A DC se rendeu à “fórmula Marvel”?

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A DC se rendeu à “fórmula Marvel”?

Por Guilherme Souza

Depois de 10 anos, a Marvel redefiniu o mercado de filmes baseados em super-heróis e mostrou que consegue rivalizar com outras franquias mais antigas do cinema, construindo um verdadeiro império cinematográfico e se tornando um exemplo para muitos outros estúdios. Embora os filmes baseados nos personagens da “Casa das Ideias” tenham conseguido conquistar uma legião de fãs ao redor do mundo, nem todos conseguem gostar do estilo adotado para as produções, principalmente os fãs da DC Comics, mas ao que parece, eles terão de se acostumar com isso, ou não.

Depois do sucesso dos filmes do Batman dirigidos por Christopher Nolan, a Warner Bros. chegou à conclusão de que poderia ser a pioneira no mercado de filmes baseados em super-heróis com uma pegada mais adulta e sombria, ainda mais quando a Marvel estava em uma curva crescente na produção de filmes dessa linha com classificações etárias mais baixas e com foco principal nas crianças. Com isso em mente, o estúdio convidou Zack Snyder, diretor de filmes como Watchmen e 300 para construir seu próprio universo cinematográfico baseado em personagens da DC.

Ao contrário da Marvel, a Warner precisava correr com a construção de seu universo, já que havia no mercado um concorrente forte e bem estabelecido, que sequer podia usar todos os personagens de seu universo dos quadrinhos, enquanto ela, como detentora de todos os personagens da DC, passou décadas produzindo apenas filmes baseados no Superman e no Batman (e algumas outras tentativas com outros heróis que não são dignas de menção).

Sendo assim, o estúdio mudou os planos iniciais de Snyder e descartou a ideia de uma trilogia de filmes focados no Superman para dar lugar ao início de um universo compartilhado com os personagens da Liga da Justiça. Acontece que essa correção de curso no meio do caminho teve consequências catastróficas no filme da equipe, ainda mais quando o Universo Iniciado por Snyder não havia sido tão bem aceito pela crítica e pelo público.

Embora o diretor tenha conseguido angariar uma grande parcela de fãs, que abraçaram por completo sua visão mais sombria dos amados personagens da DC, a resposta do mercado como um todo não foi tão positiva, já que, grande parte do público atual, busca em filmes de super-heróis elementos similares aos dos filmes do padrão Marvel, além do fato de que muita gente ainda enxerga filmes do gênero como algo voltado para crianças, com isso, quando você faz um filme dessa linha que não se comunica com as crianças, precisa estar preparado para um retorno financeiro significativamente menor, o que não era o que a Warner tinha em mente.

Como resultado, tivemos um filme estrelado por três dos maiores heróis do mundo (Batman, Superman e Mulher-Maravilha) que faturou muito menos do que o esperado, perdendo a liderança para um filme estrelado por heróis que eram considerados das Classes B e C da Marvel. Depois disso, a coisa ficou ainda pior com o lançamento de Esquadrão Suicida, que apesar de ter feito um sucesso considerável nas bilheterias, não passava de uma mistura bizarra entre o tom sombrio estabelecido por Snyder e uma tentativa falha de emular o sucesso da fórmula Marvel.

Preocupados com o futuro desse recente universo cinematográfico, os fãs respiraram aliviados com o lançamento de Mulher-Maravilha, que mostrou um passo muito mais seguro na direção correta, tanto em termos comerciais quanto em termos narrativos. Patty Jenkins conseguiu dar a leveza que a personagem precisava e conseguiu criar um filme que dá valor emocional para a heroína e a torna um exemplo para todas as faixas etários, algo bem diferente do que foi adotado nas produções anteriores.

Acontece que a alegria dos fãs não durou muito, já que, durante a produção do filme da Liga da Justiça, inúmeros problemas começaram a aparecer, problemas estes que levaram ao lançamento de um filme que foi um verdadeiro fracasso comercial e, mais uma vez, colocou o futuro desse recente universo cinematográfico de personagens da DC em xeque.

Disposta a mostrar que consegue fazer filmes com a qualidade que os personagens mereciam e tão bem-sucedidos quanto os da Marvel, a Warner resolveu mudar mais uma vez o planejamento e parece ter deixado de lado a ideia de construir filmes interligados, apostando em produções focadas individualmente em cada personagem, tendo como o primeiro teste dessa nova fase o filme solo do Aquaman, dirigido por James Wan.

O novo plano parece ter dado certo, já que o longa se mostrou um verdadeiro sucesso e está prestes a atingir a impressionante marca de US$ 1 bilhão em bilheterias, mas todo esse sucesso se deve à muitos outros fatores além de ser um filme isolado. Em Aquaman, vemos a Warner abraçando de vez a identidade caricata dos personagens da DC e mergulhando em uma produção cheia de cores, luzes, piadas e romance, ou seja, tudo o que os amantes dos filmes dirigidos por Zack Snyder mais odeiam. Mas além disso, o filme se mostra extremamente fiel aos quadrinhos, nos entregando um herói de verdade, que inspira o público, um vilão com uma boa motivação e diversos outros elementos que fazem dele uma história em quadrinhos que ganhou vida.

O novo tom parece ter vindo para ficar, já que, tanto Shazam! quanto Mulher-Maravilha 1984 também parecem beber dessa fonte mais colorida e divertida, mostrando que a Warner realmente abraçou o padrão de filmes da Marvel, mas isso não significa que o estúdio irá emular essa fórmula em todas as suas produções, já que o plano deles parece ser muito mais ambicioso.

No ano que vem, além do divertido e colorido Shazam!, teremos também um filme solo do Coringa, o maior vilão do Batman. Inicialmente, a produção foi recebida com incerteza pelos fãs, já que o longa conta a história de uma realidade alternativa que não se conecta com os demais filmes recentes da DC, contudo, no decorrer da produção, os fãs viram que a trama estrelada por Joaquin Phoenix tem um grande potencial e pode acabar sendo um dos maiores destaques do ano, além de terem a chance de ver um contraste entre um filme divertido e familiar e um filme mais adulto e sombrio, como uma grande parcela dos fãs da DC gosta.

Além de Coringa, a Warner Bros. já trabalha também em um filme das Aves de Rapina, que contará com a presença da Arlequina de Margot Robbie. Segundo informações do elenco e da diretora Cathy Yan, o longa será uma aventura restrita para maiores de dezoito anos, que promete seguir os moldes dos filmes solo do Deadpool, o que é ótimo, já que a Fox mostrou que é possível fazer um filme de super-heróis restrito para maiores e se obter muito sucesso.

Com isso em mente, podemos dizer que a Warner aprendeu com seus erros e descobriu que ela pode fazer produções baseadas em personagens da DC que agradem todos os públicos! Ao invés de se limitar em apenas tentar emular o sucesso da Marvel, o estúdio entendeu que seus fãs podem ser muito mais diversos e que ela consegue atender todos eles ao mesmo tempo, não necessariamente tendo de fazer todos os filmes adultos e sombrios para se destacar.

Por mais que muitos critiquem o estilo de filmes da Marvel, no fundo, muitos querem ver os heróis da DC fazendo coisas similares aos que os personagens da Marvel fazem nos cinemas. Um grande exemplo disso, é o fato de muitos terem criticado Tony Stark por ter aparecido no filme do Homem-Aranha, mas diariamente, vejo fãs sonhando com uma aparição do Superman no filme do Shazam, ou comentando que outros personagens da Liga da Justiça poderiam ter aparecido no filme do Aquaman.

Como podemos ver, parece que o futuro da DC nos cinemas é muito promissor. Além disso, no ano passado, também tivemos a estreia de Titans, primeira série original da plataforma de streaming DC Universe, onde mais uma vez, os fãs de produções violentas e sangrentas foram agraciados, mostrando que qualquer um pode se identificar com as produções da DC, independente da faixa etária.

Independente do estilo de filme que você goste, super-heróis foram feitos para nos inspirar e divertir, além do fato de que essas são produções caras e que precisam lucrar bastante, já que, nenhum estúdio faz filmes por caridade ou apenas para um determinado público (a menos que estejamos falando de filmes independentes e conceituais, o que não é o caso), com isso, a Warner pode distribuir melhor seus investimentos e lucrar o necessário com cada produção.

Fique com imagens de Shazam! em nossa galeria: