos lucrativos. O público estava exausto de ver sempre os “mesmos filmes” em cartaz. A TV já havia provado que viera para ficar, e os bancos não estavam mais dispostos a ceder dinheiro aos grandes conglomerados hollywoodianos. O resultado foi produtoras que faliram, diretores que tiveram carreiras destruídas e atores que nunca mais deram às caras nas telas.
A solução acabou vindo por meio de um grupo de jovens cineastas que passaram a ditar as regras no cinema-americano, na fase conhecida como A Nova Hollywood. Eles eram garotos com vontade de fazer cinema do jeito deles, fugindo da estética e do modelo de produções estabelecidos pela Hollywood Clássica. O estúdios, é claro, não estavam realmente satisfeitos em ceder, mas viram que essa galera realmente sabia fazer cinema, e que seus filmes estavam caindo no gosto da crítica e do público. Nomes como John Cassavetes, Arthur Penn, Martin Scorsese e Francis Ford Coppola foram alguns dos grandes destaques do movimento.
Destinados a dar a volta por cima e fazer cada vez mais grana, os estúdios decidiram contratar alguns desses autores para realizar filmes baseados em livros de sucesso, como O Poderoso Chefão e O Exorcista, que ganharam obras cinematográficas aclamadas e verdadeiros rompantes de bilheterias da época.
Mas foi mesmo com a chegada de um jovem judeu inexperiente chamado Steven Spielberg que os estúdios conseguiram virar o jogo. Spielberg era cheio de ideias inovadoras, mas diferente da maioria dos cineastas com que os chefões estavam precisando lidar naqueles tempos, ele não tinha o mesmo perfil subversivo e o senso de rebeldia. Ele estaria disposto a se comprometer com uma adaptação do livro de Peter Benchley, Tubarão, com a promessa de que teria mais liberdade em projetos futuros. Era só o que a Universal Pictures precisava.
Tubarão teve um grande investimento por parte do estúdio, com direto a propagandas na TV – algo que na época era inédito – além da criação de uma variedade de produtos baseados no filme, como disco de trilha sonora, brinquedos, camiseta, livro de bastidores e etc. A aposta foi certeira, pois Tubarão estabeleceu grandes recordes, se tornando o primeiro filme a ultrapassar a marca de 100 milhões de dólares apenas nos Estados Unidos. No mundo todo, 470 milhões de dólares foram somados, e naquele momento, o público estava enfim diante do primeiro blockbuster da história.
O filme impactou até mesmo nas datas de lançamento visadas pelos estúdios. Tubarão foi lançado no verão, numa época considerada ruim para os negócios de cinema, já que nessa estação as pessoas não estavam dispostas a ficar trancadas numa sala escura. Mas contrariando todas as expectativas, o filme fez um estrondo nos dias quentes e abriu caminho para as sagrada estreias de verão.
O sucesso de Tubarão não demorou muito tempo a ser superado, comprovando mais uma vez que o cinema arrasa-quarteirão era o maior negócio da indústria. Dois anos depois, em 1977, Star Wars chegou aos cinemas e viu o mundo se curvar diante do nascimento de um dos maiores marcos da cultura pop. O filme foi produzido com muito desdém por parte dos executivos, que não botavam fé no negócio de George Lucas.
Mas a ópera espacial de história simples que misturou elementos mitológicos e muita ação foi um verdadeiro sucesso, superando os recordes de Tubarão e se tornando um hit no mundo todo.
Star Wars rapidamente ganharia duas sequências de sucesso – uma tendência tão comum nos dias de hoje que chega a ser difícil imaginar um mundo onde isso não era uma regra. Os filmes fomentaram o gosto pelo cinema de ficção científica, que a partir daí foi feitos aos montes, sendo até hoje um gênero muito frequente na indústria.
Como os maiores nomes do cinema então sendo Steven Spielberg e George Lucas, é claro que os cineastas se uniram e criaram a lendária franquia Indiana Jones, que logo se juntou ao panteão do cinema blockbuster. Spielberg também se aventurou por uma infinidade de filmes nos anos que se seguiram, tanto dirigindo quanto produzindo, e das mãos dele saíram blockbusters como Contatos Imediatos de Terceiro Grau, ET – O Extraterrestre, Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros e De Volta para o Futuro, neste último ele atuou como produtor.
O cinema oriental também teve um papel importante para o cinema blockbuster, pois foi ele que inspirou os grandes clássicos de ação americanos dos anos 80, como os sucessos estrelados por Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Jackie Chan, Jean-Claude Van Damme e Sylvester Stallone.
Filmes baseados em quadrinhos começaram a dar seus primeiros passos, sendo Superman, estrelado por Christopher Reeve, um verdadeiro marco para o cinema. Sequências estreladas por Reeve foram lançadas, mas nenhuma tendo o mesmo êxito comercial e de aclamação que o primeiro. No final dos anos 80, era a vez do Batman ganhar sua primeira adaptação “séria”, missão que foi concedida ao cineasta Tim Burton.
Batman, com Michael Keaton e Jack Nicholson, fez bastante grana, se tornando a maior bilheteria do ano de 1989. E tal qual Superman, ganhou várias sequências, algo que aos poucos se provou uma péssima ideia, com o ápice sendo o famigerado Batman & Robin.
Naquele ponto dos anos 90, já havia ficado claro para os donos de estúdio: o negócio era se apoiar em marcas já estabelecidas ou produtos culturais existentes. Não havia mais razão para se arriscar em fazer um filme original, era mais fácil fazer o público sair de casa para assistir algo com a qual ele já tenha familiaridade.
E eis que no início dos anos 2000, a principal fonte do cinema passaria a advir da literatura fantástica e dos quadrinhos. O Senhor dos Anéis, trilogia baseada na obra de J.R.R. Tolkien se provou um monstruoso sucesso, e junto a ele chegava também Harry Potter, a saga do menino bruxo escrita por J.K. Rowling que mudou o jogo e fez Hollywood apostar todas as fichas em franquias de fantasia.
Harry Potter fez os estúdios perceberem que franquias destinadas ao público infanto-juvenil era um ponto pouco explorado. Os filmes foram levados às telonas à medida em que Rowling ainda escrevia a saga de livros. Eles foram verdadeiro sucesso de bilheteria e ainda renderam uma gama infinita de produtos, incluindo gigantescos parques de diversões em Orlando e em outros complexos mundo afora.
Mas quando falamos de cinema blockbuster hoje, a primeira coisa que nos vem à cabeça são os filmes de super-heróis, que hoje dominam a indústria cinematográfica. E podemos dizer que dois filmes em especial, lançados no início da década de 2000, foram essenciais para dar aos estúdios o fôlego para apostar nas histórias em quadrinhos: X-Men, de Bryan Singer, e Homem-Aranha, de Sam Raimi.
O êxito comercial e de crítica destes filmes renderam duas trilogias. Na década seguinte, ambas foram “revividas” no que chamamos de reboot, tendência essencialmente ligada ao cinema blockbuster nos dias de hoje. Mas sem dúvida, o grande legado deixado pelos dois filmes foi o lançamento da trilogia Batman, de Christopher Nolan, e o start para o gigantesco Universo Cinematográfico da Marvel.
Sinônimo de rendimento financeiro, os blockbusters atuais vivem do que chamamos de universo compartilhado, onde cada vez mais os filmes estão intrinsecamente ligados, fazendo com que um filme impulsione o sucesso do outro. Produtos licenciados também são essenciais na hora de promover os filmes e ao mesmo tempo lucrar com a promoção.
Além dos já citados reboots e universos compartilhados, o blockbuster atual também encontrou apelo na nostalgia, que hoje atua como uma verdadeira mina de ouro. Sendo vários dos arrasa-quarteirões, continuações de filmes “antigos” ou remakes de filmes queridos, como é o caso dos vários lançamentos recentes da Disney, que está atualmente revitalizando seus clássicos animados.
E como fica claro pelos números atuais (só até o início de novembro de 2019, seis filmes ultrapassaram a marca do bilhão), o cinema blockbuster está longe de morrer. Suas arrecadações estão cada vez maiores, e o interesse do público por novos também parece aumentar.
Em meio isso, há várias discussões pertinentes que questionam o modelo hollywoodiano atual. Afinal, esse tipo de cinema é frequentemente privilegiado pelos exibidores, ocupando uma grande quantidade de salas e diminuindo o acesso à filmes menores e independentes.
Enquanto isso, os filmes de médio orçamento estão cada vez mais escassos, com os estúdios investindo rios e rios de dinheiro em suas grandes produções, sempre voltadas para o mercado doméstico, mas especialmente, para o internacional.
De qualquer maneira, o cinema blockbuster sempre existirá, afinal estamos falando de uma indústria, não? O cinema mainstream é essencial para manter a engrenagem funcionando, e durante toda a história foi responsável por obras incríveis e inesquecíveis. Só torcemos para que, nesta próxima década, mais projetos criativos e originais se juntem à essa leva de remakes, reboots, adaptações e sequências. Afinal, com diversidade só temos a ganhar.
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