Animais Fantásticos em terras tupiniquins?!
Animais Fantásticos em terras tupiniquins?!
Afinal, o que o Mundo Bruxo pode fazer no Brasil?
Na última semana, os fãs brasileiros do Mundo Bruxo entraram em polvorosa, tudo porque J.K. Rowling, a criadora da saga Harry Potter, sugeriu em seu Twitter que o próximo filme de Animais Fantásticos – que ela também roteiriza – pode se passar no Rio de Janeiro, na década de 30. Caso isso realmente aconteça, teremos o primeiro capítulo desta franquia situado em solo brasileiro.
Claro que não é a primeira vez que nosso país serve de cenário para uma grande franquia “importada”. Já tivemos um filme de Velozes & Furiosos situado aqui, e até o Universo Cinematográfico da Marvel já deu uma passadinha no Rio de Janeiro em O Incrível Hulk – embora a representação geográfica e étnica da cidade não tenha agradado muito – afinal, não é tão simples assim viajar para a floresta, tampouco falamos espanhol.
Contudo, o que é que o Mundo Bruxo tem a oferecer nesse contexto?
Para começar, precisamos lembrar que uma das mais famosas escolas de magia é situada no Brasil. Trata-se de Castelobruxo, que fica escondida em algum lugar misterioso da Floresta Amazônica. A escola foi revelada pela primeira vez em um artigo que a autora publicou no Pottermore, o site oficial da franquia.
Altamente inspirado pelas lendas da cidade mítica de El Dorado, o colégio é descrito como sendo uma imponente construção banhada em ouro, que aceita alunos de toda a América do Sul. É quase como se fosse um templo, dedicado às magias mais ligadas à natureza e ao ambiente, algo que é propício graças à floresta ao seu redor.
Ao longo de toda a saga Harry Potter, nunca tivemos uma menção nominal a Castelobruxo, mas foi citado que Gui Weasley, um dos irmãos de Rony, chegou a se interessar por um programa de intercâmbio, mas seus pais infelizmente não podiam pagar pela viagem. É dito, no artigo do Pottermore, que a escola possui programas e convênios com as escolas bruxas da Europa.
Situando isso na história de Animais Fantásticos, temos muita coisa interessante a analisar. Primeiro, vem o tema central desses filmes, que é o estudo das criaturas mágicas, do ponto de vista de Newt Scamander, um dos maiores magizoologistas – ou seja, bruxos que estudam criaturas mágicas – da história.
Para começar, temos uma série de elementos culturais que podem ser incorporados à franquia. Sabemos que J.K. Rowling gosta de brincar com o folclore mundial, e isso está extremamente presente nessa nova saga, já que somos apresentados a criaturas típicas de várias mitologias diferentes. Por exemplo, o primeiro filme nos apresentou o Pássaro do Trovão, um símbolo dos nativos americanos, enquanto o segundo vai mostrar o Zouwu, um felino do folclore chinês.
No Brasil, o que não falta é folclore a ser explorado. Sabemos que Castelobruxo conta com a proteção das Caiporas, mas também temos diversas criaturas que podem ser incorporadas à saga, como a Mula-Sem-Cabeça, o Curupira e até mesmo o clássico Saci Pererê. Dessa forma, nem é necessário que a história se emaranhe no meio da Floresta Amazônica. Dá para ter uma boa percepção de nossa mitologia mesmo do Rio de Janeiro.
(Mas é claro que gostaríamos de ver, nem que por breves segundos, as construções douradas de Castelobruxo.)
Considerando que o foco da vida de Newt Scamander é procurar animais mágicos, toda a trama do filme poderia partir da premissa de que ele veio ao Brasil para encontrar, estudar ou até mesmo devolver algum ser fantástico. No entanto, precisamos analisar também outro ponto de vista que Rowling está desenvolvendo a todo vapor na nova franquia: a política.
Embora o título Animais Fantásticos sugira a procura por criaturas mágicas, a autora já deu entrevistas falando que “não há animal mais fantástico que o ser humano” – ou melhor, “fera”, já que o título original é Fantastic Beasts, algo mais puxado para o lado feroz e bestial.
Assim sendo, não é de surpreender ninguém que a história, apesar de ser focada em Newt Scamander, também está pegando pela tangencial na ascensão de um dos bruxos mais perigosos de todos os tempos: Gerardo Grindelwald. Sabemos pouco ainda de seus planos e sua missão supremacista, mas sabemos de seu nível de poder.
Ele possui a Varinha das Varinhas, uma das três Relíquias da Morte, e está disposto a tudo para destruir quem se põe em seu caminho. Nos livros de Harry Potter, fica subentendido que seu reinado de caos no Mundo Bruxo teve muito a ver com a ascensão do nazifascismo na Alemanha e na Itália, de forma que ele tenha se beneficiado bastante com o banho de sangue que foi a Segunda Guerra Mundial.
Curiosamente, isso gera pano para manga a ser explorado no próximo capítulo da história. Ao trazer a história para o Brasil – na década de 30 –, Rowling também pode explorar um governo autoritário que teve simpatia com o fascismo: o Estado Novo de Getúlio Vargas.
Mesmo que não explore a fundo o governo, o filme pode mostras as bases de como Grindelwald pode ter mexido uns pauzinhos aqui e ali para instalar uma tensão crescente na política nacional. O longa provavelmente se passará na primeira metade da década de 30, então podemos reconhecer as bases do golpe de estado que se instalaria em 1937.
Precisamos lembrar que ainda teremos 3 filmes após Os Crimes de Grindelwald, e considerando que o segundo se passa em 1927 e o último em 1945, faz sentido que Rowling queira dar um “espaçamento” maior entre os filmes, então é pouco provável que mergulhemos profundamente na primeira Era Vargas.
Isso, obviamente, são apenas suposições. Mas, até o momento, a franquia está mostrando um grande crescimento, que pode acabar rendendo um clímax genial, no momento em que Dumbledore finalmente superar seus receios e enfrentar Grindelwald, conflito que deve acontecer apenas no último filme da saga.
Aliás, falando em Alvo Dumbledore, também seria bem fantástico ver alguns personagens já estabelecidos do Mundo Bruxo se deslocando para cá. O futuro diretor de Hogwarts seria indispensável, mas também poderíamos ver outros personagens estabelecidos em Animais Fantásticos, como Credence Barebone e até mesmo Nagini, antes de se tornar a temível serpente do Lorde Voldemort.
Mas é claro que só o futuro vai nos dizer. No entanto, fica a esperança de que o nosso país seja bem retratado aos olhos dessa franquia colossal. Já era hora do Brasil e dos fãs brasileiros serem reconhecidos pelo Mundo Bruxo, e em 2020, é possível que nos vejamos nos cinemas, transportados para um passado mágico e, ao mesmo tempo, assustador.
Na galeria abaixo, fique com imagens de Os Crimes de Grindelwald, próximo filme da franquia: