Quem é o “Sr. Quarta-Feira” de Deuses Americanos?
Quem é o “Sr. Quarta-Feira” de Deuses Americanos?
A primeira, mágica e insana temporada de Deuses Americanos chegou ao fim com uma explosão de raios e trovões!
Enfim tivemos a resposta sobre a identidade do Mr. Wednesday, mas você sabe realmente quem ele é?
Vamos direto ao ponto, com uma citação do livro de “Deuses Americanos“. Diferente da série, na obra o Deus não demorou muito para responder o Shadow.
Exatamente no capítulo 6, página 136 – da edição preferida do autor – Wednesday coloca:
“Eu falei que lhe diria meus nomes. É assim que me chamam. Alegria da Guerra, Sombrio, Saqueador e Terceiro. Eu sou o Caolho. Sou chamado de O Mais Alto e de Adivinho. Sou Grímnir e o Encapuzado. Sou o Pai de Todos e sou Gondlir, Portador da Varinha. Meus nomes são tantos quanto os ventos, meus títulos são tantos quanto as formas de morrer. Meus corvos são Hugin e Munin: Pensamento e Memória; meus lobos são Freki e Geri; meu cavalo é o cadafalso”.
Sim, ele é o Odin.
O diálogo no livro é quase idêntico à fala da série, ainda que as situações sejam outras. De qualquer forma, Mr. Wednesday é Odin e ele mesmo vem dando pistas sobre isso desde o começo da história – seja o olho de vidro, os corvos, as tempestades ou a ideia da Quarta-Feira ser o dia dele.
Que tal esclarecermos algumas coisas?
Primeiro, sobre a quarta-feira. Em português não faz sentido, mas o inglês, “Wednesday”, tem um significado muito específico.
Diferente de Saturday (sábado), Sunday (domingo) e Monday (segunda), que vêm do anglo-saxão e significam, respectivamente, “Dia de Saturno”, “Dia do Sol” e “Dia da Lua”, Tuesday (terça), Wednesday (quarta), Thursday (quinta) e Friday (sexta) são homenagens a Deuses da mitologia nórdica.
No caso, “Wednesday” vem de “Wõdnesdaeg” ou “Wodan’s Day”, literalmente “Dia de Odin”. Assim, desde o começo da trama, ele já havia revelado sua identidade. Inclusive, ele faz uma brincadeira com “Thursday”, quinta-feira, que, seguindo o mesmo princípio, é o “Dia de Thor“. “Tuesday”, terça-feira, é o “Dia de Tyr“, o patrono da Justiça, precursor de Odin, e “Friday”, sexta-feira, é o Dia de Frigga, deusa da fertilidade e do amor, esposa de Odin.
Com isso explicado, precisa ficar claro que a identidade de Mr. Wednesday é fundamental para a história de Deuses Americanos.
Tem muita mitologia nórdica pela frente ainda, então é bom fica preparado. Neil Gaiman, autor do livro e produtor da série, não é nem um pouco estranho aos nórdicos, quando trabalhou várias vezes com esses mitos em suas obras. Odin, Thor e Loki, por exemplo, estão presentes em “The Sandman”, sua produção mais conhecida. Gaiman também tem um livro específico sobre o assunto: “Mitologia Nórdica”.
Mas a questão principal aqui, além da identidade do Wednesday, é outra: ele realmente é o Odin? Sim e não. Calma, tem uma explicação – um tantinho complicada, mas tem.
Assim como o caso de Jesus, na série e no livro, que é colocado como um exemplo de divindade plural, Odin também se encaixa nesse quesito. Veja bem, cada cultura tem uma concepção diferente de uma determinada entidade, assim, na mitologia de Deuses Americanos, todas essas faces dos Deuses existem – enquanto existir alguém que acredite nelas. Esse é o porquê do Jesus Mexicano ou do Jesus Asiático, que foram mostrados na série.
No caso da narrativa de Shadow, nós conhecemos realmente apenas Deuses Americanos. Um ponto que muita gente não entende é que grande parte do livro e da série tem que ser levada de forma literal – incluindo o título. Essas são crenças que chegaram à América de todas as partes do mundo, como visto no caso da Essie com o Mad Sweeney. Por isso Wednesday diz, no primeiro capítulo, que nunca saiu do país. Isso é real, porque ele pertence àquela terra, mesmo que não seja natural dali.
Todos os outros Deuses da história seguem essa mesma linha. O Anubis que você viu ali não é o “Anubis original”. O mesmo vale para Thot, Ostara, Bilquis, Anansi e qualquer outro que venha a aparecer.
Essas passagens são chamadas “Vinda à América” por esse motivo. Todos chegam ao continente através de sacrifício ou pela fé de alguém da terra original. Assim, ao mesmo tempo que sim, esse é o Odin, ele não é o MESMO Odin das lendas.
Na verdade, a trama deixa explícito que os Deuses se transformam conforme a crença neles muda. Esse é o porquê do Odin ter tantos nomes e Mad Sweeney passar por tantas fases, “já fui um rei, um pássaro e um duende em uma caixa de cereal”.
É importante lembrar que sim, essas são divindades, alimentadas por crença, sacrifícios e orações, mas são entidades específicas do local onde elas vivem. Você pode imaginar isso como aquela ideia de trindade do Cristianismo: três que são um. Existem várias formas para um Deus, todas elas são verdadeiras, mas, ao mesmo tempo, distintas.
Vale notar que esse também não é um conceito novo para Gaiman. Em “The Sandman”, o protagonista, que é a personificação do Sonho, possui várias formas, várias identidades que, mesmo diferentes, ainda são o Sonho. São espectros da mesma entidade que não precisam, necessariamente, conversar entre si.
Confuso? Bastante. Mas fantástico, não? As possibilidades são infinitas quando se segue por esse caminho. Por isso, a declaração de Shadow ao final da primeira temporada de Deuses Americanos é importante: Agora ele acredita em tudo. Nós devíamos seguir o exemplo, para contemplar de maneira plena essa história.
Confira nossa galeria com imagens de Deuses Americanos: