O que é um “Original Netflix”?
O que é um “Original Netflix”?
Muitos ainda não sabem como funciona a distribuição do streaming!
Se uma coisa ficou completamente comprovada nos últimos anos é que a Netflix veio para ficar. A empresa surgiu como uma locadora virtual, no final da década de 90, mas se transformou e hoje é considerada a maior plataforma de streaming de filmes e séries do mundo todo, com cerca de 137 milhões de usuários ao redor do globo.
E se você acha a plataforma um ótimo lugar para ver filmes e séries de outros estúdios e canais, também deve saber que a Netflix é uma desenvolvedora de conteúdo original. Todos os anos, eles possuem dezenas de séries e filmes exclusivos, que são distribuídos diretamente no streaming.
No entanto, isso tem gerado uma certa confusão entre os usuários. Principalmente porque, quando abrimos a nossa interface da plataforma, nos deparamos com algumas séries que são lançadas por outros canais e, ainda assim, figuram como “Originais da Netflix” dentro do catálogo.
Pegue, por exemplo, séries como Raio Negro – originalmente da CW –, Better Call Saul – AMC – e The Good Place – NBC. As três séries são produzidas e lançadas por emissoras diferentes nos Estados Unidos, mas são trazidas ao Brasil como se fossem “Originais” da programação da Netflix.
Muitos usuários passaram a pensar que isso pudesse ser uma forma de “desonestidade” da plataforma de streaming, vendendo um produto que não era, de fato, seu. No entanto, muitos não entendem que, antes de qualquer coisa, a Netflix é uma distribuidora.
Basicamente, tudo o que é produzido pela Netflix não vem do “Estúdio Netflix” – até porque ele não existe. Todos os filmes e séries do streaming são produzidos por estúdios e produtoras diferentes. O que os torna “originais” é justamente o fato deles terem sido encomendados e distribuídos pela Netflix.
Então não se surpreenda: nenhuma série “original da Netflix” é, de fato, produzida pela Netflix. O serviço é apenas um meio de distribuição/exibição. House of Cards, Orange is the New Black e até mesmo Demolidor contam com estúdios de fora, mas são exibidos pela Netflix.
No caso das outras séries que mencionamos anteriormente, existe a questão geográfica. Essas séries são distribuídas nos Estados Unidos e em outros países por alguns canais específicos. No entanto, no Brasil (e em outras partes do mundo), elas são exibidas exclusivamente na plataforma.
Dessa forma, a Netflix coloca sobre eles o selo “original”. Por mais que o nome “exclusivo” se encaixasse melhor nesse sentido, o que isso quer dizer é que aquela série só pode ser vista na Netflix, no país onde o usuário acessa o serviço e a vê como original.
Por exemplo, lá nos Estados Unidos, séries como The Good Place e Raio Negro também são disponibilizadas pelo serviço – no entanto, por serem exibidas em outros canais, eles não carregam o selo da Netflix. O mesmo vale, no Brasil, para séries como The Walking Dead e The Flash, por exemplo.
No entanto, outro aspecto interessante diz respeito às séries que são “resgatadas” pela plataforma. Como temos visto nos últimos anos, muitas séries tem sido canceladas – ou simplesmente esquecidas – pelas suas emissoras originais. A partir desse momento, a Netflix toma conta da produção, quando decide salvá-la.
Foi justamente o que aconteceu com Black Mirror – originalmente do Channel 4 do Reino Unido. Lá, a série recebeu duas temporadas e um especial, mas havia sido deixada de lado devido aos seus altos custos. Eis que a Netflix a resgatou para produzir da terceira temporada em diante.
Assim sendo, a partir de seu terceiro ano, Black Mirror passou, de fato, a ser uma original Netflix em todo o mundo, por ser exibida exclusivamente pela plataforma de streaming em todos os lugares. De forma similar, isso aconteceu a séries como Lucifer, que também foi salva após o cancelamento da FOX.
A coisa muda de figura quando falamos dos filmes. Basicamente, o modelo se mantém: a Netflix não “produz” diretamente nenhum longa. Eles apenas distribuem – embora eles sejam uma peça fundamental na viabilização dos recursos financeiros, tanto em filmes quanto em séries.
No entanto, nos últimos anos, a Netflix deu realmente um gás à sua produção de filmes originais. Tudo começou com Beasts of No Nation, considerado até hoje um dos melhores filmes da plataforma. A partir daí, o serviço passou a investir cada vez mais em conteúdos originais cinematográficos.
Acontece que o mercado Hollywoodiano ainda é muito conservador. Durante um bom tempo, filmes da Netflix eram esnobados de premiações e outras cerimônias importantes de cinema – como o Oscar, por exemplo – por não serem considerados “cinematográficos” o bastante.
Basicamente, para os envolvidos na indústria, filmes originais de streaming eram pouco mais do que telefilmes, e portanto não “mereciam” o mesmo reconhecimento que um longa produzido para os cinemas. Mas eis que a coisa mudou de figura quando a plataforma decidiu exibir seus próprios filmes no cinema.
Isso aconteceu, por exemplo, com Okja, no ano passado. Mesmo que, no fim, o longa tenha sido esnobado de várias premiações, foi justamente sua exibição por tempo limitado nos cinemas que garantiu sua presença nas listas de filmes mais comentados do ano. Um grande avanço para a empresa.
O auge disso veio com Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississippi. O filme fez um sucesso gigantesco, de forma que sua exibição cinematográfica de fato deu a ele um gás novo: o longa foi indicado a 4 Oscars, incluindo Melhor Canção Original, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Adaptado.
Curiosamente, o longa chegou a ir para os cinemas brasileiros, mas até hoje ainda não foi adicionado no catálogo digital do streaming. Mas isso nos fez repensar seriamente a respeito da forma como vemos o conteúdo “original” da empresa, ainda mais levando em conta seu papel como distribuidora.
Me lembro de ter feito, há alguns meses, uma matéria a respeito dos 10 melhores filmes originais da Netflix. Entre a listagem, cito Hush: A Morte Ouve, um longa de suspense dirigido por Mike Flanagan. Muitos vieram me corrigir, dizendo que não era original do streaming, pois havia sido exibido em um festival anteriormente.
O que muitos esquecem é que, na maioria das vezes, os filmes vão para festivais justamente para buscarem distribuidoras. No caso de Hush, o filme já havia sido encomendado pelo streaming, mas havia estreado no festival SXSW como uma forma de divulgação antecipada.
O mesmo, por exemplo, está para acontecer com Roma, o mais novo filme de Alfonso Cuarón. Apesar de ser um longa original da Netflix, ele será distribuído nos cinemas antes de chegar ao catálogo da empresa, justamente para conseguir uma visibilidade maior na época das premiações.
A prova disso é que ele se tornou um dos favoritos do Oscar desse ano, principalmente por ter sido ovacionado no Festival de Veneza, inclusive recebendo o Leão de Ouro. Foi graças a essa divulgação nos festivais que o filme se tornou o primeiro da Netflix a receber um prêmio importante do cinema.
Além disso, vale lembrar que a empresa também cumpre esse papel ao distribuir filmes que não chegam aos cinemas brasileiros – como, por exemplo, Aniquilação. Embora tenha chegado aos cinemas norte-americanos, o filme só foi disponibilizado no Brasil e no resto do mundo graças ao serviço.
Com isso, espero poder ter ajudado na hora de discernir o que é e o que não é uma obra original da Netflix. Como dito anteriormente, seria muito melhor se essas séries distribuídas por outros canais no exterior viessem ao Brasil com o selo “exclusivo” em vez de “original”, mas isso também é, por si só, uma estratégia de marketing.
De qualquer forma, sente no seu sofá e se prepare para grandes lançamentos que estão por vir, seja de filmes ou de séries. A Netflix fez por merecer e se tornou a maior plataforma de streaming do mundo. E agora, tudo o que nós podemos fazer é, de fato, aproveitar.
Na lista abaixo, relembre os 10 melhores filmes originais da Netflix: