Dissecando o gênero de espionagem nos cinemas!

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Dissecando o gênero de espionagem nos cinemas!

Por Equipe Legião dos Heróis

O gênero de espionagem nos cinemas é facilmente lembrado como aquele tipo de filme que traz agentes altamente treinados e extremamente sensuais em situações complicadas e arriscadas, em que geralmente têm licença para matar e conseguem resolver qualquer situação. Essa é, digamos, a visão “romântica” e “popular” do que é ser um agente secreto aos olhos do público que consome longas-metragens.

Mas na vida real, ser um agente do governo ou de uma organização especializada em inteligência, não é bem assim. Quando se trabalha nessa área, é mais comum passar horas dentro de um escritório lidando com relatórios e burocracias, do que sendo enviado para missões.

Aliás, missões são coisas de filmes, segundo Lindsay Moran Kegley, a ex-agente da CIA. A mulher trabalhou por 5 anos para a entidade e já deu entrevistas contando sobre os bastidores da agência, iluminando a visão que se tem sobre longas-metragens e seriados sobre o gênero de espionagem.

“Na verdade, você não recebe missões”, Kegley revelou à Superinteressante. “O principal trabalho é recrutar estrangeiros que queiram vender segredos para você. Parece simples, mas localizar a pessoa certa e convencê-la a falar é um trabalho árduo de meses e meses, chegando até mesmo a demorar vários anos. É tudo muito lento. Não existe nada parecido com as cenas do filme Missão: Impossível, por exemplo”.

James Bond definiu todo um gênero a partir da publicação de sua série de livros.

James Bond definiu todo um gênero a partir da publicação de sua série de livros.

Popularização do super-agente

O gênero de espiões surgiu primeiro nos livros, em 1821, com o livro “The Spy” de James Fenimore Cooper; seguido de “Kim”, livro escrito por Rudyard Kipling e publicado em 1900, cuja história se passa após a Segunda Guerra Afegã, que aconteceu uma década antes em uma Índia controlada por britânicos.

Durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial o gênero voltou aos holofotes graças às tensões internacionais nos dois períodos e, em 1952, eis que surge “Cassino Royale” o primeiro livro do famoso agente James Bond, escrito por Ian Flemming, que era um ex-oficial de inteligência naval. Foi com sua série literária que o gênero nos cinemas e na televisão como conhecemos hoje foi definido.

A partir daí era comum vermos agentes altamente treinados e extremamente sensuais em situações complicadas e arriscadas, blá blá blá. Claro, que ao longo das décadas houveram exceções. Vale destacar aqui filmes que ainda tentam retratar a espionagem como algo menos glamouroso e com um pé a mais na realidade, como é o caso “Quebra de Confiança”, “A Hora Mais Escura” e “Argo”.

A Hora Mais Escura mostrou a caçada a Osama Bin Laden e foi indicado a várias categorias do Oscar.

A Hora Mais Escura mostrou a caçada a Osama Bin Laden e foi indicado a várias categorias do Oscar.

Ainda assim, outra característica que quase sempre vem no pacote do gênero de espionagem é o romance ou a culpa atrelada ao amor e a paixão. Em filmes como “Charada”, “Lili, Minha Adorável Espiã” e “Desejo e Perigo”, o relacionamento amoroso é um dos conflitos adjacentes ao desenrolar da trama. O sentimentalismo e a humanização dos personagens, em especial dos agentes secretos, é sempre um meio de desenvolvê-los, acabando por tornar-se um clichê.

O cinema coreano

Aproveitando o gancho com “Desejo e Perigo” um filme coreano do gênero de espionagem, vale ressaltar como o cinema coreano têm se sobressaído nos últimos anos com produções que não deixam nada a desejar em comparação com as obras de Hollywood. E isso não é apenas nos filmes de suspense, drama e terror, mas também nos longas que viraram o assunto deste artigo.

Em alguns dos filmes mais famosos de espionagem coreano, as tensões territoriais asiáticas costumam ser o foco da trama, sejam estas entre uma das Coreias e o Japão, ou entre Coreia do Sul e Coreia do Norte. Bons exemplos de longas que abordam esse tipo de relação diplomática e política interconectada a espiões são: “O Arquivo de Berlim”, “The Secret Reunion” e “Secretly, Greatly”.

Mas claro que, assim como em Hollywood, existem tentativas de subverter o gênero e apresentar novas facetas do mesmo, como é o caso de “Spy”, que traz espionagem e assalto combinados, e “Part-Time Spy” que é mais voltado à comédia.

Em Secretly, Greatly, três espiões norte-americanos se infiltram na Coreia do Sul e vivem tranquilamente suas vidas como um estudante, um morador de uma aldeia e um músico; até que recebem ordens para se suicidarem.

Em Secretly, Greatly, três espiões norte-americanos se infiltram na Coreia do Sul e vivem tranquilamente suas vidas como um estudante, um morador de uma aldeia e um músico; até que recebem ordens para se suicidarem.

Subvertendo a espionagem

As tentativas de subverter os clichês do gênero de espionagem não são novas e tampouco exclusivas de um país, como já comentado por aqui. Na realidade, isso ocorre quase que sempre, seja através de uma trama mais centrada no suspense e nos aspectos narrativos, com trechos e falas que podem confundir os espectadores mais desatentos (como acontece em “O Espião Que Sabia Demais”, “Três Dias do Condor” ou o aclamado “Intriga Internacional” de Alfred Hitchcock); ou simplesmente jogando elementos de comédia (um beijo para o Jackie Chan, que é especialista nessa combinação da abordagem; outro para o Mike Myers com seu Austin Powers; e também para a Melissa McCarthy com seu “A Espiã Que Sabia de Menos”).

E existem ainda os que combinam esses detalhes com ação frenética, como é o caso de “Jogo de Espiões”, “Atômica” e o primeiro e o segundo “Missão: Impossível”. Mas, mais recentemente, um filme de super-herói também entrou nessa jogada, aventurando-se por uma abordagem que se assemelha muito ao gênero de espionagem. Para a produção de “Pantera Negra”, o diretor Ryan Coogler diz que se inspirou nas obras de James Bond.

Pantera Negra é considerado um filme de espionagem que subverte o gênero, trazendo uma nova abordagem ao gênero.

Pantera Negra é considerado um filme de espionagem que subverte o gênero, trazendo uma nova abordagem ao gênero.

Entretenimento acima de tudo

Passado o choque de descobrir que Pantera Negra também pode ser considerado um filme de espiões, resta destacar que o gênero de espionagem, apesar da retratação nada fiel a como acontece na vida real, é, acima de tudo um produto de entretenimento, seja em filme, seriado ou livro.

Se é monótono na vida real, não teria graça lermos ou assistirmos sobre algo assim. Além do mais, é comum especialistas apontarem que a vida de um agente secreto altamente treinado e extremamente sensual (blábláblá) é quase como uma fantasia do público alvo. E não há nada demais nisso, afinal, quem nunca se imaginou na pele do James Bond (ou da Nikita) nem por um segundo, que atire a primeira pedra.

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