Nos últimos anos, quem acompanha cinema deve ter percebido que a Academia tem passado por uma grande reformulação em seu esquema de votação. A entrada de filmes como Mad Max: Estrada da Fúria em categorias principais impulsionou o interesse por filmes blockbuster e por outros longas aclamados pelo público.

Por esse motivo em especial, Mulher-Maravilha e Logan deveriam já ter seu espaço garantido. Além de chamarem a atenção do público, foram filmes extremamente elogiados pela crítica, com fortes elementos estéticos e narrativos, o que lhes renderia boas indicações ao menos nas categorias mais técnicas.

E ainda tocando nesse ponto sobre a aclamação do público e dos críticos, seria um desserviço ignorar a participação desses dois filmes em outras premiações que já aconteceram - principalmente as de voto popular, como o MTV Movie Awards e o Choice Awards, já que elas dividem bem uma avaliação técnica e um olhar do povo.

Lançados apenas esse ano, Logan e Mulher-Maravilha já foram indicados, respectivamente, a seis e treze prêmios. Enquanto o carcaju abocanhou dois troféus (em premiações diferentes), Diana Prince já foi além e já arrecadou seis prêmios (tanto pelo filme em si quanto pela campanha de marketing em cima dele).

Gal Gadot se provou uma ótima atriz para o papel da Mulher-Maravilha. Mesmo com um sotaque puxado - que poderia ser problema para alguns, mas foi facilmente contornado no longa -, a atriz soube desenvolver uma heroína amável, boa, cheia de vida e compaixão.

Enquanto isso, precisamos falar seriamente de Hugh Jackman e Patrick Stewart. Os dois embarcaram juntos em uma jornada há quase vinte anos, e desde então, participaram de boa parte dos filmes do Universo dos X-Men juntos. Em Logan, eles entregam a melhor performance de suas carreiras nesses papéis. Seria desumano negar uma indicação de Melhor Ator e Melhor Ator Coadjuvante a essa dupla.

Logan é uma das obras-primas da carreira de James Mangold, diretor famoso por filmes fenomenais como Johnny e June e Os Indomáveis, que já foram reconhecidos no Oscar. Infelizmente, no entanto, o cineasta sequer chegou a ser indicado por seu trabalho nesses longas. Com Logan, ele teria uma chance.

Já Patty Jenkins é uma diretora extremamente talentosa, que já conquistou o mundo com Monster: Desejo Assassino. Em Mulher-Maravilha, ela tomou um passo extremamente importante, se tornando a primeira mulher a dirigir um filme desse escopo e com um grande orçamento. Está na hora de Hollywood reconhecer a cineasta.

Ambos os filmes, apesar de capricharem em suas narrativas, têm um forte olho visual ainda mais proeminente. Tanto Mulher-Maravilha quanto Logan acertam em cheio em suas escolhas estéticas, seja no uso de computação gráfica, na fotografia ou em outros detalhes menores - que discutiremos no item a seguir.

Esses pequenos elementos - que foram fortemente elogiados pelos críticos e fãs - ajudam a inserir o público no filme, e são de fato dignos de nota. Cabe à Academia ao menos reconhecer o esforço empregado nesses filmes e trazer indicações às categorias mais técnicas, principalmente a de Melhor Fotografia.

Além disso, ambos os filmes são lados opostos de uma moeda. Enquanto Mulher-Maravilha faz a reconstrução de uma época pré-existente, Logan cria um cenário futurista totalmente novo. O capricho e a atenção dados ao figurino e à direção de arte contribui para uma ambientação tão fenomenal que merece ser premiada.

Ambos os filmes seriam concorrentes poderosos nas categorias de Melhor Design de Produção e Melhor Figurino. Além de tudo isso, Logan traz um trabalho fantástico no uso de maquiagem para envelhecimento dos atores, o que certamente lhe renderá uma indicação à categoria de Melhor Maquiagem e Penteado.

Lembrando que os dois filmes tem raízes - ainda que não tão fieis - nos quadrinhos, é interessante imaginar um futuro onde ambos poderiam ser indicados à categoria de Melhor Roteiro Adaptado. Isso porque, apesar de terem histórias bem "comuns" e "simples", os dois conseguem ser extremamente tocantes no que se propõem, traduzindo a essência dos personagens para as telas.

Ainda que Mulher-Maravilha tenha um tropeço no terceiro ato, o filme constrói a heroína de uma forma espetacular a partir do seu roteiro. O mesmo pode ser dito de Logan, onde a ação está inserida de forma mais contida para dar destaque a um desenvolvimento de personagens que ainda não foi visto em outro filme de super-heróis do mesmo porte.

Passando para um momento "polêmico", vale lembrar que - apesar das constantes mudanças - a Academia ainda tem um forte preconceito com blockbusters e filmes de ação, ainda mais os inseridos no "gênero" dos super-heróis. Entretanto, tanto Logan quanto Mulher-Maravilha conseguem ir além desse rótulo.

Enquanto Logan pode ser lido como um faroeste moderno, com pitadas de drama e ação, Mulher-Maravilha é uma aventura universal, com aspectos evidentes de filmes de época e guerra. Mas mais do que tudo isso, ambos os filmes são, em sua essência, filmes sobre a humanidade e o papel de um herói entre as pessoas comuns, seja em um aspecto intimista ou global.

E por mais que esses filmes passem dessas amarras, ainda assim são grandes exemplares do "gênero" dos super-heróis. Indicá-los à premiação, principalmente nas categorias centrais, como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Ator/Atriz daria um reconhecimento necessário ao "gênero", que tem crescido bastante na última década.

Além disso, seria um passo à frente para a história da Academia, que está muito marcada por apenas indicar filmes que pertencem a nichos muito exclusivistas, sem deixar espaço para outras expressões cinematográficas mais populares.

Por fim, é importante falar da importância cultural desses dois filmes. Logan é o segundo filme de super-heróis "para adultos" a ganhar tanta notoriedade do público - logo após o imediato sucesso de Deadpool. Isso sem dúvidas impulsionará a indústria em busca de filmes cada vez mais ousados e variados.

Já Mulher-Maravilha tem todo um papel social. É um filme protagonizado por uma heroína e dirigido por outra, calando a boca de quem achava que mulher não podia fazer ou protagonizar um blockbuster de ação, quiçá de super-heróis. Uma indicação ao Oscar serviria para reforçar ainda mais esses valores e concretizar a importância desses dois longas.