Afinal, um universo compartilhado faz tanta falta assim?

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Afinal, um universo compartilhado faz tanta falta assim?

Por Gus Fiaux

Não há nada como a pressão do mercado para fazer uma empresa – ou, neste caso, um estúdio – mudar seu planejamento em relação ao seu produto. Após anos de críticas e polarização dos fãs, a Warner Bros. viu que o Universo Estendido da DC Comics não estava indo muito bem das pernas…

Claro que essa não foi uma decisão tomada da noite para o dia. Quem acompanha a franquia há muito tempo sabe que o estúdio demorou a atender os pedidos. Homem de Aço hoje pode ser lembrado como uma das grandes adaptações do Superman nos cinemas, mas na época de seu lançamento, o filme dividiu os fãs como nenhum outro longa do herói.

Porém, o que era para ser uma franquia individual acabou rendendo um fruto desejado em Hollywood: dinheiro. Mesmo que não tenha feito uma bilheteria colossal, a Warner decidiu mudar um pouco a programação e investir em um universo compartilhado, nos moldes do que a Marvel já fazia cinco anos antes do lançamento de Homem de Aço.

Com isso, Zack Snyder foi chamado novamente para conduzir Batman vs Superman: A Origem da Justiça, enquanto David Ayer paralelamente produzia um longa menor e mais “experimental” em seu Esquadrão Suicida. E quando 2016 chegou, os fãs da DC não podiam estar mais polarizados.

É seguro dizer que Batman vs Superman é o filme de super-heróis mais controverso de todos os tempos. Até hoje, nos fóruns e comentários, podemos ver fãs se digladiando. Enquanto temos os detratores, que já não aguentavam a visão de Snyder para o universo da editora, há os que acham o filme uma obra de arte incompreendida, defendendo até a infame cena da Martha.

Mas isso é só a ponta do iceberg. Esquadrão Suicida se provou um sucesso comercial, mas foi destroçado pelos críticos e por uma boa parcela dos fãs, que comentaram sobre a bagunça visual, a falta de coesão da narrativa e vários problemas técnicos, como uma edição picotada e um roteiro mais furado que queijo suíço.

Esses dois filmes podiam ser o primeiro passo para que a Warner repensasse a estratégia em relação aos seus lançamentos – e de certa forma, foram. Saíram os executivos engravatados da diretoria da DC Films, dando lugar a Geoff Johns, que já sabe lidar com o universo dos quadrinhos.

Porém, temos que levar em conta que a produção dos filmes ocorre muito tempo antes de seu lançamento. Ou seja, uma mudança estrutural na base de produção pode não ser sentida de imediato, mas apenas anos depois de sua concretização.

Ainda assim, Mulher-Maravilha parecia ser a face de uma nova era. Apesar do clímax bagunçado, o filme foi o primeiro do Universo Estendido da DC a ter uma boa avaliação por parte dos críticos, que elogiaram a direção de Patty Jenkins e a interpretação emocional de Gal Gadot. O mundo parecia estar a salvo.

E então, veio Liga da Justiça.

Falar de Liga da Justiça é uma tarefa complicada e renderia um artigo à parte. No entanto, resumindo a ópera, o filme originalmente seria dirigido por Zack Snyder. O cineasta chegou a concluir as filmagens, mas se afastou da produção por conta de uma tragédia familiar.

A Warner precisava finalizar o longa, e chamou ninguém menos que Joss Whedon – sim, o diretor dos dois primeiros filmes d’Os Vingadores – para concluir a tarefa. No entanto, além de participar da pós-produção, Whedon fez várias mudanças e extrapolou o custo das gravações.

Em suma: o filme custou muito para ser feito, teve uma divulgação meia-boca e acabou sendo esculachado pela crítica. Mas não apenas isso: o longa também foi um fracasso nas bilheterias, fazendo muito menos do que o estúdio esperava. Pela primeira vez, a Warner sentia no bolso.

Desde então, mais mudanças executivas foram feitas. Um ano se passou, e Aquaman veio com uma nova proposta: filmes mais independentes, que tentem estabelecer os heróis de forma individual, sem grandes referências ou conexões ao restante do UEDC.

E isso parece estar funcionando.

Não apenas o longa foi um grande sucesso, como se tornou a maior bilheteria de um filme baseado em personagens da DC Comics, superando o bilionário Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge. E, daqui para frente, o estúdio parece querer se guiar por isso.

E é por conta disso que longas como Mulher-Maravilha 1984 e Shazam! Estão sendo priorizados em vez de super-produções como um Liga da Justiça 2, por exemplo. Até mesmo quando temos filmes de equipes, serão filmes mais “independentes” que não precisam da consciência de um universo compartilhado – vide Aves de Rapina, Novos Deuses e o novo Esquadrão Suicida, que funcionará como um “reboot” do primeiro filme.

Mas isso é ruim?

Depende de quem está falando. Pela primeira vez, estamos vendo a franquia tomar passos planejados, cautelosos e que analisam não apenas o mercado, mas também a qualidade de cada projeto e os diretores envolvidos. Dessa forma, até um filme dos Super Pets é motivo para se alegrar.

Tudo bem que dói não termos sequer notícia de um Homem de Aço 2 ou de um filme do Flash, e o estúdio certamente precisa se atentar para o clamor dos fãs. No entanto, o que mais vale no momento é a construção de filmes bons, que eventualmente podem se integrar e formar um universo – como deveria ser desde o princípio.

Com essa nova fase, a DC parece finalmente estar entrando nos eixos, e até mesmo Esquadrão Suicida 2 parece ser um filme mais elaborado, especialmente depois que o estúdio chamou James Gunn para escrever e dirigir o longa.

Além disso, após quatro filmes polarizantes, era necessário que o estúdio apostasse em uma fase de produções mais “unânimes”. E por enquanto, o sucesso parece estar perdurando – mas ainda precisamos de tempo para saber se ele vai se manter ou se foi apenas mais uma ilusão.

Na galeria abaixo, fique com imagens de Shazam!, o próximo filme da franquia: