A E3 como conhecemos está perto de acabar!
A E3 como conhecemos está perto de acabar!
O desempenho da feira na edição de 2017 pode ser um grande sintoma do que o futuro reserva para a E3.
›O NASCIMENTO DE UMA LENDA
Eletronic Entertainment Expo, conhecida pelos mais íntimos como E3. A exposição é o primeiro evento do mundo para jogos de computador, consoles, dispositivos móveis e existe desde 1995 onde aconteceu na Los Angeles Convention Center entre 11 e 13 de Maio daquele ano.
Mesmo sendo uma primeira edição, o evento trouxe mais de 50.000 visitantes. É notório que em 1995, na primeira edição da feira, nós já tivemos a presença de gigantes da indústria de games como Nintendo trazendo Donkey Kong Country 2: Diddy’s Kong Quest, EarthBound, e Killer Instinct, Sega apresentando o seu novo console, Sega Saturn, para o mercado ocidental e a Sony anunciando o seu futuro console, o Playstation!
Ao longo destes 22 anos de E3, nós vimos a convenção se transformar em um dos maiores monstros desta indústria, responsável por exaltar jogos e consoles assim como também era responsável por acabar com grandes empresas do ramo. A feira cresceu tanto que depois de 2007 ele resolveu que não seria mais aberto ao público geral focando-se principalmente em jornalistas e profissionais da área.
Para méritos de informação, a edição de 2016 da feira exibiu mais de 2300 produtos diferentes. Teve a presença de 50.300 profissionais da área incluindo analistas, jornalista, entusiastas e produtores. Mais de 840.000 espectadores simultâneos pela Twitch e um total de mais de 42 milhões ao longo da feira. Não há duvida alguma, a E3 é uma gigante, um ícone para a história dos games.
Mas e se essa gigante está para “morrer”?
› O NOVO CENÁRIO DA INDÚSTRIA DE GAMES
Obviamente hoje nós não temos mais o mesmo ecossistema da indústria como tínhamos em 1995. Afinal de contas, naquela época videogames ainda eram vistos como “brinquedos“, ou então como “coisa de criança” e hoje como nós bem sabemos, este cenário mudou.
Games se tornaram uma poderosa vertente de mercado, os consumidores cresceram se transformando em um mercado consumidor altamente ativo, e as tecnologias que se desenvolveram em uma velocidade absurda, permitiram que a indústria de games chegasse em um patamar hoje comparável à indústria cinematográfica, garantindo aos jogos um status de ferramenta de entretenimento, independente de regionalidade, idade ou gênero.
Esse novo cenário garantiu que a E3 também mudasse, cada vez mais as conferências foram se tornando um grande espetáculo onde as empresas subiam nos palcos com um único intuito, nos impressionar. Como eu já mencionei anteriormente, os números da E3 são impressionantes, milhões de pessoas assistindo as conferências de grandes empresas do ramo, ávidos pelas novidades para vibrar com cada uma delas, decidir qual console comprar, separar o dinheiro para os lançamentos daquele ano e, por isso, as empresas precisavam cada vez mais elevar o nível.
Com isso a E3 acabou se tornando uma espécie guerra pela nossa atenção e começou a famosa aposta anual de “Quem venceu a E3 deste ano?”. Mas se ilude aquele que pensa que as empresas incentivam ou sequer se beneficiam desta guerra. Entendam de uma vez, a “guerra de consoles” não é benéfica para a indústria nem para as empresas, nenhuma das empresas quer sequer arriscar estar na situação de quem “perdeu” a E3, e a empresa que fomenta uma competição está aberta à possibilidade de perder.
Mas por que eu estou te contando isso tudo? O que isso tem a ver com um suposto “fim” da E3? Eu precisava que você entendesse o tamanho e a importância da feira, e que entendesse também como o atual cenário da indústria de games está inflado, inflamável e instável. Com isso em mente, vamos entender o porquê a E3 está com problemas.
›A QUEDA…
A E3 2017 foi de longe a mais fraca que tivemos em anos. Repleta de anúncios pouco impactantes e de reciclagens de anúncios do ano passado – como por exemplo a conferência da Sony em que 70% do que foi anunciado esse ano também foi anunciado ano passado – a feira passou por uma semana bastante morna em comparação ao que estamos acostumados da semana pós E3.
Isso pode ser um grande sintoma do que está por vir, e eu vos digo, o futuro é nebuloso para a E3. Por que as conferências foram tão mornas este ano? Falta de criatividade? De competência? Nada disso. Os motivos são muito mais estratégicos e mercadológicos do que isso. Da maneira mais direta que eu posso dizer, as empresas estão ficando cansadas da E3.
Veja bem, o modelo de exibição da E3 não é mais tão favorável para as empresas como era antigamente. Lembra quando eu disse que a feira se transformou numa guerra pela nossa atenção, onde cada vez mais o nível precisava subir? Agora se ponha no lugar de uma dessas empresas, como a Sony por exemplo, que precisa pagar um preço exorbitante para comprar o tempo de conferência da E3, trazer suas grandes novidades em uma apresentação/espetáculo forjados, apresentando gameplays que em breve sofrerão downgrades, datas que sofrerão adiamentos, tudo isso dentro de um tempo curto e limitado, tentar adivinhar o que seus principais concorrentes como a Microsoft estão planejando para a conferência deles, e tentar competir com isso para que você não seja taxado como o “perdedor” da E3 e suas vendas despenquem no próximo ano por conta disso.
Resumindo, as empresas pagam muito caro, para estar em um lugar que não lhes é exclusivo para falar com um público ao mesmo tempo que seu concorrente, isso não é nem perto de ser favorável. E quais as consequências disso? Nós já estamos vendo algumas delas há algum tempo, mas este ano elas ficaram mais evidentes.
18 de Maio de 2017, faltando menos de um mês para o início da E3, a Bungie faz um evento exclusivo para o lançamento de Destiny 2, repleto de informações grandiosas e exclusivas que ficariam muito bem em uma conferência da E3, mas eles preferiram deixar para a feira apenas alguns detalhes adicionais para “não passar em branco”.
06 de Junho de 2017, uma semana antes da E3, a Nintendo anuncia um dia antes que irá fazer uma transmissão via Nintendo Direct para anunciar grandes novidades para Pokémon e realmente anuncia Pokémon Ultra Sun & Moon, além do primeiro jogo da franquia para o Nintendo Switch. Vocês não acham que seria mais benéfico para a Nintendo, esperar apenas uma semana e anunciar isso em sua conferência da E3? A Nintendo não achou!
14 de Junho de 2017, após uma fraca conferência na E3, o presidente da Sony’s Worldwide Studios, Shuhei Yoshida, confirmou que a empresa “segurou o jogo”, se reteve, para guardar os melhores lançamentos para o fim do ano, provavelmente se referindo à Playstation Experience que irá acontecer nos dias 09 e 10 de Dezembro.
Percebe que as empresas estão preferindo cada vez mais fazer seus próprios eventos exclusivos, ao invés de disputar no tapa com os concorrentes pela nossa atenção? A E3 certamente já percebeu isso, e por conta deste fator, este ano já tivemos novamente um evento aberto para o público e conferências muito mais voltadas para as publishers do que para Sony, Microsoft e Nintendo. Nós tivemos uma conferência da Devolver (muito boa por sinal).
Mas então a E3 irá acabar? Claro que não! (E para não ser taxado de clickbait deixa eu explicar o título) O que provavelmente irá acontecer é que a E3 que nós conhecemos irá acabar, dando lugar à algo diferente, nem melhor e nem pior, dando lugar para uma feira completamente voltada para as desenvolvedoras, aqueles interessados em produzir para todas plataformas, um evento para o público, um evento para aqueles anúncios que não possuem tanta concorrência uns com os outros. O fim do “Quem venceu a E3?”
Enquanto isso, cada vez mais as grandes empresas se focarão em seus próprios eventos, Sony com a Playstation Experience, Nintendo com seus Nintendo Directs, em muito breve eu aposto que teremos algum evento exclusivo da Microsoft, e cada vez mais grandes lançamentos de jogos serão feitos aos moldes como foi feito o anúncio de Destiny 2. Com isso, cada vez menos anúncios dessas empresas veremos nos próximos anos da E3, tendo até a forte probabilidade que uma Sony da vida resolva dizer “Não E3, esse ano eu não irei, mas obrigado pelo convite.”. E como seria uma E3 sem Microsoft, sem Sony, sem Nintendo? Nem eu arrisco prever isso. Mas uma coisa é certa a E3 que vimos em 2015… 2016… Essa daí nunca mais veremos.
A E3 “morreu” pelas mãos do monstro que ela mesma criou.
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