Entrevistamos Dave McKean, desenhista de Batman Asilo Arkham e Black Dog!
Entrevistamos Dave McKean, desenhista de Batman Asilo Arkham e Black Dog!
Ele também foi o autor das capas de Sandman.
Quando pensamos em artistas de quadrinhos “fora da caixa”, o nome de Dave McKean é constantemente mencionado. O britânico não é bem considerado um “quadrinista”, mas sim um artista completo, com atuação em todas as áreas – incluindo música e cinema, além da pintura – alguns de seus trabalhos mais famosos incluem as capas de Sandman, além de Batman Asilo Arkham. A Legião dos Heróis teve a oportunidade de conversar com o autor, para saber mais sobre assuntos atuais, quadrinhos caros e seu mais novo projeto na praça.
Caso você ainda não saiba, McKean acabou de lançar Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash, quadrinho biográfico do pintor surrealista Paul Nash, um dos primeiros deste gênero, escrito e desenhado por Dave McKean. Nash viveu durante a Primeira Guerra Mundial, inclusive dentro do exército, e também uma parte da Segunda. Na história, em seus sonhos, ele é perseguido pela aparição de um cachorro preto, com significado misterioso.
A edição nacional de Black Dog: Os Sonhos de Paul Nash acaba de chegar às lojas pela editora Darkside e fomos conferir de perto, não apenas a qualidade, mas também bastidores da produção, com o próprio autor.
Acompanhe o bate-papo, a seguir:
Legião dos Heróis: Qual foi seu primeiro contato com o trabalho de Paul Nash?
Dave McKean: Ele não é muito conhecido fora da Inglaterra, mas lá ele é muito famoso. É um dos primeiros de sua geração e eu conheço muito seu trabalho. Quando a possibilidade desse trabalho veio, por meio da produtora 14-18 Now Foundation, eu achei que seria interessante enxergar tudo pelos olhos de uma pessoa. Diferente. Nash foi uma escolha óbvia, pois ele tem pinturas fortes e eu estudei sua vida e trabalho, cartas e tudo o mais, e experimentei um pouco da sua vida, conhecendo mais um pouco da pessoa.
Legião dos Heróis: Por que decidiu aceitar o convite da 14-18 Now Foundation para produzir o livro?
Dave McKean: Eles já haviam encomendado uma grande obra sobre a Primeira Guerra comigo, para lembrar a data. A empresa é ótima e foi uma causa muito nobre. É importante lembrar disso tudo, particularmente nos tempos em que vivemos, já que parece que estamos esquecendo os custos da guerra. O custo é da vida frágil e é uma ótima oportunidade para lembrar isso. Em alguns casos é interessante ter isso em um livro. No meu livro eu posso fazer o que quiser, mas quando você é forçado a pensar em algo que não pensava antes, o trabalho se torna muito pessoal para você. Pesquisar sobre a guerra e a vida de Nash se tornou algo importante e pessoal.
Legião dos Heróis: Você tem alguma obra favorita do Paul Nash?
Dave McKean: Eu gosto de muita de todas delas, mas gosto mais das que ele criou durante a Primeira Guerra. Tem uma em específico, chamada “We Are Making a New World”, que gosto muito. Depois de um tempo, depois da guerra, ele pintava muitos cenários e as artes tinham uma certa melancolia.
Legião dos Heróis: Quanto tempo levou para concluir Black Dog?
Dave McKean: Foi bem rápido, eu tive um mês para apresentar minha ideia para avaliação e eles aceitarem tudo que eu gostaria de fazer. O livro ficou pronto em quatro meses, de uma forma bem improvisada. Eu primeiro escrevi, até ter tudo bem concreto para desenhar. Gostei desse processo, pois foi bem livre. Depois tive mais um mês para enviar o livro, para escrever a música e gravar a orquestral. [Nota da redação: Black Dog também tem uma apresentação musical, disponível no YouTube]
Legião dos Heróis: Aceitaria o convite de criar a biografia de outro artista famoso?
Dave McKean: Acho que é bem difícil fazer um livro sobre a vida de uma pessoa. A vida de uma pessoa é sempre difícil de pensar e elaborar algo. O livro cobre só quatro ou cinco anos da vida de Nash, tem alguns pedaços de seu passado, mas nada muito variado. E dessa forma eu gosto de fazer!
Seria interessante fazer um livro focado na vida Francis Bacon, na época em que seu amante, George Dyer, morreu. Nessa época ele criou seus melhores trabalhos. Mas isso meio que já foi feito, há um filme chamado “Love Is the Devil: Study for a Portrait of Francis Bacon”, que já cobriu isso. Há muitos artistas que eu amo e queria focar em um pedaço de suas vidas.
Legião dos Heróis: Black Dog é um grande trabalho e você usa diversos estilos de arte. Você tem algum favorito?
Dave McKean: Eu não tenho um favorito, tento não me prender a um estilo e sim deixar ele ditar pela emoção e atmosfera, que se mescla muito bem com a arte. Alguns capítulos eu comecei com um estilo, achando que era o certo, e troquei para achar algo melhor. Tive tempo para tentar de novo e achar o caminho certo.
Legião dos Heróis: Agora mudando um pouco de assunto… Sandman terá um novo projeto supervisionado por Neil Gaiman. Você esteve envolvido com este universo desde sua concepção. O que acha da iniciativa? Participaria se fosse convidado?
Dave McKean: Eu fiz uma capa para essa nova série. Mas eu acho que é um erro retornar para este tipo de universo. Sandman teve seu tempo, teve uma ótima publicação, foi ousado chegar ao fim e terminar, como Neil fez. Voltar atrás agora eu acho um pouco lamentável. Acho também que não é escolha de Neil, mas sim da DC e acho que ele está tentando tirar algo bom de uma situação ruim. Eu gosto de ver novas histórias, novas coisas, há todo um mundo potencial para histórias diferentes a se contar. Acho cansativo ficar voltando às mesmas coisas.
Legião dos Heróis: Você não é adepto de quadrinhos mainstream, sei que você tem algumas críticas a respeito, mas, ainda assim, seu trabalho é conhecido por um dos quadrinhos mais famosos do Batman. Se arrepende deste trabalho?
Dave McKean: Nem um pouco. Foi um grande momento, onde tive sorte de começar minha carreira nos quadrinhos. Foi um momento bem rápido, onde a DC estava aberta a tentar coisas novas e experimentar outras influências para os roteiros de Grant Morrison. Foi uma ótima oportunidade e acho que aproveitamos bem. Esse momento durou alguns anos e começou a crescer mais. Muita coisa foi possível por conta de Asilo Arkham, e vendeu muito! Muita gente comprou e me pediu para desenhar capas de discos e outras coisas, e ainda hoje ela é publicada. Eu não tenho arrependimentos, mas não faria de novo. Eu sou uma pessoa diferente agora.
Legião dos Heróis: O legal de falar de quadrinhos é que, hoje, temos no Brasil, hoje, uma discussão sobre a necessidade do tratamento de luxo para quadrinhos. Você é um artista que teve seus trabalhos publicados por aqui em alto luxo, incluindo Black Dog, enquanto no exterior ele saiu em formato comum de livro. Você acha que o tipo do trabalho requer um tratamento especial?
Dave McKean: Não tenho uma opinião formada. Eu concordo com os dois lados, eu olho para um livro como Black Dog e ele foi feito com pintura, então acho que ele tem que estar em uma qualidade boa. Nos Estados Unidos o tamanho dele é ainda maior, mais alto e ainda assim estou muito feliz com o resultado desta edição brasileira. Mas, pelo lado de ver meu trabalho reproduzido, eu quero ver livros como este. [Ele aponta para o exemplar nacional de Black Dog]. Mas também sei que muito conteúdo existe online, ainda que eu acho muito efêmero, não parece real. Eu entendo que nem todo mundo pode pagar por um desse, mas se você pode eu agradeço. Os livros que compro, sejam eles caros ou belíssimos, se tornam parte da minha vida, por exemplo. As artes que eu compro ficam comigo para a vida toda.
Quadrinhos são uma mídia legal, são democráticos, pois eles são acessíveis para todos. Acho que é incrível que muitas pessoas façam isso online, que é mais fácil de reproduzir, pode explorar novas formas para baratear. Você pode fazer menos páginas, ou em preto e branco, sem ser muito caro, pode ser uma história direta para seu público. Você trabalha no sentido de como vai ser distribuído. Eu preparei Black Dog para um tipo particular de pessoa no mundo, um produto específico de lançamento, um formato específico.
Legião dos Heróis: Para finalizar, você é um artista bem completo. Escreve, desenha, pinta, se envolve com música e já até dirigiu filmes. Qual é o próximo passo de Dave McKean?
Dave McKean: Sem muitas surpresas, eu adorei fazer este livro e gostaria fazer mais histórias simples e pequenas. Não quero desenhar personagens e propriedades intelectuais dos outros. Estou editando meu quarto filme no momento, ainda que não tenha tanto dinheiro para finalizar. Mas posso fazer isso com meus livros, quero criar uma estante repleta só com livros meus. Uma coisa que não fiz ainda, mas que quero tentar, é realidade virtual, a “VR”. É o futuro, é interessante, não é narrativa, mas sim uma mídia que ainda é muito explorável.
A Legião dos Heróis agradece o tempo de Dave McKean para o bate-papo!
Fique ainda com uma galeria de fotos da entrevista, bem como imagens de Black Dog: