Tem na Netflix?

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Tem na Netflix?

Por Guilherme Souza

Você provavelmente já indicou um filme ou uma série para um conhecido e foi respondido com a frase “tem na Netflix?”. Por mais que isso seja algo extremamente natural, a pergunta pode ser uma faca de dois gumes, já que, ao mesmo tempo em que mostra que as pessoas buscam a comodidade de assistir ao conteúdo através da plataforma de streaming, também significa que sua indicação pode ser em vão, caso ela não esteja no catálogo da Netflix.

Não é surpresa pra ninguém que a Netflix redefiniu a forma como consumimos conteúdo de entretenimento. Desde que a plataforma foi lançada, cada vez mais pessoas têm aderido ao hábito de maratonar séries e assistir filmes no conforto de seus lares, porém por mais que seja fascinante toda essa facilidade para acessar o conteúdo, ela também é extremamente preocupante, já que as pessoas, muitas vezes, estão deixando de buscar conteúdo na espera de que ele seja lançado na plataforma.

É claro, considerando o quão corrida é a vida da maioria das pessoas, faz sentido que elas busquem meios mais cômodos e rápidos de entretenimento, porém o hábito tem feito com que muita gente deixe de ir ao cinema ou até mesmo pare de acompanhar séries na TV, o que é algo que seria impensável há alguns anos.

Nós já vimos o quanto a evolução da tecnologia pode ser “destrutiva”. Até meados dos anos 2000, as videolocadoras eram a forma mais prática de se assistir filmes em casa, algo que ficou ainda mais popular com a praticidade do DVD, que eliminava as fitas VHS e entregava melhor qualidade de som e imagem. Com a chegada da Netflix (e o aumento da pirataria), as videolocadoras foram se extinguindo até que chegou ao ponto de se tornarem uma raridade.

Outro fator negativo de toda essa comodidade oferecida pela Netflix é a urgência que as pessoas adquiriram ao assistir séries. Muitas vezes, a Netflix disponibiliza temporadas inteiras das séries, o que fez com que as pessoas passassem a assistir no mínimo uma temporada por final de semana, perdendo a paciência de esperar os episódios semanalmente como é tradição nas exibições televisivas.

Mais uma vez, isso é uma faca de dois gumes, pois à medida que é excelente não termos que esperar uma semana para sabermos o que acontecerá no próximo episódio, chegar ao fim de uma temporada não significa chegar ao fim da narrativa, o que significa que as pessoas terão de esperar um ano para continuarem a história com o lançamento de uma nova temporada.

A praticidade de se terminar uma temporada também trouxe um outro problema: o acúmulo de séries começadas. Hoje em dia, é muito comum assistirmos à primeira temporada de uma série e depois sequer lembrarmos de sua existência. Com tantas produções no mercado, estamos acumulando primeiras temporadas que raramente serão continuadas, isso também nos faz pensar que essas produções podem ser mais vazias do que imaginamos, já que são feitas para criar impacto em seu lançamento mas não perpetuam na mente dos espectadores, sendo praticamente descartáveis.

Principalmente no Brasil, é comum que as produções cinematográficas cheguem com um atraso gigantesco em relação ao lançamento nos cinemas, mas mesmo assim, as pessoas estão preferindo esperar. É claro, cada um sabe o tempo e o dinheiro que têm disponível para dedicar à entretenimento, porém esse comodismo do público pode ser algo extremamente negativo à longo prazo.

Com o passar do tempo, é possível que o streaming se torne mais popular que o cinema, fazendo com que as pessoas deixem de sair de suas casas para assistirem filmes. Consequentemente, o cinema acabará tendo o mesmo destino que as videolocadoras (claro, essa é uma visão extremamente pessimista, mas dado o histórico, não é algo impossível de se acontecer).

O impacto do streaming na indústria cinematográfica já mostra seus primeiros sintomas, já que, recentemente, foi revelado que cinemas do Reino Unido estão inaugurando salas de cinema que contam com nada menos do que três telões. A novidade veio como uma forma de captar novamente a atenção do público que estão perdendo para a Netflix. Com isso, temos a prova de que o streaming realmente é uma ameaça para a indústria cinematográfica.

Outro grande fator que corrobora com essa mudança na indústria é o fato de grandes estúdios estarem lançando suas próprias plataformas de streaming. Em 2019, a Disney, um dos maiores estúdios de Hollywood, irá lançar sua própria plataforma que contará com produções inéditas e exclusivas para o serviço, obviamente, o lançamento será um sucesso, porém será mais um passo em direção à extinção do cinema.

Depois dessa breve análise sobre o mercado televisivo e cinematográfico, podemos concluir que as plataformas de streaming estão com o destino dos cinemas em suas mãos, afinal, imaginem o que aconteceria se a Netflix ou a plataforma da Disney lançassem o próximo filme dos Vingadores simultaneamente com os cinemas, onde você assistiria?

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