Avatar: maior bilheteria do cinema significa realmente sucesso?

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Avatar: maior bilheteria do cinema significa realmente sucesso?

Por Evandro Lira

Há 10 anos, James Cameron lançava o que seria até a data de hoje, o filme que mais arrecadou na história do cinema. São 2,788 bilhões de dólares, fruto de um frenesi causado no fim de 2009, onde não se falava de outra coisa na indústria do cinema. Avatar chegou como o projeto mais ambicioso do cineasta – e olha que estamos falando da mente por trás do fenômeno Titanic -, que se dedicou durante mais de uma década para fazer esse filme sair. Porém, analisando todo o sucesso de Avatar, um questionamento interessante a se fazer é: até onde os números realmente significam para a nossa cultura?

Claro que desde muito tempo vários títulos importantíssimos para o mundo do entretenimento alcançaram marcas incríveis, como as bilheteria domésticas de Star Wars, o tanto de Oscar que a trilogia O Senhor dos Anéis levou, os recordes da Marvel Studios, ou as inúmeras dezenas de idiomas para quais foram traduzidos os livros de Harry Potter. No entanto, é fácil perceber o que essas sagas têm em comum: elas deixaram seus legados na cultura pop. E quanto a Avatar, a gente não pode dizer o mesmo.

Que o filme bagunçou todo o cenário cinematográfico de 2009 é um fato, mas não demorou muito para que ele fosse colocado no limbo do imaginário popular. Sim, foram semanas fazendo bonito nas bilheterias, especialmente se lembrarmos que Avatar não é uma continuação, um spin-off ou um remake, assim como também não é baseado em livro, em jogo, ou em quadrinho. Avatar é uma história original. Há quem diga que é baseado em Pocahontas, mas vamos deixar isso de lado por enquanto.

Avatar é um dos raros exemplos de um filme que tinha tudo para ser marcante mas não foi. Há uma mitologia interessante, e embora o seu roteiro não seja o mais original de todos, há uma história realmente tocante sobre questões ambientais e imperialistas. E o que falar da sua parte técnica? O longa ganhou a atenção da crítica e do público especialmente pelo seu trabalho de captura de movimento e do ótimo uso do 3D. Ele também é bem competente em quase todos os seus aspectos, mas ainda assim é difícil encontrar alguém que genuinamente goste dele nos dias de hoje.

Quantos atores foram catapultados pelo lançamento do filme? Se você consegue lembrar o nome de algum personagem, é provável que você seja o único. Merchandising do filme, como camisetas e brinquedos eu nunca vi. Fãs acalorados discutindo e teorizando? Nada. Claro que isso pode até mudar com os lançamentos das lendárias sequências, mas é natural que o primeiro filme seja responsável por deixar o público apaixonado e ansioso para o próximo. E embora acredite que muita gente vá querer conferir Avatar 2 no cinema, dá pra afirmar com certeza que poucos se sentem realmente tentados a saber o futuro daqueles personagens.

Avatar brilhou durante a sua estreia mas a luz se apagou quase que totalmente, não deixando nenhum impacto para a cultura pop. Aliás, dá até para dizer que deixou sim, mas não um positivo, pelo menos não para o consumidor de cinema. Avatar foi o responsável pelo renascimento do cinema 3D e a partir disso, os estúdios acharam uma ótima maneira de arrecadar mais dinheiro: fazer cópias que não mudam praticamente nada na experiência do espectador e enfiá-las goela abaixo juntos a óculos que dão dor de cabeça. Aah, valeu Avatar!

Falando assim até parece que o autor desse texto é um hater dos alienígenas azuis de Pandora, mas não, ele não é. Na verdade, eu sou um dos poucos que defende o filme enquanto… filme. Que acha ele um ótimo blockbuster e que está curioso para saber qual loucura James Cameron vai aprontar agora, afinal, não dá para negar que o cara é mesmo um visionário. Mas enquanto alguém que estuda além de cinema, cultura pop, é perfeitamente cabível apontar algumas coisas sem que meu gosto pelo filme fale mais alto. Avatar é um bom filme, mas que pouco importa.

É claro que a Fox não iria negar patrocinar as 4 novas sequências. Ela já havia aprendido há muito tempo que a James Cameron nada se nega. O cara é dono das duas maiores bilheterias do cinema exatamente quando todos não acreditavam muito no potencial dos seus projetos. Mas mesmo sabendo disso, não dá pra não ficar apreensivo com o resultado comercial desses filmes. São nada menos que 4 longas caríssimos que ninguém pediu! Minha única teoria é que eles devem estar mesmo tentando trazer algo novo e extraordinário para convencer as mesmas pessoas responsáveis pelos mais de 2 bilhões de dólares a voltarem ao cinema.

O que o futuro nos reserva com a franquia Avatar é difícil prever, mas agora, nas mãos da Disney, eu espero que o retorno a Pandora tenha mais a nos dizer do que a nossa primeira visita.

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