Chega de Jumpscare! – A importância do Horror Contemporâneo!

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Chega de Jumpscare! – A importância do Horror Contemporâneo!

Por Gus Fiaux

Há poucos gêneros mais cheios de possibilidade e potencial que o horror. Se pararmos para analisar de uma forma mais histórica, esse é o tipo de filme mais lucrativo e comerciável de Hollywood. É um gênero que está presente desde os primórdios do cinema, e que alavancou movimentos fílmicos respeitáveis, como o Expressionismo Alemão ou até mesmo o Giallo Italiano.

E isso parte de uma noção bem simples, que é curiosamente adorada pelos fãs do gênero: o medo. O pavor é uma das emoções mais brutas da humanidade, e também é um espectro que nos permite explorar e refletir sobre os recantos mais sombrios de nossa alma. E é também o conduíte principal que move os filmes de terror, e os torna tão difundidos na cultura pop.

Exemplos como O Exorcista, Pânico, O Iluminado, Psicose, A Hora do Pesadelo e os Monstros da Universal estão aí para nos mostrar o potencial que o horror tem nas telonas, e como eles podem ter um teor de apreciação artística e técnica quanto qualquer blockbuster de ação ou filme cult que você só encontra em arthouses.

No entanto, o gênero passou por um período sombrio entre o final da década de 80 e os anos 2000, onde o capitalismo incessante do mercado cinematográfico tornou obras primas – como muitas das mencionadas no parágrafo acima – em franquias sem alma e sem cuidado. A cada vez que uma continuação de Sexta-Feira 13, Atividade Paranormal ou Jogos Mortais é anunciada, uma fada morre.

Por outro lado, nos últimos anos, estamos testemunhando uma espécie de renascença do horror nos cinemas. E isso se deve, em muito, ao cinema independente. Se pararmos para pensar nos últimos cinco anos, tivemos exemplos gritantes de filmes indie que logo ascenderam ao grande público devido à massificação de suas reações.

São longas como O Babadook, Corrente do Mal, Corra!, A Bruxa, Ao Cair da Noite e o recente Hereditário que vieram para mudar o status do cinema de horror, provando que o gênero ainda tem espaço para lançar clássicos tão imponentes quanto Regan MacNeil é capaz de lançar vômito verde em uma dupla de padres exorcistas.

Isso tem gerado uma série de discussões, seja nas redes sociais ou nos fóruns de cinéfilos, que acusam o surgimento de um novo movimento chamado de pós-terror. A ideia é que os filmes pertencentes a esse novo “subgênero” conseguem subverter as regras do horror, trazendo geralmente abordagens mais artísticas e com vieses sociais e políticos latentes. São filmes geralmente contemplativos, e que usam o horror para tecer alguma metáfora em relação ao mundo real.

O termo foi fincado por Steve Rose, um jornalista do portal britânico The Guardian, e logo foi rechaçado por cineastas e cinéfilos apreciadores do horror. O motivo é simples: a classificação desses filmes, que são considerados “terror sério”, menospreza a qualidade a inventividade que outros longas tiveram ao longo dos anos.

Você pode até odiar a quantidade absurda de jump scares, e preferir uma trama mais “cabeça”, mas não há como negar toda a importância cultural, financeira e técnica que filmes como A Bruxa de Blair ou até mesmo o primeiro Atividade Paranormal trouxeram para os cinemas. Desclassificá-los como “terror barato” é ignorar toda a carga que esses longas carregam, além de menosprezar seus méritos, que não são poucos.

Isso não significa que os filmes ditos como “pós-terror” não são bons. Pelo contrário. Em uma análise puramente pessoal, eu digo que A Bruxa, Hereditário e o infelizmente subestimado A Dark Song estão entre meus filmes favoritos da década, e quiçá figuram na minha lista de melhores filmes de horror de todos os tempos.

Por outro lado, é importante mencionar que esses filmes possuem um apelo diferente, que à primeira vista pode causar estranheza para o público que não está acostumado com filmes mais lentos e atmosféricos. Mas isso tanto é uma questão de gosto pessoal quanto de costume, já que a massa, até então, tinha muitos exemplos de filmes recheados de jump scares e medos banais – algo que essa nova tendência não está disposta a abraçar.

Além disso, na contemporaniedade, é extremamente difícil trazer classificações que não esbarrem em linhas turvas. Afinal de contas, é justamente por causa desses longas que estamos tendo um renascimento do horror em meio aos blockbusters mais bem sucedidos de Hollywood anualmente. E se você duvida disso, IT: A Coisa, Invocação do Mal e o perfeito Um Lugar Silencioso estão aqui batendo à sua porta.

O ponto principal é que, graças aos céus – ou aos infernos –, nós agora temos filmes de horror para todos os gostos, saindo em larga escala. Se antes era difícil se impressionar com a sobriedade de um filme como Os Outros em meio a tantas franquias descartáveis, agora temos a atmosfera sombria de Ao Cair da Noite ao mesmo tempo que podemos nos assustar com o clima passageiro da franquia Sobrenatural – mas isso não significa que um invalida o outro, ou é “artisticamente superior”.

Se você procura recomendações de longas, pode dar uma olhada em todos os mencionados ao longo do texto. Mas não sinta-se preso ao cinema de língua inglesa. Temos ótimos exemplos estrangeiros, como o persa Sob a Sombra, o espanhol Ninho de Musaranho, o austríaco Boa Noite, Mamãe, e até mesmo os nacionais As Boas Maneiras, Motorrad e O Nó do Diabo.

E se você procura alternativas ao modelo cinematográfico, também temos várias séries de TV que podem arrepiar sua espinha, como Channel Zero, Lore, Outcast e The Terror.

O horror contemporâneo está cheio de opções para quem quer ser assustado, e garanto que não é limitante ou, parafraseando outro filme de horror assustador, “grande demais para mentes pequenas”. Resta saber se você tem medo do escuro ou se vai mergulhar nos confins mais demoníacos de sua própria mente…

Abaixo, confira uma galeria com pôsteres de filmes que você deveria assistir agora mesmo:

Bons sonhos!