[Exclusivo] Entrevistamos Luciano Cunha, criador de O Doutrinador, HQ brasileira que vai virar filme!
[Exclusivo] Entrevistamos Luciano Cunha, criador de O Doutrinador, HQ brasileira que vai virar filme!
“O Doutrinador é o personagem certo, que estava no momento certo”.
Nos últimos dias vimos o trailer do filme O Doutrinador, inspirado nos quadrinhos de mesmo nome, que estão em publicação desde 2014. Contudo, o que muitos ainda podem não saber é que o personagem data de muito antes disso, além de ser criação 100% brasileira, inspirada por revoltas populares e por senso de justiça da população contra corrupção e outros assuntos políticos.
Ainda que a política não seja a pauta da Legião dos Heróis, não podemos ignorar um personagem nacional que fez tanto sucesso a ponto de ir para os cinemas – com projetos de seriados, animações e jogos no caminho. Além disso, O Doutrinador tem todo um jeitão de Justiceiro, da Marvel, mas também pega emprestado elementos de V de Vingança, Watchmen e até do Batman. Trata-se de um personagem relevante, que inclusive é atração do evento Geek & Game Rio Festival, que acontece no Rio de Janeiro, entre os dias 20 e 22 de julho.
Foi para saber dessas coisas e muito mais que conversamos com Luciano Cunha, autor dos quadrinhos, e Gabriel Wainer, sócio de Cunha no Guará Entretenimento, selo que publica o personagem atualmente e que também se envolveu na produção do filme.
Acompanhe o bate-papo exclusivo, abaixo:
Legião dos Heróis: O Doutrinador tem pouco tempo no mercado, quando comparamos com outras obras brasileiras e, mesmo assim, ele já está ganhando um filme nos cinemas. A que você atribui essa rapidez?
Luciano Cunha: Acho que é por conta da identificação instantânea do que a gente tá vivendo, né? O espírito do tempo, como o Gabriel fala, vira e mexe, em alguma entrevista que ele dá, nos últimos meses. É a síntese da revolta de todo mundo, a identificação é muito rápida. Desde que lance, O Doutrinador só cresce! Só aumentamos a audiência e, assim, acho que cria esse vínculo, desde 2013. Toda essa dicotomia política, esses escândalos diários de corrupção. O Doutrinador é o personagem certo, que estava no momento certo.
Legião dos Heróis: E sobre esse nome? Sabemos que a palavra “Doutrina”, hoje, é atribuída de maneira pejorativa, em muitas discussões justamente sobre política. Você tinha essa preocupação quando criou o personagem? Se arrepende ou mudaria o nome?
Luciano Cunha: Quando o criei, em 2010, ou seja, oito anos atrás, não havia essa polarização política que tem hoje. Curiosamente, há pouco tempo fiz uma pesquisa dessa palavra nas redes sociais, e esse fenômeno de atribuir de maneira pejorativa só acontece de 2014 para cá. Depois de 2013, principalmente depois das últimas eleições, que foi bem complicada, aquelas reações extremas começaram a criar este perfil pejorativo para a palavra, em relação à doutrinação política, a partir daquele momento. É interessante como, antes, isso não aparecia muito.
Além disso, quando eu criei o personagem, eu tinha vários nomes em mente, inclusive o primeiro era Vigilante.
Legião dos Heróis: Que, aliás, é o nome de um personagem da DC!
Luciano Cunha: Sim, era horrível na época. Eu até conto essa história no gibi. Quando eu decidi registrar o personagem na biblioteca nacional, tentei registrar vários, mas nunca pegavam, eles já existiam. O Doutrinador veio depois de umas cinco ou seis tentativas e passou. Eu queria um nome marcante, forte. Mas, talvez, se fosse criado hoje em dia, eu mudaria o nome. Mas agora não tem como, já era! Não me arrependo pois era outro contexto, mas eu sei que é complicado. Consigo sentir essa polêmica nas redes sociais, e aí tenho que me dar esse trabalho de ir explicando, é um risco.
Gabriel Wainer: Além disso tem também o fato de que o objetivo do personagem é ser radical. Ele chegou num ponto que a luta por justiça transcende os meios jurídicos. A doutrina não é um nome auto-imposto. A imprensa, dentro da história, dá esse nome a ele. Ele não se batiza, é quase uma maldição. Fala-se que ele está ali “doutrinando” políticos, e quem sair da linha vai se ver com ele.
Legião dos Heróis: O filme é uma adaptação do primeiro volume? Ou um compilado?
Luciano Cunha: Eu diria que é uma releitura dos três primeiros volumes juntos. Tem algumas mudanças importantes na história. Tivemos que rejuvenescer o personagem. Tem vários elementos novos.
Legião dos Heróis: E sobre a ideia do filme? Você já comentou que conseguiu popularizar o personagem com esse momento de revolta
Luciano Cunha: Por incrível que pareça, desde o início, lá em 2013, diretores e produtores sempre me contactavam por inbox no Facebook, perguntando sobre os direitos autorais. Aí eu já percebi que o personagem tinha força. Além disso, quase todo post que eu publicava, vinha alguém comentar “essa porra tem que virar filme”. Isso foi me dando uma segurança de que o conteúdo era bacana e isso veio me acompanhando, conforme os anos passavam.
E assim foi até o final de 2015, quando eu conheci o Gabriel, e aí a gente trouxe o projeto para mais perto e o quadrinho já estava com sua segunda edição esgotada, tinha uma audiência bacana no Facebook, com mais de 100 mil pessoas, um monte de resenhas aqui e lá fora, comentando da obra. Fizemos um projeto bacana para a Downtown Filmes, no final de 2015 e o sonho se tornou realidade.
Legião dos Heróis: Qual foi sua participação no filme?
Luciano Cunha: Participei da sala de roteiro. Eu, Gabriel, inicialmente mais três roteiristas. Depois participamos de decisões estratégicas, mas não de tudo. Sugeri figurino, trilha sonora, estratégia de criação do filme, na divulgação e no marketing.
Legião dos Heróis: E você tem algum “momento Stan Lee” no filme? Você participa de alguma cena?
Luciano Cunha: **risos** Eu gravei! Na série com certeza vai ter. Mas não sei se vai para a versão final do filme. Não vi o corte final ainda. Foi bem legal…
Legião dos Heróis: E por falar em Stan Lee… Pela natureza d’O Doutrinador, a gente tem a principal comparação dele com o Justiceiro, pela área de atuação e métodos. Mas quais as diferenças entre os dois? As mais básicas?
Luciano Cunha: Basicamente, temos a identidade secreta, que O Doutrinador tem e o Justiceiro não, e de certa forma, nas três edições, essa identidade é variada, sem entregar nenhum spoiler, pois ela precisa existir. Mas acho que é isso… O Doutrinador vai nos pilares das figuras centrais que ele julga como corruptos, são os corruptos que são símbolos do país e ele vai atrás justamente para passar essa mensagem, essa doutrina.
Veja o trailer do filme:
Legião dos Heróis: Eu vi por alto e acho que ele elimina de religiosos a empresários, não só políticos…
Luciano Cunha: É, tem isso também. Não tem como eliminar todos, se não, não teríamos espaço e tempo para tanta gente morta. Mas eu costumo dizer que ele é um grande emaranhado de referências. Tem o V de Vingança, tem um pouco do Rorschach de Watchmen, tem até gente que acha que há um pouco de Batman.
Mas eu adoro quando usam referências que vão além, como Travis do [filme] Taxi Driver, Tyler Durden do Clube da Luta, quando ultrapassa o universo dos quadrinhos eu adoro!
Legião dos Heróis: E sobre o seu universo? Vimos que O Doutrinador é apenas um primeiro passo. Vocês pretendem criar um universo no melhor estilo “Marvel”?
Luciano Cunha: Este universo que a gente criou já era nossa intenção, mas começou com O Doutrinador, que é o carro-chefe. Tem a Penélope, que vai estar no filme d’O Doutrinador e na série, além de ser a personagem do nosso primeiro spin-off. No momento temos oito personagens desenvolvidos, mas no total são 13, com estes oito já bem delineados.
Gabriel Wainer: Também estamos desenvolvendo mais três projetos para o cinema, três outras HQs, de outros personagens, em edições impressas. A Penélope é uma, tem o Santo e Os Desviantes, que é um grupo. Estamos trabalhando também em outros três personagens que vão direto para os cinemas.
Legião dos Heróis: Os projetos parecem ambiciosos! Mas e no futuro?
Luciano Cunha: Temos uma missão de transformar estes personagens em marcas. O Doutrinador vai ter um game de aplicativo, um cardgame, camisa, boneco, se tudo der certo até caderno. A gente já tá feliz de estar caminhando para isso, mas também temos ainda um personagem infantil planejado, que é o Lobito, totalmente desconectado do universo d’O Doutrinador, inspirado no mascote da Guará.
Legião dos Heróis: Bem pensado! Vocês têm algum plano para o caso de O Doutrinador atingir um público mais jovem? Sabemos que as histórias são bem violentas e maduras…
Luciano Cunha: É interessante falar isso pois eu fiz um trabalho bem extenso em uma adaptação d’O Doutrinador mais “teen”, para um público-alvo de até 16 anos, para os guia de visuais de licenciamento. Menos sombrio, sem armas. As empresas têm gostado, o feedback foi positivo.
Legião dos Heróis: E nos quadrinhos? O filme parece bom, mas não podemos esquecer dos gibis… Vocês estão inovando bastante com estes conceitos. Como vão prosseguir?
Luciano Cunha: Para o ano que vem temos mais duas edições d’O Doutrinador, além de novas aventuras. Sempre deixamos claro para a produtora, e para todos os envolvidos, que a gente quer inaugurar uma nova relação com os fãs geek e os fãs de filmes de ação da cultura pop brasileira com o nosso audiovisual. A gente espera isso.
A Legião dos Heróis agradece a entrevista ao pessoal da Guará, Luciano e Gabriel, e lembre-se: O Doutrinador chega aos cinemas em 20 de setembro. E, se você for ao Geek & Game Rio Festival, Luciano Cunha participará de um painel especial às 14h no Geek Station (Na Mira do Doutrinador – com ele, Tainá Medina, Rodrigo Lages, L.G. Bayão e Gustavo Bonafé) e, às 15h, com autógrafos para 100 fãs no Meet & Greet.
Fique com imagens dos quadrinhos O Doutrinador e de Luciano Cunha, no QG da Guará: