Agentes da S.H.I.E.L.D.: 4.01-08 – Simpatia para o Diabo!
Agentes da S.H.I.E.L.D.: 4.01-08 – Simpatia para o Diabo!
Depois de três temporadas que vinham em uma progressão constante, reconquistando os fãs espantados por um início fraco, Agents of SHIELD chega finalmente em seu quarto ano, e é aqui que encontramos tramas retiradas diretamente das HQs, bem como a inserção de um anti-herói muito esperado nesse universo – ou ao menos, uma versão dele –, o Motorista Fantasma!
Quando retornou, no dia 20 de setembro de 2016, Agents of SHIELD se propunha a trazer algo um pouco mais sombrio e obscuro que as temporadas anteriores. As aventuras de Coulson e sua equipe agora estão sendo exibidas em um horário diferente nos Estados Unidos, um pouco mais tarde que as temporadas anteriores, o que contribui para uma trama um pouco mais adulta e violenta.
A temporada começou em ritmo frenético, direto onde a terceira parou. Daisy/Tremor agora era uma fugitiva da SHIELD, usando seus poderes contra os Acordos de Sokóvia. E em uma de suas missões clandestinas, ela se depara com uma lenda urbana que vinha ganhando espaço no submundo: o Motorista Fantasma, um ser superpoderoso que caçava violentamente os criminosos na cidade.
Enquanto isso, os agentes da SHIELD estavam em um momento delicado: Coulson, Mack e May montavam uma força-tarefa que se dividia entre a caça de super-seres que desobedeciam aos Acordos de Sokóvia (Daisy inclusa) e os problemas envolvendo os inumanos – que passaram a ser alvo de perseguição e preconceito, política e socialmente. Já Fitz e Simmons continuavam a ser a dupla da ciência, porém haviam se emaranhado nos planos do Dr. Radcliffe, que havia construído AIDA, a primeira Modelo de Vida Artifical da SHIELD, sem conhecimento do novo diretor, Jeffrey Mace.
Nesse meio-tempo, Daisy acaba conhecendo Robbie Reyes, o alter-ego do flamejante Motorista Fantasma, e os dois acabam se tornando parceiros de combate. Eles logo são encontrados pela SHIELD, e após alguns desentendimentos, passam a agir como aliados da organização. É aqui que descobrimos a origem do Motorista Fantasma, antes dele ser usado para resgatar seu tio, Eli Morrow, que havia sido “sequestrado” por fantasmas dispostos a por as mãos no Tomo Negro, um livro ancestral de intenso poder que corrompia a alma de quem o usasse.
Porém, uma vez que a trama dos fantasmas é resolvida – mas não antes que May tivesse passado por uma experiência de quase morte -, descobrimos que Eli é o verdadeiro vilão por trás de tudo, responsável pelo acidente que mudou a vida de Robbie e seu irmão mais novo, Gabe. E eis que começa a caçada pelo criminoso, resultando na expulsão de Robbie, Coulson e Fitz para outra dimensão, e seu consequente retorno, até a final derrota de Eli, com a ajuda de AIDA. Ao final, Daisy é convocada novamente para a SHIELD, Simmons descobre um Inumano misterioso ainda não revelado, Robbie e seu tio são sugados para outra dimensão e AIDA mostra sua verdadeira face, sequestrando a verdadeira May e colocando outro Modelo de Vida Artifical em seu lugar.
O que começou como uma temporada mais focada no lado místico do Universo Cinematográfico da Marvel retornou a um foco bem pessoal de seus personagens e as histórias onde eles são inseridos. Não demorou para que voltássemos a nos familiarizar com Daisy, Coulson, Fitz e Simmons e todos os outros agentes que já conhecemos há mais de três anos. Ao mesmo tempo, Robbie surge no horizonte como um personagem carismático e poderoso, trazendo o melhor do Motorista Fantasma à tona.
Aliás, é digna de nota a coragem da Marvel e da ABC ao adaptar justamente essa versão do personagem, que é menos conhecida e que possui uma história de origem bem diferente dos outros Motoqueiros Fantasmas nos quadrinhos. Aqui, a emissora teve o bom senso de alterar alguns detalhes na história de origem, inserindo até mesmo a figura de Johnny Blaze como um ponto crucial para a transformação de Robbie em um Espírito da Vingança.
E mais uma vez, a série faz o que sabe fazer de melhor desde sua segunda temporada: manipular múltiplas tramas que convergem em alguns pontos, de modo a construir uma narrativa variada que contempla todos os públicos. Embora o foco dessa primeira metade da temporada fosse o Motorista Fantasma e seu passado, a trama dos Inumanos continuou se desenvolvendo por baixo dos panos, criando uma boa ideia política a ser abordada nos próximos episódios. E mais do que isso, vimos a construção do conceito de MVA, que sempre foi muito importante nas histórias da SHIELD nos quadrinhos e deve ter um papel fundamental na temporada após o hiato de final de ano.
Contudo, alguns pontos baixos ainda merecem ser citados. Embora o Motorista Fantasma seja interessante e importante, o mesmo não pode-se dizer de seus vilões ao longo da temporada. Toda a trama envolvendo os fantasmas aconteceu de forma maçante e pouco inventiva, servindo apenas como um “dispositivo” para apresentar o Tomo Negro e a ameaça maior dessa primeira parte da temporada: Eli Morrow.
Eli, por sua vez, é o primeiro vilão raso de SHIELD em um bom tempo. O personagem tem uma motivação corriqueira demais, e mesmo após sua transformação, ele não apresenta nada cativante que faça os fãs se ligarem a ele. Além disso, sua derrota foi simplista demais para alguém que já tinha adquirido vastos poderes como ele.
O problema principal nisso tudo é que, por ter alguns episódios focados nas tramas dos fantasmas e de Eli, a primeira parte da temporada acabou perdendo a força em alguns momentos, embora nada tivesse comprometido a estrutura da série, que continua bem interessante, e agora, mais do que nunca, convidativa aos fãs de quadrinhos que queriam ver arcos sendo adaptados na série.
Nesse ponto, vale destacar os efeitos visuais, que passaram por uma melhora significativa desde a última temporada. Apesar de ainda não atingirem um efeito de credibilidade cinematográfico, eles estão muito mais orgânicos e ajudam a compor os personagens – e não apenas o Motorista Fantasma, mas também YoYo e Tremor.
De modo geral, a quarta temporada de SHIELD começou de maneira empolgante, e apesar de alguns obstáculos no caminho, conseguiu se manter mais presente em seus pontos altos do que nas turbulências. Ao introduzir o Motorista Fantasma, a série deu um passo corajoso, que só mostra o quanto ela evoluiu desde seu início em 2013. Infelizmente, a trama do personagem acabou em aberto, sem introduzir mais profundamente conceitos como o inferno e o diabo a quem ele se referiu ao longo da temporada. Mas isso foi compensado com uma variedade de outras tramas, que devem conseguir maior destaque na próxima parte da temporada.
Até agora, Agents of SHIELD está brilhantemente capaz de continuar sua progressão entre as séries de super-heróis do momento. Apesar de pouco comentada ou divulgada, devido à sua concorrência na televisão, a série continua se estabelecendo como um dos projetos mais corajosos e desbravadores do Universo Cinematográfico da Marvel. E agora, entramos em terreno puro dos quadrinhos, com MVAs tomando controle de tudo… e não podemos confiar em ninguém!