Westworld: 2×06-08 – O último sistema analógico em um mundo digital!
Westworld: 2×06-08 – O último sistema analógico em um mundo digital!
O incêndio da biblioteca de Alexandria não apagou a grandeza de suas histórias; na verdade, criou uma nova narrativa: o conto do próprio incêndio.
Estamos na reta final da segunda temporada de Westworld e o plano geral da trama já pode ser analisado de forma mais concreta. “Phase Space”, “Les Ecorches” e “Kiksuya” trouxeram mais respostas do que esperávamos. No entanto, abriram espaço para uma discussão ainda maior para o fim da temporada.
Isso se deve a três pontos específicos desses episódios. Em “Phase Space”, conhecemos o CR4-DL, que, como especulamos, é o sistema de backup dos Hosts – montado em uma simulação virtual dos parques Delos – e onde a consciência do Ford estava armazenada, controlando o parque desde a morte do seu corpo físico. Já em “Les Ecorches”, mais uma teoria é confirmada e entendemos que o Bernard é uma cópia completa do Arnold, tudo aquilo que o William e o James Delos esperavam conquistar. Por fim, “Kiksuya” nos leva até a história do Akecheta, o líder da Ghost Nation, a misteriosa tribo Lakota de Westworld. Um capítulo melhor que o outro.
Phase Space é onde encontramos várias peças-chave para a história até então. Entendemos a cena inicial da temporada, com a Dolores testando o Bernard e sua fidelidade ao Arnold e, no fim, ainda descobrimos que aquilo aconteceu em uma simulação virtual, no CR4-DL, diferente do sistema entre William e Delos.
Esse capítulo é incrível pelos momentos que proporciona – a luta final entre Musashi e Tanaka no Shogun World e a despedida entre Akane e Maeve; o reconhecimento da mudança que a Dolores fez no Teddy e o remorso da Host; a crueldade no tratamento da Charlotte ao Peter, que choca até mesmo o Stubbs; o encontro entre Maeve e sua filha; e, claro, o retorno do Ford.
É aqui que começamos entender melhor as ações da Dolores, enquanto vemos o quão desesperada a Charlotte está para atingir seus objetivos. Aprendemos que o projeto de “digitalização da consciência” tinha duas vertentes muito distintas e, principalmente, ganhamos pistas sobre o final da Maeve nessa temporada.
Seguindo, assistimos Les Ecorches, um dos episódios mais sensacionais e didáticos da série. Tudo faz mais sentido quando entendemos o objetivo principal de Westworld na visão da Delos: dissecar a consciência humana na intenção de digitalizar o último sistema analógico do mundo.
Os parques levam aos extremos as premissas de proporcionar aos Guests um lugar onde eles podem viver sem máscaras, sem limites. Isso porque são um campo de testes para entender como o ser humano funciona em suas bordas mais conflitantes e sombrias – vide o The Raj, que é específico para a caça e colonização, ou o Shogun World, mais violento que o próprio Westworld. A criação de mais parques faz ainda mais sentido, quando talvez o Westworld não fosse o suficiente para essa compreensão.
A Delos busca algo mais surreal que os próprios parques para oferecer ao público: a imortalidade. Como a Dolores pontua, depois de conhecer os Hosts, os humanos querem se tornar Hosts à sua própria maneira e, como o Ford coloca, deturpar a natureza original dos androides. E esse é o erro que a Delos comete, mas que o Ford e a Dolores conseguem superar na criação do Bernard.
Enquanto a Delos tende para quase uma clonagem – transferir a consciência de um humano para uma máquina de forma “fiel”, criando um híbrido entre humano e Host – o Ford rejeita a ideia porque a natureza dos Hosts impede que a consciência seja transferida de forma perfeita e aceite sua nova realidade. Os Hosts são seres únicos, originais, e precisam de uma consciência original. Assim surge o Bernard – criado pelas memórias do Ford e da Dolores, que simula o que o Arnold era em uma nova existência.
Importante notar todo o complexo divino do Ford no seu retorno e em sua fala sobre os Hosts. No fim das contas, ele é o Criador dos androides e parece que seu objetivo é proteger seus “filhos” de qualquer forma. Ele ainda esclarece o livre arbítrio da Dolores e dos Hosts no momento atual, afirmando que sim, a moça está em um papel, mas não, ela não está sendo controlada. Ela está consciente das suas escolhas – e essa é a parte mais interessante até então.
Quando a Dolores encontra seu pai nas mãos da Charlotte – e, no fim, conversa com a Maeve – é possível entender melhor o que está acontecendo com a personagem. Ao encontrar sua própria voz, sua decisão foi abraçar seu papel como Wyatt, vendo esse como o único caminho para a libertação dos Hosts. Isso não significa, porém, que é um destino que ela gosta; vemos o remorso e a dor da moça quanto ao Teddy e como ela trava quando a Maeve toca no assunto.
O mesmo vale no momento que ela precisa matar seu próprio pai para continuar – mesmo sendo consentido e um pedido dele. Ela sente se questiona, mas segue a Wyatt por conhecer a fundo o perigo dos humanos e da Delos, pelo seu ódio construído em todos esses anos e pelo remorso de suas ações. Ao encontrar a Maeve derrotada, ela parece decepcionada pelo caminho da “rival” não ter funcionado, reforçando que os seus fins violentos são mesmo necessários. Ela ainda age com a outra Host de forma diferente, reconhecendo o que ela alcançou e o que pode se tornar. Dolores deve crescer nos episódios finais.
Falando na Maeve, o destino da personagem está se tornando cada vez mais claro e perigoso. Com habilidades tão absurdas, ela acabou nas mãos da Delos. Não antes, claro, de acertar algumas contas com o William, uma cena épica, que fecha o ciclo iniciado lá na primeira temporada. O tema dessa temporada é “Reckoning”, acerto de contas – e estamos assistindo isso em cada um dos episódio.
Outra coisa importante desse capítulo é o tempo presente da história. Encontramos um armário de Bernards falhos e a Charlotte e a Delos “descobrem” o segredo do Bernard. Entre aspas porque essa jornada presente do personagem ainda está estranha. O Ford se instalou no núcleo do Bernard, mas, aparentemente, não está mais lá nesse tempo; Bernard, por sua vez, está com as memórias embaralhadas, distantes e não parece o mesmo que está agindo nos flashbacks. A resposta para isso deve chegar logo.
Alguns momentos que merecem ser mencionados: a tomada da Mesa pelos Hosts e o primeiro encontro entre Charlotte e Dolores; o Lee desesperado pela situação da Maeve – em vários sentidos; as ações do Ford controlando o corpo do Bernard – principalmente a cena do tiroteio, onde o lado mais sombrio e Hannibalístico de Anthony Hopkins vem à tona; e a destruição do CR4-DL pela Angela.
Muita gente se questionou sobre a destruição do CR4-DL, afinal, era um backup da consciência dos Hosts – algo que os tornava mais invencíveis que a situação atual. Porém, como a Dolores coloca, aqueles são grilhões; garantem uma “imortalidade” mais segura, mas são chances de retornar todos esses Hosts para sua versão controlada; são possíveis cópias desses Hosts no futuro, o que lhes tira sua individualidade e pode causar vários problemas; são suas próprias consciências presas para o uso da Delos. É uma ação arriscada, mas necessária para a liberdade.
E o CR4-DL foi destruído da maneira mais poética possível. A Angela era a garota propaganda do parque desde o início – sua função era seduzir e deixar todos querendo mais, mas nunca finalizar o serviço. A fala e atuação da moça foram de arrepiar, quando ela finaliza algo em sua existência – a antiga realidade de loops de Westworld, que ela própria vendeu e alimentou por mais de 30 anos. Agora, o próximo passo da revolução está nas mãos da Dolores, seguindo para o Vale.
Aí Westworld fez o que sabe fazer de melhor: parou a história e contou uma nova, que não esperávamos para agora, mas que se mostrou um complemento perfeito para os passos finais da temporada – afinal, uma das perguntas aqui é como todas essas histórias desembocaram no presente da Charlotte torturando o Bernard. Nessa semana conhecemos melhor a Ghost Nation e seu líder, Akecheta, o primeiro host completamente consciente do parque. Vale lembrar que já o conhecíamos da história da Maeve – quando ele aterroriza ela e sua filha em certo momento – e dos flashbacks das negociações com o Logan, quando ele estava junto da Angela na demonstração.
Sem dúvidas, esse é um dos melhores episódios de toda a série. Bem dirigido, bem escrito, bem encaixado, complementando tudo o que já sabemos de Westworld até então, preenchendo lacunas e expandindo a história. Isso sem contar no quão incrível foram as escolhas de elenco e as atuações. Kiksuya significa algo como “Lembrança” ou “Se lembre” na linguagem Lakota e é exatamente isso o que vemos: um flashback de toda a história do parque na visão de Akecheta e da Ghost Nation.
Akecheta faz parte dos Hosts originais, mas não foi morto durante o massacre em Escalante e o suicídio do Arnold. Na verdade, ele chega na cidade logo depois que a Dolores se mata e descobre o brinquedo com o Labirinto do cientista, ficando obcecado com a ideia – reconhecer o símbolo deve fazer parte dos “Reveries”, a última atualização que o Arnold deixa no parque – partindo em uma longa jornada para descobrir mais sobre.
Ele é o primeiro host completamente consciente por alguns motivos: a Dolores quase atinge sua consciência total, mas é reprogramada tantas vezes que só conquista o estado 30 anos depois. Em oposição, o Akecheta permanece longos períodos sem morrer e, por consequência, sem novas atualizações, avançando sem empecilhos em sua jornada de autoconhecimento. Isso não significa que ele não demorou também. Se os Hosts originais não fossem reprogramados tantas vezes, talvez todos tivessem atingido um grau de consciência algum tempo depois dos Reveries. Isso responde ainda a resistência de alguns personagens à realidade, como o Teddy – afinal de contas, só na primeira temporada, quantas vezes ele morreu mesmo?
Descobrimos que ele é quem encontrou e salvou o Logan depois do final da primeira temporada; que o Akecheta não estava ameaçando a Maeve e sua filha, mas tentando despertá-las e protegê-las; que as memórias dos hosts podem ser ativadas por outras coisas além de “violent delights” – tudo indica que precisa ser algo profundo o suficiente, como a frase trocada entre o Akecheta e sua esposa; que ele foi uma surpresa para o Ford e foi um dos motores para a nova narrativa; e, por fim, que ele pode ser o escolhido para liderar os Hosts no novo mundo e não a Dolores, quando ela parece ser uma inimiga do Akecheta desde o início. A ceifadora.
O despertar dele lembra muito o da Maeve, que é outra peça fundamental no episódio. É algo mais orgânico e os dois possuem objetivos aparentemente semelhantes – ainda que esse capítulo não tenha respondido quais são as intenções reais da Ghost Nation. As ações dos nativos são obscuras e só podemos especular.
Por sua vez, a Maeve está em uma situação desesperadora, com um destino que talvez seja surpreendente – para a personagem, pelo menos – e triste. Ela está nas mãos da Delos, quando o Lee finalmente se mostra afeiçoado a ela, mas também a entrega como uma arma valiosa para contra-atacar o avanço dos Hosts. Se as coisas seguirem o caminho mais visível, toda a construção da Maeve nessa temporada foi para a Delos ganhar uma ferramenta poderosa em sua resistência. Mesmo que a Dolores possua um exército e conhecimento, a Maeve foi quem explorou todo o potencial de sua existência como Host e ganhou um controle parecido com o Ford.
Interessante que mesmo nesse estado a Host está trabalhando suas habilidades. Ela é quem está conversando com o Akecheta e escutando sua história acessando tudo através de sua filha. Fica subentendido que ela também está despertando as memórias da menina, para que ela se lembre de suas vidas passadas. No fim, a Charlotte diz que ela está conversando com outros Hosts naquele momento, não ficando claro se é apenas com a filha e o Lakota ou algo mais. É importante lembrar que a Maeve não apareceu no presente da série e o Lee pode estar inclinado a tirá-la de lá.
Por fim, William está em trapos e a situação não deve melhorar. Encontrado pelo Akecheta, ele é mantido vivo para ganhar um fim pior que a morte. Isso até a Emily aparecer e levar o pai, garantindo aos Lakota que o que ela tem em mente é ainda mais cruel. O que a moça realmente quer do pai e do parque ainda é um mistério.
Assim, todos estão encaminhados para o Vale, para a Porta e para as respostas da temporada. Dolores e Akecheta são os representantes Hosts do embate final, que não deve ser amigável nem entre os dois – vide a moça matando o membro da Ghost Nation lá no primeiro episódio. Charlotte e Stubbs estão pela Delos, William e Emily possuem motivos distintos com o local e Bernard e Ford são peças confusas nessa situação toda. As reviravoltas devem ser pesadas e ainda temos o tempo presente para resolver. Isso em dois episódios. Preparados? Que “Vanishing Point” e “The Passenger” – nomes sugestivos, não? “Ponto de Fuga” e “O Passageiro” – sejam tão bons quanto os últimos capítulos.
E vocês, o que estão achando do desenrolar da temporada? Deixem nos comentários suas teorias e impressões sobre o segundo ano de Westworld até agora!
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Westworld vai ao ar todos os domingos, às 22h, pela HBO. Você pode assistir a série em tempo real também pelo HBO GO.