Westworld: 02×09-10 – O fim de uma bela e violenta composição!
Westworld: 02×09-10 – O fim de uma bela e violenta composição!
Esse é o presente? A conclusão da segunda temporada de Westworld é tão fechada e incrível que mais parece o final da série.
Westworld se mostrou excelente durante a primeira temporada em vários aspectos, mas o que chamou a atenção da maior parte do público foi a atenção no desenvolvimento das grandes reviravoltas da história. Então, quando o segundo ano chegou, todos estavam um tanto céticos, esperando que a trama virasse em algum momento para tentar causar aquele choque novamente. Houveram, sim, plot twists, mas a nova narrativa apostou em coisas muito distantes desse artifício – e esse é o ponto principal dos dois últimos episódios, “Vanishing Point” e “The Passenger”.
Nesse ano, os autores resolveram dissecar os personagens que foram apresentados anteriormente, deixando-os tão complexos e envolventes quanto uma boa reviravolta. Enquanto a primeira temporada trouxe uma aventura do William, no passado e presente, por exemplo, o segundo ano investiu em deixar o público conhecer quem o Homem de Preto é em seu núcleo mais obscuro. Até porque, o tema central aqui é a consciência, humana ou não, e enquanto o plot discorria sobre a tentativa de dissecar e transferir a consciência do homem para a máquina em busca da imortalidade, o desenvolvimento da história expunha a identidade de cada personagem para o público como se fosse uma partitura, um livro.
Vanishing Point é um episódio sobre o William e sobre paternidade. O nono capítulo pegou pesado para mostrar quem ele se tornou. E não em um sentido de “vejam como ele ficou malvado”, mas explorando cada camada desse personagem em uma atuação belíssima do Ed Harris. Em seu íntimo, o Homem de Preto é alguém mais triste e atormentado do que perverso, tentando preencher um vazio existencial com poder, caridade, uma família distante, violência, um vício e uma ilusão. As cenas dele com a Juliet e o fim trágico da Emily entregaram o William mais “real”: completamente perdido e paranoico.
Mas o episódio também deixa muito mais claro como as jornadas do Homem de Preto e da Dolores são espelhadas nessa temporada. Além do caminho percorrido pelos dois ser basicamente idêntico – até nos encontros, seja Confederados, Maeve, Ghost Nation, etc – eles estão completamente perdidos em suas ilusões e ideais. E o fim entre Dolores e Teddy também é um reflexo triste do que acontece com William e Emily. A diferença nisso, porém, é que, durante toda a história, a Dolores sempre soube quem era e aceitou sua identidade – ou identidades. Por isso, quando a conclusão chega, essas narrativas tomam rumos distintos.
Outra coisa importante é o tema paternal do episódio. Fica óbvio pela parte do William com a Emily, mas então temos uma tomada inesperada: Ford e Maeve. Uma das cenas mais brilhantes do Ford em toda a série esclarece todas as dúvidas sobre a Maeve. Não é à toa toda a capacidade da personagem, suas habilidades que eram similares às do próprio Ford, sua narrativa de fuga e, mais que tudo, a alma “poética” da moça. Assim como a Dolores é a “filha” do Arnold, a Maeve é uma contraparte, a “filha” do Ford, e, como um bom pai, tudo que ele queria era fazer sua maior criação feliz e livre. E como todo filho, a Maeve não seguiu exatamente o que lhe foi dado.
Como dito, toda a temporada foi uma grande jornada pela identidade de cada personagem, mostrando o que os torna únicos, insubstituíveis. Arnold, Dolores, Maeve, William, Ford – até personagens menores, como a Angela, Akecheta, Clementine, Lee – todos foram dissecados em tela, como mais um reflexo, dessa vez do plot principal da temporada.
No entanto, não seria Westworld sem uma boa reviravolta, então chegamos ao episódio final, “The Passenger”. Esse é um encerramento tão incrível quanto o da primeira temporada: assistimos ao final das duas semanas após a inauguração da última narrativa do Ford, ao desenvolvimento da linha temporal da Delos chegando ao parque e, mais importante, temos todas as linhas temporais alinhadas e entendemos o que exatamente é o “agora”.
É interessante que as reviravoltas não ficaram para as ações dos personagens ou descobertas. Se você assistiu a temporada com atenção, já era possível entender como cada interação iria terminar e o que exatamente era a Forja.
Enquanto o final da Maeve e da Ghost Nation foi sensacional – a cena dos touros foi linda, mesmo já tendo sido mostrada no trailer – o destaque mesmo fica para o que acontece com William, Dolores e Bernard. O jogo do Ford é certeiro e, para chegar ao fim, o Homem de Preto precisou encarar o começo: Dolores.
Ver esses dois personagens se encontrando é como vê-los se olhando em um espelho distorcido. E quando tudo termina no acerto de contas final da Dolores, ela não precisa machucar o William com suas próprias armas; na verdade, é o momento em o que os espelhos racham. Ela entende tudo o que fez, quem é e quem pretende ser – isso em um nível psicológico e físico, quando as balas não a afetam mais. Não é humana e nem pretende fingir mais ser. Do outro lado, William continua preso em sua própria “narrativa”, quando tenta projetar suas “manchas” em tudo; nos hosts, na Delos, no Ford; todos, menos ele próprio.
Também, a relação entre Dolores e Bernard aqui vai muito além do que poderíamos esperar. Ela o reconhece como sua criação, não do Ford e de mais ninguém. E ela está certa nisso: foi a única que conseguiu criar o “host fiel”. É a criação dando vida à sua própria criatura que, logo depois, se volta contra sua mestra, em um ciclo similar ao dos hosts com os humanos.
E então conhecemos o Vale, a Porta, a Forja. Um casulo de milhões de almas que foram coletadas ao longo dos anos, um lar virtual livre para os hosts no parque e uma inteligência artificial que se especializou em replicar consciências. Mais ainda: que decifrou a complexidade humana como algo nada complexo, uma composição, um livro, perto da amplitude da consciência dos hosts. É uma visão extremamente pessimista da série quanto a humanidade como um todo: seres que não mudam em seu núcleo, que não possuem ou não conseguem lidar com o livre-arbítrio, e são movidos apenas pelo instinto de sobrevivência.
Os criadores da série falaram sobre essa tomada na humanidade em entrevistas, afirmando que ainda que seja uma versão exagerada do homem, é o que o mundo nos apresenta hoje. Na verdade, a resposta é quase como a visão da Dolores na primeira temporada: existem coisas cheias de esplendor em nossa existência, mas manchas e distorções ameaçam essa beleza.
Chegamos, então, nas reviravoltas e no final. E que final, meus amigos. Bernard é um antagonista para a Dolores e tenta parar seu plano, mas depois de ser forçado a entender o quão distante está da humanidade, descobre que trazê-la de volta é a melhor chance de sobrevivência da sua espécie. Mais ainda: ele descobre sua consciência e sua liberdade agindo assim, como a Dolores fez no final da temporada passada, não restando dúvidas que esses hosts estão, de fato, livres.
O final da sequência na Forja fez todos acharem, naquele momento, que estávamos vendo o presente. Dolores retorna na forma da Charlotte – algo que muitos acreditavam que seria usado na temporada, mas não com essas personagens – e encerra seu plano. Os humanos não terão imortalidade e ela escapa do parque para continuar sua jornada. É um fechamento de ciclo perfeito, quando, desde os primeiros momentos da primeira temporada, essa é a narrativa que estamos acompanhando: a fuga da Dolores.
Mas o twist vem de outra forma. Além do Stubbs se revelar um host – algo que fecha mais pontas soltas, mostrando que o chefe e toda a segurança do parque trabalhavam para o Ford desde o início – descobrimos que aquele não é o presente. Nunca foi. Assistimos flashbacks, sim, e a história do William sendo contada. Mas todo o resto era a restauração da memória fragmentada do Bernard no verdadeiro presente, com a Dolores, em seu corpo original, fora do parque, reconstruindo sua criação. Assistimos o final da temporada desde o início. Isso, senhores, é um plot twist.
Preciso pontuar também o quanto trazer o Bernard de volta, para uma situação um tanto Professor X versus Magneto com a Dolores é importante para o entendimento dos hosts despertos e para o futuro da série. A questão não é sobre mocinhos e vilões, mas sobrevivência e pontos de vista antagonistas. Os dois não querem ver sua raça morrer, mas devem lutar de formas bem distintas.
Outra coisa é o destino da Maeve e seu time. Depois do sacrifício épico, mas desnecessário, do Lee, todos eles acabam mortos também. Mortos no sentido host de ser. Essa é a continuação da história do parque, e não da sobrevivência dos hosts, onde devemos conhecer os outros três parques e o destino dos hosts que entraram no “Hostworld” e toda a população da ilha.
Mesmo com esses possíveis ganchos, a temporada terminou com um gosto de series finale – assim como a primeira – e isso é ótimo. Todos os arcos foram amarrados e o que ficou em aberto restaria ao público imaginar, se não houvesse uma terceira encomendada.
Tudo estaria explicadinho se não houvesse aquela cena pós-créditos. Mas calma que vamos tentar desvendar o William-Host. Vale nota que toda a cena é uma referência fantástica para o filme de 73, então pontos para a produção por isso.
E aí, o William sempre foi um host? É isso? Não e a Dolores até se diverte com a ideia, encontrando ele e perguntando se ele finalmente está “questionando a natureza da sua realidade”. Acompanhamos o William real desde o começo, mas sim, o da cena pós-créditos é um host.
O que acontece é que aquela sequência está em um outro período, no futuro. Isso porque o William foi encontrado ainda vivo pela Delos, a Forja não foi destruída da forma que está naquela cena e temos todas as outras histórias se fechando além da visão dele. Essa cena acontece no futuro e deixa várias pistas sobre o que está para acontecer na série.
Primeiro, não é seguro afirmar que a Emily está viva e que a que estava no parque era um host. Já vimos várias vezes que a visão dos androides pode ser manipulada. Mas, como é um teste de fidelidade, consideremos a ideia que ela esteja e aquela Emily era mesmo parte do jogo do Ford.
Com essa cena, concluímos que o William não morreu, mas vai morrer em algum momento da série. Também, pelo estado da Forja, que Westworld pode ser fechado, como acontece no filme. E, principalmente, que esse host William está em uma jornada parecida com a da Dolores na primeira temporada; revivendo seus passos no parque em sua mente até chegar em sua “cornerstone” – que a inteligência artificial da Forja afirma ser a chave para entender a consciência humana.
No caso, a do William é quando ele mata a Emily host e questiona sua realidade, assim como a do James Delos era sua última conversa com o Logan. Refazendo esses passos, então, ele chega até sua prova final, de fidelidade, com sua própria filha. Como a história termina ali, já que o William chega inconsciente ao fundo da Forja e sai do parque dessa forma, podemos crer que essa foi a última visita do Homem de Preto ao parque.
Se essa é uma tortura da Emily ao pai, como ela promete ao Akecheta, não dá para saber. Vimos o William fazendo o mesmo com o James Delos, mas o caso dele é ainda mais obscuro, quando ele é forçado a reviver todo o terror do parque, a “morte” da sua filha e todo o resto antes de chegar ao teste real. Quantas vezes? Quem sabe. Essas informações não se parecem com nada para mim.
E assim fechamos a segunda temporada de Westworld. Prazeres violentos realmente tiveram finais e acertos de contas violentos – e magníficos. Entre as várias críticas e alusões que podemos tirar da temporada, a mais certeira é que essa foi uma aventura pelas esquinas mais escuras da consciência e do que define uma pessoa em seu núcleo.
O que você achou da temporada? O que espera para o futuro da série? Ficou com dúvidas sobre o episódio? Não esqueça de comentar! Até a próxima temporada – em sabe-se lá quanto tempo!
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