Westworld: 2×04-05 – O que cowboys e samurais têm em comum?
Westworld: 2×04-05 – O que cowboys e samurais têm em comum?
Revelações, samurais, ninjas, explosões e reflexos; o que mais podíamos pedir?
Em duas semanas, Westworld aprofundou ainda mais seu plot, dando meias-respostas e mais perguntas, expandiu o escopo de seu mundo, explicando nas entrelinhas mais do funcionamento dos parques, e até deu um tantinho de alívio cômico no meio do caos – além, é claro, de suas reviravoltas de fazer a cabeça dar um nó. Trabalho de mestre, não?
O quarto episódio, “The Riddle of the Sphinx”, pode ser considerado um dos melhores capítulos da série como um todo. E não é pela falta de personagem A ou B, mas pela forma como ele foi construído e contado. Finalmente começamos ter um vislumbre dos planos obscuros da Delos com o parque – e é tudo aquilo que esperávamos (ou talvez mais).
Assistimos duas histórias interligadas que avançaram consideravelmente o plot principal da temporada: Bernard, seguindo sua jornada misteriosa, e William em dois tempos, dando continuidade ao seu jogo com o Ford e seus empreendimentos duvidosos com os Hosts.
Várias coisas precisam ser pontuadas na trama do Bernard. Em primeiro lugar, não sabemos exatamente o porquê da Clementine levá-lo para aquele lugar – e ainda entregar uma arma para ele; também retomamos um plot da primeira temporada, quando a Elsie – que vinha sido creditada durante na série há tempos, então não é muita surpresa que esteja viva – reaparece e vemos que o Bernard foi instruído a deixá-la viva e “segura” desde o começo.
Todo esse plot faz você se perguntar o quão “livre” o Bernard está – da mesma forma que estão fazendo com a Dolores. É bom lembrar que a Elsie não é qualquer uma; ela estava apenas abaixo do Bernard lidando com a programação dos Hosts na primeira temporada. Ela investigou sozinha inconsistências que estavam acontecendo no parque e descobriu algo obscuro que ainda não sabemos o que é. Se tem alguém que pode ajudar o Bernard em sua jornada, seja lá qual ela seja, é essa moça. Tudo parece conveniente demais.
Sobre as descobertas no laboratório, é importante notar que o plot do novo wetware – o cérebro dos Hosts – é real e mais complexo do que parecia. Criar um híbrido de Host e humano, com um upload de uma consciência verdadeira no androide, não deve ser exatamente a “arma” que foi citada antes, mas um caminho para ela.
Vale notar que o Bernard tinha novamente acesso via DNA ao novo wetware, algo que deve ser explicado depois, e que levou um consigo, no passado, em uma missão dada aparentemente pelo Ford. Também, ele possui controle sobre os Drone Hosts, algo bem perigoso. Isso sem contar o massacre dos cientistas da Delos. Inocência não é mais um traço do Bernard.
Seguindo o William, sua jornada é, possivelmente, a mais clara e auto-referente da série. O jogo do Ford está levando o personagem a refazer o caminho do centro do labirinto até a saída, algo que deve trazer um desenvolvimento interno ao atual dono da Delos, assim como aconteceu com a Dolores. E essa aventura ainda dá mais pistas que contestam a liberdade dos Hosts.
Quando chegamos em Las Mudas, encontramos a cidade tomada pelos Confederados que sobreviveram ao massacre orquestrado pela Wyatt. A interação entre ele e esses personagens parece natural a princípio, mas ela força o Homem de Preto recordar vários momentos dolorosos de sua vida – sua relação com a filha, o suicídio da esposa. O Lawrence até dá uma pista de que sabe mais do companheiro de viagem do que deveria.
Vemos um espelho construído entre esses dois, feito para o William refletir sobre suas decisões e seu próprio caminho – onde a naturalidade se perde e o jogo do Ford aparece. Esse é um jogo feito para o William, no fim das contas, e a filha do Lawrence só confirma que aquilo pode sim ter sido uma narrativa. Isso cria uma implicância na história da Dolores, quando o que acontece em Las Mudas dependia do que a moça fez no capítulo anterior. Mas isso é apenas uma suposição.
E acertamos uma teoria bem simples: sim, a moça que apareceu no The Raj, sobreviveu ao ataque do tigre e foi capturada pelos nativos era mesmo a Emily, filha do William. Importante notar que os nativos possuem uma história própria se desenvolvendo e devemos ver mais disso em breve. Sobre a Emily, está claro agora que ela está atrás dos negócios do seu pai no parque – o que e para que exatamente, só saberemos nos próximos episódios.
Para fechar o 4, a melhor parte do episódio se desenvolveu ao redor de James Delos. As cenas com ele foram incríveis e mostraram um dos caminhos que a empresa estava seguindo: transferência da consciência humana para um corpo de Host em busca de imortalidade. Mas, no caso do Sr. Delos, isso não funcionou. William fala sobre a consciência rejeitar a própria realidade, como se não aceitasse entender sua nova condição. Não podemos, porém, aplicar isso a qualquer transferência – vimos o relacionamento entre William e Delos e ainda não conseguimos garantir que o Homem de Preto realmente queria o seu sogro de volta. Na verdade, é mais fácil acreditar no contrário.
A sequência do Delos traz várias referências ao Labirinto e aos Hosts – o formato da sala lembra o círculo da consciência do Arnold e o interior de um wetware, o disco tem o desenho de um labirinto, etc – mas fala muito sobre as consequências vindas de um “ser superior”. Sr. Delos repete várias vezes, “Se você quer enganar o Diabo, primeiro você precisa fazer um sacrifício”; “Mas não brinque comigo, porque você vai estar brincando com fogo”, é um dos versos da música dos Rolling Stones. Mas, claro, o discurso final, que fala sobre uma divindade e o demônio serem os mesmos, dois em um, é a mais importante.
Ele pode estar falando sobre o William, claro, afinal de contas aquele que parecia sua salvação tornou-se seu inferno. Na primeira temporada, ele era realmente dois em um, quando acompanhamos William e Homem de Preto. Mas isso pode se ligar a várias outras coisas: o projeto em si, que o próprio Logan disse que pode acabar com a humanidade; pode ser uma referência leve à Dolores, que é literalmente a donzela e o assassino em uma pessoa só; ao Bernard, que várias teorias dizem trazer a consciência do Arnold; ao Ford e suas direções para os androides; quem sabe?
Agora é hora de falar sobre o episódio dessa semana, o sensacional “Akane no Mai”, nossa primeira visita ao Shogun World. Não dá nem para descrever o quanto esse capítulo encheu os olhos visualmente, dando vida ao período japonês dos xoguns – com algumas ressalvas.
Esse episódio trouxe mais informações sobre como os parques funcionam: era estranho pensar em como tinham produzido histórias para os 6 parques e uma infinidade de hosts. Espelhar as histórias é a resposta mais pé no chão, engraçada e abre um leque de possibilidades. Os Hosts não são mais tão únicos assim – com exceção, aparentemente, dos originais – então, se despertos, como eles vão lidar com isso? Admiração, como a Maeve e a Armstice? Desconfiança, como o Hector?
Maeve e Akane deram um show nesse capítulo e é empolgante pensar em como tudo seguirá a partir de agora. Por mais parecidas que sejam, Akane rejeitou, a primeiro momento, a sugestão de acordar da Maeve. Foi um momento parecido com escolher a pílula vermelha ou azul de Matrix. Não sabemos o quanto isso vai durar, mas é interessante a ideia de Hosts que não querem ou não estão preparados para encarar sua própria condição.
Outro ponto importante é o novo “poder” da Maeve. Essa capacidade não é nova na série e isso é o que torna ela mais curiosa; vemos esse tipo de controle mudo sobre os Hosts, agindo na rede que os cerca, desde a primeira temporada, com o Ford. Isso levanta a questão de como o Ford fazia isso e alimenta ainda mais a ideia de termos visto um Host Ford desde o início. Muitos podem tomar o corpo dele se decompondo, alguns episódios atrás, como confirmação de humanidade, mas cuidado. Existem várias pistas de que o criador de Westworld deve reaparecer nessa temporada e não apenas como uma consciência robótica.
Pessoalmente, eu aceito vários episódios só com o Shogun World sendo desenvolvido. A trilha-sonora, as cenas que foram “refeitas” do Westworld, os cenários, os personagens, as cenas de ação – foi tudo tão lindo que merecia uma série própria. Quem é que não gosta de ver samurais e ninjas em ação?
E o parque realmente paga pela ideia de ser mais violento que o Westworld: enquanto arrancar escalpos, explodir pessoas e tiroteios são coisas extremamente violentas, Shogun World mostrou de primeira alguém aberto com as entranhas expostas, além da cerejeira “entalhada” nas costas da Sakura e a Akane arrancando metade da cabeça do xogum.
Importante falar sobre como o espelho entre os dois parques também é uma referência ao mundo real, com os filmes de velho-oeste refazendo filmes japoneses de samurai para a audiência ocidental. Genial, não?
A outra extremidade da história foi com a jornada da Dolores, que finalmente está chegando à Mesa. A androide voltou para o seu começo, em uma Sweetwater devastada, e várias coisas precisam ser analisadas aqui para entendermos o que está para acontecer.
Muita gente tem julgado o plot da Dolores até então, de como ele não anda ou como ela toma atitudes questionáveis – mas, se compararmos, ela está seguindo na mesma velocidade do William e temos tanta informação sobre o destino dele quanto do dela. Podemos dizer, inclusive, nesse jogo de espelhos que a série está criando, que os dois estão caminhando em um reflexo inverso um do outro. Enquanto a Dolores está cada vez mais tomando para si um manto vilanesco, o William está entrando devagar em um arco de redenção – lados opostos do que vimos na primeira temporada.
Também, não sabemos absolutamente nada sobre o que a moça tem planejado e o porquê de suas atitudes – temos pistas apenas. Descobrimos que parte daqueles Hosts afogados na verdade tinham seus wetwares limpos, como se fossem novos. Eram uma distração. Sabemos que a Dolores levou um programador consigo para poder mexer como bem entender na mente dos Hosts e que ela está indo para a Mesa, antes de ir para o lugar secreto do William. Ah, e que ela não suporta gente fraca ou traidores.
Tudo leva a crer que o ápice do que aconteceu nessas duas semanas será com um encontro entre Dolores e William. Esses dois episódios deixaram extremamente confusa a jornada da Host, se ela está agindo por vontade própria ou se está seguindo a narrativa do Ford. Como falamos antes, consciência não é igual a liberdade – isso valendo para Dolores, Bernard e talvez Maeve. O que dá pra saber é que a filha do fazendeiro está rejeitando com todas as forças suas raízes mais fracas; ela bebe por vontade própria, ela transa por vontade própria e pega sua própria lata. E modifica seu namorado como bem entender também… pobre Teddy.
Por fim, uma das cenas mais brilhantes e tristes nesse capítulo foi protagonizada pelas Clementines. Quando vemos o Mariposa novamente, a nova Clementine e mais um Host estão lá, ainda presos em sua narrativa – o que deve significar que os androides mais novos não foram afetados pelo Ford. Ver a nova Clementine perdida, enquanto a velha Clementine, que não sabemos o quão “quebrada” está, a assiste, recitando as mesmas palavras, como se entendesse sua realidade de uma forma mais profunda que os outros, foi um golpe baixo.
Agora, com a prévia do episódio dessa semana, “Phase Space”, podemos aguardar reviravoltas temporais na série. Preparem suas cabeças.
E vocês, o que acharam dos episódios? Ansiosos pelo caminho que Westworld está tomando? Não esqueça de comentar!
Confira nossa galeria com imagens de Westworld:
Westworld vai ao ar todos os domingos, às 22h, pela HBO. Você pode assistir a série em tempo real também pelo HBO GO.