Manto e Adaga: 1×03 – Entre Sonhos e Pesadelos!

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Manto e Adaga: 1×03 – Entre Sonhos e Pesadelos!

Por Gus Fiaux

Particularmente falando, eu gosto de séries que se arriscam. Que fogem do esperado e trazem algo absolutamente novo. Ao mesmo tempo, eu prefiro quem faz isso sem soar pretensioso. Se continuar no caminho que está, Manto e Adaga tem tudo para ser uma das minhas séries favoritas – e até mesmo uma das melhores do Universo Cinematográfico da Marvel.

Sei que é precoce dizer isso, ainda mais considerando que a temporada mal começou. Mas o terceiro episódio, intitulado “Stained Glass”, consegue trazer um respiro de novidade para um gênero que já está um pouco saturado no cinema e na TV, como os super-heróis. E como a série faz isso? Apresentando personagens que, apesar de terem poderes, estão longe de ser heróis.

Mas vai bem além disso, e o episódio demonstra isso com perfeição. Manto e Adaga não é apenas uma série teen com um romance e alguns conflitos pessoais. A carga cultural, social e dramática da série consegue passar uma mensagem sem se enrolar, ao mesmo tempo em que cria um produto divertido, interessante e carismático como os seus protagonistas.

Então, começando a falar do episódio em si, eu preciso dizer o quanto adorei a ideia de realizar esse encontro definitivo de Tandy Bowen e Tyrone Johnson a partir de uma alucinação ou uma viagem a um plano espiritual. Isso conferiu um senso de novidade e algo fantástico à dupla, pois mostra que a ligação dos dois está bem além de terem poderes contrastantes.

Essa dicotomia entre sonhos e pesadelos ajudou a criar um clima etéreo, que por sua vez, também casa com toda a trama do episódio em si. É tudo muito tangível, mas ao mesmo tempo, é tudo muito etéreo. Não há como discernir realidade de irreal, e isso provoca à série um senso artístico bem intrigante, e que não é normalmente pensado para produções televisivas de super-heróis.

Aliás, considerando o histórico da dupla nos quadrinhos, é muito interessante pensar que a equipe de produtores está fazendo algo respeitoso ao material original, incorporando todos esses elementos mais surreais, ao mesmo tempo em que estão dando uma roupagem muito moderna e real, o que torna tudo mais palpável.

No episódio, o forte continua sendo a interpretação de Olivia Holt e Aubrey Joseph, mas aqui, eles estão ainda mais afiados. Os dois possuem uma ótima química e reforçam o quanto o personagem de um é o completo oposto do outro, criando figuras que se desenvolvem a partir das diferenças. E isso será formidável de se assistir pelas próximas semanas.

Por outro lado, algo que estou me coçando para comentar desde que o episódio saiu é a questão cultural. É a primeira vez que vemos Nova Orleans sendo retratada dessa forma em uma série de super-heróis, e é incrível o quanto a cidade consegue moldar a trama e ser moldada por ela, criando uma simbiose geográfica e artística.

A série consegue trazer elementos reais de seu cenário, como tramas policiais – que aliás, aparentam ser um grande destaque para o futuro da temporada, com a Detetive Brigid O’Reilly se mostrando uma intrigante personagem em construção. Mas o verdadeiro ponto do episódio está na religião.

Nova Orleans é uma cidade com uma forte carga religiosa. E não pense que isso significa apenas que o cristianismo tem espaço – aliás, ele também está à mostra na série, com a igreja tendo outro papel de máxima importância. O vodu é uma prática intensa da cidade, e está sendo incorporado à série de uma maneira muito legal.

É interessante ver – principalmente em uma série como Manto e Adaga, que propõe-se a ser um retrato fantasioso das diferenças do mundo real – uma abordagem pura e não-demonizada de uma religião de matriz africana, como o vodu. Só isso já ajuda imensamente no combate ao preconceito, e mostra o quanto a série tem a crescer ao abordar tramas raciais e étnicas.

Tudo isso é unido de uma forma muito especial. Dá para sentir a construção positiva feita em cima desses personagens – que aliás, se relacionam entre si de uma forma muito humana e delicada. Mesmo com apenas três episódios, eu já estou investido nesses heróis de uma forma que demorei meses ou anos para investir em outros personagens, do próprio Universo Cinematográfico da Marvel.

A única “reclamação” continua sendo sobre o vilão. E a palavra está entre aspas porque sinto que será uma construção a nível slow burn, onde as coisas realmente farão um sentido grande a partir da segunda metade da temporada – e talvez, tenhamos algumas reviravoltas aí no meio… ou vai dizer que também não sentiu que a tia da namoradinha de Tyrone pode ser uma inimiga?

A direção continua espetacular. Nesse episódio, em especial, podemos notar um pensamento milimétrico por trás de cada cena, de cada plano. E se você quer um atestado disso, basta notar a câmera nervosa na hora das cenas de delírio de Tyrone.

Musicalmente falando, a série permanece perfeita, já que a trilha ajuda realmente a compor os personagens e a ambientação de onde vivem. É quase como se ela fosse um elemento tão vital quanto o figurino ou a direção de arte. E, se você prestar atenção, são músicas que agregam à narrativa com suas letras. Eu não conhecia nenhuma das que tocou durante o episódio, mas cada uma delas me deixava com a sensação de “lindíssima, falou tudo”… e uma ou outra já está na minha playlist do Spotify.

São apenas três episódios, e pode ser precoce demais, mas realmente vejo um futuro brilhante para Manto e Adaga. Os dois primeiros episódios foram um sucesso estarrecedor de audiência na história do Freeform, e apesar do hype da Marvel, a qualidade geral também tem um bom papel nesse resultado. Agora, vamos continuar vendo aonde a série pretende chegar… e como Tandy e Tyrone se juntarão de vez em suas jornadas.

 

Abaixo, fique com imagens da série:

Manto e Adaga sai às quintas-feiras no Freeform. Não perca nossa review semanal da série!