Como o universo sombrio da Universal poderia sobreviver e prosperar?
Como o universo sombrio da Universal poderia sobreviver e prosperar?
Falta foco no agora e menos projeções no futuro.
Universos compartilhados estão entre as novas tendências da indústria cinematográfica. E, apesar de isso estar sendo aplicado basicamente a filmes de super-heróis, existem as raras exceções no mercado, como é o caso do MonsterVerse (Universo de Monstros) com King Kong e Godzilla, os filmes de Cloverfield, e o Dark Universe (Universo Sombrio) da Universal Studios.
Os famosos monstros da Universal, na realidade já são famosos, pois existem há décadas e contam com mais de 100 filmes e adaptações de suas histórias. Dentre as criaturas mais famosas desse universo estão O Corcunda de Notre Dame, O Fantasma da Ópera, Drácula, O Monstro de Frankenstein, O Lobisomem, A Múmia e O Homem Invisível.
Existem muitos outros monstros, é claro, mas estes são alguns dos mais conhecidos. E, para aproveitar a onda de universos compartilhados e reascender seus tempos de glória com atrações do gênero, a Universal Studios anunciou no ano passado um projeto mega ambicioso chamado Universo Sombrio.
O objetivo para este Universo Sombrio era o de reunir estrelas de Hollywood e produtores famosos e queridos para criar novos filmes baseados – veja bem, baseados – nas famosas criaturas citadas acima, além de muitas outras.
Levantou voo sem mentalizar o pouso
Logo de cara, o anúncio do projeto revelou que muitos astros de renome já tinham assinado para interpretar algumas das monstruosidades nas telonas, como é o caso de Johnny Depp e de Javier Bardem, que foram escalados para interpretar o Homem-Invisível e o Monstro de Frankenstein, respectivamente. Enquanto isso, Sofia Boutella já havia embarcado como A Múmia, ao lado de Russell Crowe como Dr. Henry Jekyll e de Tom Cruise.
Dentre os outros filmes que o estúdio ainda pretende fazer estão: A Noiva do Frankenstein (com Angelina Jolie sendo cotada para o papel), O Lobisomem (com Dwayne “The Rock” Johnson como possível protagonista), Criatura do Lago Negro (com Scarlett Johansson na lista), Van Helsing, O Corcunda de Notre Dame e O Fantasma da Ópera. Isso sem contar no filme próprio de Mr. Jekyll, que já conta com Crowe.
Tudo parecia promissor e grandioso. Era nítido que a Universal estava apostando alto no projeto. E vale ainda ressaltar que os planos de iniciar o Universo Sombrio já existiam há mais tempo e o primeiro longa da lista deveria ter sido Dracula: A História Nunca Contada. Porém, devido ao fracasso de bilheteria e de crítica, o estúdio optou por desconsiderar essa produção do mundo compartilhado de monstros, jogando o vampirão para escanteio por hora.
E então A Múmia chegou aos cinemas em 2017 e… Bem, a crítica mais criticou do que elogiou e o faturamento não parece ter alcançado os resultados esperados também. Posteriormente, boatos de que a Universal Studios havia desistido do projeto começaram a circular. Até que em maio deste ano uma suposta reunião de produtores aconteceu e foi compartilhada no Instagram, sugerindo que o projeto talvez não tenha morrido ainda. O que faz pleno sentido.
Decolou sem preparo
O Universo Sombrio da Universal parece ter sofrido de uma falta de preparo sem tamanho, apesar de não parecer, já que muitos nomes importantes estão envolvidos. Nas entrelinhas, porém, parece que faltou um cuidado maior em traçar a rota e o desempenho. No Universo Compartilhado da Marvel, por exemplo, há um planejamento de anos a frente e que o estúdio divide por fases.
São dois pesos e duas medidas, claro, mas a preparação poderia ter sido semelhante, tendo se iniciado com Drácula: A História Nunca Contada logo de cara. Quando esse filme saiu, pouco se falava sobre universo compartilhado de monstros, o que dá a sensação de que a ideia surgiu depois e foi adaptada, moldada de forma apressada e com preparação de um terreno mais amplo para que a aeronave (isto é, o projeto), pousasse de forma segura independente de sua situação.
Além disso, a grande questão é que, A Múmia parece ter sido completamente projetado para carregar o resto do Universo sombrio em suas costas, o que assusta os telespectadores. É muita informação para se digerir em duas horas de filme e todo o ciclo preparatório para o que virá nas continuações ofusca quem deveria brilhar nessa primeira etapa: a criatura milenar que também é sua titular. Tudo é simplesmente esquecível pela pressa que tem em se introduzir diversos elementos de uma só vez.
O que me faz pensar que, se o último filme de Drácula tivesse sido anunciado logo de cara como parte de um grande projeto de mundos compartilhados entre monstros populares, o pontapé inicial poderia ter sido mais forte por dois motivos simples: o primeiro é que ele é um bom filme de origem porque é centrado no personagem que dá vida ao título; e o segundo é o fato de o vampirão ser uma figura icônica da cultura pop. Lógico que A Múmia também é bastante conhecida, mas o apelo para o outro poderia ter sido maior.
Esse Dark Universe ainda está em construção. O que é bom e ruim. E eu não acho que vá ser abandonado tão cedo, mas por uma pura questão externa: contratos. Eles certamente já foram assinados e desconsidera-los assim de uma hora para outra, deve render alguma gorda quantia de indenização por parte da Universal Studios.
Os dois lados da moeda
O lado bom desse projeto ainda estar se moldando é a liberdade para acompanhar tendências e experimentar coisas – exatamente como fizeram com Drácula, por exemplo. Caso a Universal Studios veja que não deu certo, por exemplo, inserir o Homem Invisível, eles podem se permitir reformular o Universo Sombrio de alguma forma que permita o percurso continuar sem ele.
Por outro lado, essas janelas de transições, adaptações, reformulações e derivados, pode fazer os consumidores esperar um longo período até que um desses filmes programados saíam do papel e invadam as telonas. Isso por tabela pode fazer com que o hype se disperse, e eu nem mencionei a questão dos contratos, além das diferenças criativas que sempre serão uma constante.
O X da questão
O gênero em si não é um problema. O terror e o suspense sempre estiveram nas graças do público – talvez o primeiro mais do que o segundo. O problema é na forma como a Universal está abordando seu Universo Sombrio. Uma sugestão seria fazer os filmes separadamente, com pouca conexão entre eles e fazendo apenas o personagem de Crowe aparecer em todos, já que ele está sendo considerado uma espécie de Nick Fury desse mundo de monstros.
A questão não é exatamente isolar as produções e as histórias. O objetivo, na realidade, seria focar nas criaturas titulares e desenvolve-las em suas aventuras solo. Isso significaria contar uma origem por vez, sem cansar ou afogar o consumidor com muitas informações de uma só vez. Com calma e paciência se chega lá, certo? E isso garantiria chamar a atenção do público, mesmo que aos poucos.
Ao dar um passo de cada vez, certamente teríamos mais chances também de ver trabalhos mais autorais, visões interessantemente artísticas dos monstros aos olhos de determinados diretores e roteiristas; com a Universal Studios apenas ajeitando toques finais e ficando responsável por conseguir conectar os pontos entre os filmes aos poucos.
Talvez aqui, neste ponto em que chegamos dessa leitura do projeto, é que reside o maior segredo: se os monstros (as criaturas titulares) e seus criadores (diretores/roteiristas), recebessem “autorização para serem quem verdadeiramente são” nas telonas, possivelmente atrairia mais do público. É isto. Falta a essência, falta mostrar primeiramente quem são esses monstros, e não como eles vão se reunir daqui há alguns anos em um grande crossover. Falta a paixão pelo horror no cinema.
Fique com uma galeria do Dark Universe de monstros: