EVO: Das lutinhas de fliperama para a televisão!
EVO: Das lutinhas de fliperama para a televisão!
Sempre em busca do mais forte!
Quem passou a infância, ou pelo menos parte dela indo a botecos de esquina apenas para jogar nas máquinas de fliperamas que lá existiam, ou ainda indo às escassas, porém, prestigiadas casas de arcades em bairros distantes ou shopping centers; certamente já se perguntou como seria reunir os melhores jogadores de jogos de luta para se enfrentarem.
E se você era considerado o “bonzão” da vizinhança e entre seus amigos nesse tipo de game, deve ter sido ainda mais recorrente ouvir comentários como “você devia participar de campeonatos”. Por que afinal, eles sempre existiram. Seja um minitorneio entre amigos ou algo maior promovido em eventos grandes, os campeonatos de jogos de luta sempre “estiveram lá”.
Com o Evolution, o mais conhecido e acirrado campeonato de lutas internacional, não é diferente. Mais conhecido como EVO, esse torneio já existe desde 1996, mas se tornou mais conhecido, porém, apenas nos últimos oito anos, graças ao advento dos videogames sendo reconhecidos como uma profissão.
Os primórdios
No início, o EVO não era chamado exatamente assim. Em suas primeiras edições o torneio era conhecido como Battle by the Bay, e quem teve a ideia de inicia-lo foi Tom Cannon, o fundador do site Shoryuken – que como o nome bem sugere, é dedicado a jogos de luta. Em seu primeiro ano, o campeonato aconteceu em Sunnyvale, na Califórnia e contou com 40 participantes para apenas 2 jogos: Street Fighter II Turbo e Street Fighter Alpha 2.
Somente em 2002 é que o nome do campeonato foi alterado para Evolution, abreviado como EVO. Porém, só em 2004 é que a organização decidiu que agregaria consoles à competição também. Até então, as partidas aconteciam todas em máquinas de arcade, mais conhecidos por aqui como fliperamas.
Sendo uma competição anual, o EVO passou a crescer cada vez mais, acontecendo geralmente em julho ou no mais tardar no início de agosto, como foi o caso este ano. Por ser um torneio aberto, recebe competidores de todo o mundo (cada um arcando com seus próprios custos de passagem e hotel) e a cada ano que passa, vem registrando cada vez mais visitantes e participantes.
Como funciona o EVO?
Hoje em dia, o EVO seleciona 8 títulos principais para serem disputados por jogadores profissionais (ou não), e reserva pelo menos 3 dias em um hotel em Las Vegas, onde acontece a competição.
É preciso, portanto, comprar um ingresso para assistir as competições e/ou se registrar para participar dos campeonatos. Há ainda uma área BYOC (de Bring Your Own Console, ou traga o seu próprio console) onde inúmeros entusiastas organizam e jogam games de luta diferentes do que estão na seleção oficial – os chamados side tournaments, ou torneios alternativos.
Apesar de muitos jogadores hoje em dia serem patrocinados, os oito primeiros colocados dos oito torneios oficiais ganham prêmios. Esse prêmio consiste em uma taxa proporcional ao número de participantes.
Por exemplo, se 300 pessoas entrarem em um dos torneios, considerando que o valor da inscrição é de US$ 10, o total de prêmios para esse torneio será de US$ 3000 ($ 300 x 10). Assim sendo, o primeiro lugar receberá US$ 1800 (60% de US$ 3000), o segundo levará US$ 600 (20% de US$ 3000), e o terceiro ganhará US$ 300 (10% de US$ 3000), e assim sucessivamente. Existem casos, porém, que as desenvolvedoras dos games, como a Capcom ou a SNK, por exemplo, endossam os prêmios com cheques extras e gordos, aumentando ainda mais as fatias divididas no final entre os ganhadores.
Além disso, os torneios principais funcionam com um sistema de eliminação dupla. Na prática, isso significa que todos os jogadores só são eliminados se perderem duas partidas, seguidas ou não. Isso dá aos competidores uma segunda chance de se reerguer no ranking e fornece momentos incríveis de reviravoltas, sempre.
Coisa séria
A organização do EVO seleciona oito jogos oficiais para o campeonato. Geralmente os títulos precisam ser bem-conceituados entre a comunidade de jogos de luta (geralmente referenciada como FGC em fóruns e redes sociais), o que significa que ele precisa estar em alta basicamente.
Este ano, os selecionados foram Street Fighter V: Arcade Edition, BlazBlue Cross Tag Battle, Injustice 2, Guilty Gear Xrd: Revelator, Rev2, DragonBall FighterZ, Super Smash Bros. Melee, Super Smash Bros. (WiiU) e Tekken 7.
Como o EVO acontece em três dias, os dois primeiros são dedicados às eliminatórias iniciais e, dependendo do número de participantes que um dos jogos recebe, o torneio pode acabar já no primeiro dia de evento. No último dia o cenário muda, e as coisas ficam mais sérias.
O EVO já exibia todos os torneios em streamings ao vivo através do Twitch. Porém, desde a parceria com a ESPN, a EVO vem transmitido o último dia de evento na televisão – com direito a narradores profissionais de eSports e tudo mais.
Tudo isso porque os jogos de luta finalmente foram reconhecidos como esportes eletrônicos, então, nada mais justo do que fazer parecer e acontecer que o negócio escalou bastante, se tornando realmente algo mais sério de uns anos para cá.
Lendas internacionais
Os jogadores e narradores do cenário também são bastante apreciados desde os primórdios do EVO. Alex “CaliPower” Valle, Peter “Combofiend” Rosas e Justin Wong por exemplo, são alguns nomes conhecidos por representarem os Estados Unidos.
Existem ainda muitos outros de várias partes do mundo, incluindo o Brasil, que é muito bem representado com o Thomas “Brolynho” Proença, Renato “Didimokof” Martins e Keoma Pacheco. E quando se fala da terra do sol nascente, é quando as coisas ficam ainda mais interessantes.
Em uma matéria ao US Gamer, Combofiend inclusive comenta sobre os competidores japoneses, alegando que eles “sempre foram considerados os melhores”, e quando eles começaram a aparecer cada vez mais no EVO, ele sentiu “uma imensa pressão para vencê-los e representar os Estados Unidos”. O profissional ainda acrescenta que mesmo existindo rivalidades entre os países, esse não era o foco durante a EVO. É como se os lutadores estivessem resolvendo suas diferenças internacionais dentro do jogo.
Já Daigo “The Beast” Umehara diz que para um japonês viajar para um campeonato internacional em outro país é preciso muita coragem e dinheiro, e que quando o lutador consegue isso, é como viver um grande impacto na vida.
O responsável pelo icônico “Momento #37” da história da EVO, acrescenta: “O que mais nos atraiu foi, primeiramente, o prêmio em dinheiro”. Daigo comenta isso porque até pouco tempo atrás, algumas leis complicavam esse tipo de competição no país.
“Além disso, um grande número de participantes que nunca vimos antes estava em um torneio. Foi muito emocionante. Imediatamente nos deu a sensação de que seria um evento extraordinário e divertido. A maioria dos japoneses provavelmente pensou ‘eu vou ganhar deles’, dado que o nível de habilidade dos jogadores japoneses era muito maior em comparação com outras regiões da época”, ele comenta para a US Gamer.
E ele não mentiu. Os jogadores japoneses da comunidade de luta são muito bem apreciados e representados. O ex-funcionário da Capcom, Seth Killian, uma vez se referiu aos lutadores Sako, Tokido, Nuki, Haitani e o próprio Daigo como os “5 Deuses Japoneses dos Jogos de Luta”, e essa brincadeira realmente pegou. O quinteto ainda hoje é referenciado dessa forma, embora existam muitos outros competidores do circuito japonês tão bons quanto.
Há, inclusive, até mesmo jogadores que descendem de clã de ninjas, como é o caso de Yusuke Momochi. O campeão de Ultra Street Fighter IV em 2015 já afirmou livremente que sua família provém de um antigo clã de guerreiros das sombras – o que historiadores da região já confirmaram por sinal. Chique, eu diria.
Abaixo, você fica com uma galeria repleta de imagens de Dragon Ball FighterZ, um dos games de luta do momento e que estava no EVO desse ano.