Legion 2×03 – Por que tem uma vaca aqui?!

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Legion 2×03 – Por que tem uma vaca aqui?!

Por Lucas Rafael

Atenção: Alerta de Spoilers!

No ano 1518 em Estrasburgo, na França, uma mulher chamada Frau Troffea começou a dançar freneticamente em uma rua da cidade, sem motivo aparente. Alguns dias depois, trinta e quatro pessoas repetiam os passos enlouquecidamente, dançando em fervor até morrerem de exaustão, seja através de um derrame ou ataque cardíaco. São casos de relatos reais como esse que abrem o capítulo 11 de Legion, novamente narrados pelo ator Jon Hamm (Mad Men) através de esquetes visuais muito bem editadas e dirigidas. Por fim, Hamm declara de maneira ominosa: “Se a ideia de uma doença pode se tornar uma doença, o que mais sobre nossa realidade é, na verdade, uma desordem?

O caso da dançomania de Estrasburgo se relaciona com a doença mental que se espalhou pelo mundo em Legion, deixando as pessoas em estado catatônico enquanto tiritam os dentes sem parar. O episódio pra valer inicia com David confrontando o Rei das Sombras, enquanto Lenny, interpretada pela sempre excelente Aubrey Plaza, tenta se suicidar ao fundo. A questão abordada já ao início do episódio define uma linha tênue entre telepatia e loucura, afinal, onde o poder dos personagens termina e a fragilidade mental humana começa? Descobrimos que o Catalizador, essa doença que faz as pessoas tiritarem os dentes, não é causada pelo Rei das Sombras, mas sim pelo monge da ordem Mi-Go (uma referência Lovecraftiana, talvez?) que Farouk está procurando. Quando os monges enterraram o corpo de Farouk no monastério, um barulho denso reverberou pela estalagem, deixando a maioria dos monges loucos. Alguns se mataram, outros tiritaram os dentes em estado paralítico. Um fugiu, carregando a doença mental infecciosa consigo, e foi parar justamente na Divisão 3.

Falando na Divisão 3, ela se encontra em frangalhos neste episódio. A maioria dos agentes se encontra vitimados pela doença do Monge, enquanto o exército de crianças imunes foram hipnotizadas pelo Monge no maior estilo Flautista de Hamelin.

Agora, vamos à explicação de por que o terceiro episódio desta segunda temporada é importante: ele finalmente enaltece a importância do grupo de mutantes que conhecemos em Summerland na primeira temporada atuarem juntos. O ar conspiratório, elusivo e psicodélico da série, até o momento, criava um tom de paranoia e desconfiança entre os personagens. Agora, o grupo precisa se unir novamente. A trama toda, após David voltar para a Divisão 3, foca no personagem liberando seus amigos do Catalisador. Para isso, David precisa penetrar no psicológico deles, o labirinto mental do personagem, uma alegoria visual para seus desejos mais profundos.

Vemos o labirinto mental de duas pessoas aqui: Ptonomy, em um jardim tranquilho colhendo flores em uma ignorância abençoada, alheio a tudo, e Melanie. O labirinto de Melanie é apresentado na forma de um RPG textual calcado nos jogos antigos, em que um texto é exibido e o jogador deve digitar uma ação/resposta ao que está na tela. De novo vemos a horripilante figura de um Minotauro sendo apresentada, desta vez escancaradamente em tom de ameaça. Labirintos, Minotauros, uma alegoria à mitologia grega de Teseu parece estar rolando, embora não seja desenvolvida aprofundadamente.

Legion anda trabalhando a mão legal em suas alegorias para conceitos abstratos. Criaturas chocando de ovos como o nascer de ideias, labirintos para profundos anseios mentais e desejos repreendidos. O negócio é Freudiano mesmo.

O Capítulo 11 de Legion pode parecer denso, ambientado em corredores com iluminação avermelhada, um senso claustrofóbico no ar. No entanto, ainda existe espaço para humor aqui, especialmente com Kerry tentando se ajustar ao mundo real, aquela humor bem “peixe fora d’água” mesmo, tendo em vista que a personagem não é familiarizada com os conceitos mais básicos da rotina humana.

Por fim, David confronta o Monge, a Syd do futuro transmite a palavra “Hurry” (Pressa, em tradução livre), e uma vaca habita os corredores da divisão 3. Não sei o que a vaca significa, se é uma alegoria visual para um conceito abstrato ou qualquer coisa assim. Como mencionado semana passada, a trama de Legion parece caminhar para um eventual plot twist, algo maquiavélico parece ser tramado por Amahl Farouk, ao mesmo tempo em que o personagem expõe para David as complicações que alterar a linha do tempo irão trazer para a Syd do futuro que envia as mensagens para o protagonista, já que, bem, ela vai deixar de existir se mudanças forem feitas.

Capítulo 11 não nos dá muita luz sobre as intenções da trama, e ainda nos deixa tateando na escuridão por respostas, e enquanto tentamos fazer sentido de tudo isso, vacas ruminam nos corredores mal-iluminados de instalações secretas. Vai entender.

Veja imagens da segunda temporada de Legion em nossa galeria:

Legion é exibido toda quinta-feira, 22h30, no FX.